Capítulo 02

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Josephine

Sábado bem cedinho e já estou de pé, pronta para o batente. Nada de reuniões com clientes engomadinhos, é dia de pôr a mão na terra. Empolgada, visto meu uniforme básico: macacão jeans velho e largo, uma regatinha branca, porque está calor, tênis surrados e o chapéu de panamá que era do meu pai. Carrego na dose de protetor, não existe nenhuma possibilidade de ficar embaixo deste sol de verão sem proteção. Simplesmente torraria e minhas sardas ganhariam companhia.

Desço a escada lateral do apartamento. A esta da hora da manhã, o Vincenzo ainda está fechado, mas já escuto o bate panelas vindo da cozinha, o que indica que a preparação

do almoço está a todo o vapor. Passo rapidamente pelo jardim e saio pela lateral do prédio. Morando sozinha e com um orçamento apertado, a melhor opção é tomar o café na rua. Atravesso a alameda silenciosa e vou em direção ao Café Bar Estrela.

Um lugar charmoso e aconchegante que pertence às filhas de Vincenzo, Estrela e Jasmim. Elas são legais, animadas, loucas e têm me ajudado muito neste período de adaptação. Arrisco dizer que já viramos amigas. Gosto disso, não tinha muitos amigos em Curitiba. Não por opção, amo as pessoas, rir e conversar, mas com o Bernardo isto era simplesmente impossível, mesmo depois da separação. Era ele me ver papear com alguém e começar uma cena. Meu único refúgio foi a universidade, isto é, até meu ex começar a dar umas incertas por lá também.

Se querem um conselho meninas...

Nada de querer se envolver tão novinhas com alguém. Namorem, divirtam-se e aproveitem a vida. Conheçam bem o cara antes de se jogar de cabeça. Deus nos livre de ir assumindo um compromisso com a primeira promessa de príncipe que aparecer. Desconfiem da perfeição, pode ser só um sapo disfarçado. Iludi-me completamente por Bernardo. Na verdade, era muito ingênua e aos dezoito anos, mal tinha dado uns beijos na boca.

Aí, reaparece um Bernardo Fontes na minha frente. Loiro, alto, lindo e musculoso.

Irmão de uma amiga de infância, paixonite antiga de menina . Dez anos mais velho que eu, todo galante e de fala envolvente... Recém-chegado de Nova Iorque e aparentemente louco por mim. Estava feita a desgraceira... Cai feito patinho e por muito tempo, acreditei estar realmente apaixonada. Acho até que o amei...

Ou não.

Sei lá... Já não sei mais como definir aquele sentimento.

Nosso primeiro ano juntos foi um sonho e ele foi meu primeiro quase tudo. Minha primeira paixão, meu primeiro namorado, amante e meu pior algoz. O único e último homem que eu deixei me tratar como nada.

Ding dong...

O sensor na porta avisa que estou entrando no café.

— Bom dia! — sorrio e cumprimento a todos sem me fixar em alguém. Vou direto para o balcão e vejo uma cabeça morena submergir como um submarino. — É você! Ai, graças a Deus!

Uma muito agitada Jasmim olha para os clientes e faz sinal para que eu venha para trás do balcão. Vou guiada pelo aroma delicioso do café fresquinho, que brota de uma das máquinas expresso. Estranho a presença dela, pois este é o turno de sua irmã mais velha, Estrela. A caçula de Vincenzo sempre assume à noite, quando o lugar já se transformou em

barzinho.

— Que cara de desespero é essa? Quedê a Estrela, Guria?

Jasmim revira os olhos, alcança uma pilha de xícaras e apoia o quadril no balcão. — Os dentinhos da Luar estão nascendo, a pobrezinha passou a madrugada toda chorando. Daí a Estrela me pediu para abrir. — coloca os cafés recém tirados na bandeja indo entregar em uma mesa perto da janela. Volta fazendo careta e entendo seu drama. A coitada está com uma cara péssima, provavelmente, mal teve tempo de pregar os olhos. Ela tem olheiras e seus longos cabelos encaracolados estão em um bagunçado coque, preso por uma caneta.

Um Amor de CEO - HerophineOnde histórias criam vida. Descubra agora