Capítulo 61

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Hero

Mike para em frente à casa de Josephine, eu desço e ele segue para o Olimpo. Chuto uma pedra que está no caminho, digito a senha do alarme e abro o velho portão lateral que range dando passagem.

Ansioso, subo os degraus de dois em dois até chegar na varanda, mas paro na porta. Pressiono a testa na madeira fria, aperto o alto do nariz e começo a contar até mil.

Não quero descarregar em Josephine, toda a minha irritação. Inspiro, e expiro e em silêncio, enquanto disseco as lembranças desse dia de horrores.

Thenka descobriu que estou na casa da Caipira, teve um ataque de raiva, negou-se a voltar para a clínica, mas jurou que vai seguir o tratamento se morar no meu apartamento... Comigo... Soltei uma gargalhada para a surpresa de todos na sala.

 — Nem pensar...

— Mas não é justo, era o nosso plano?!

— O seu plano, Thenka! Precisa parar de viver através de mim e seguir em frente. Somos gêmeos, não um só.

— Querida, o seu irmão tem razão. Eu sei que adora a sua coleguinha, mas o Hero é um homem adulto, o coração dele quis assim.

Coleguinha?

— Mãe, ela tem trinta e dois, cacete! Está mais do que na hora de agir como mulher.

É impressionante, Josephine é sete anos mais nova e milhares de anos luz mais madura que minha irmã.

— Filho, olha o jeito que fala com a sua mãe!

— Sinto muito.

O velho George é um homem apaixonado. Não permite que ninguém erga a voz para a dona Martha.

— Tão vendo! Por que não posso ficar na cobertura? Sempre me deixaram fazer o que eu quisesse! As coisas dele são melhores. Mas que droga! É culpa desta Josephine! Ela fez o Hero se afastar.

— Deixe a Josephine fora disso! Você me fez correr para longe, não ela.

— Pai, mas eu quero!

— Filho, melhor deixar sua irmã ter o que pede... Se ela quer passar um tempo na cobertura, deixe.

Naquele ponto da briga, quis beijar meu pai... Olhei para seu rosto cansado e entendi sua jogada diplomática.

O velho George é um homem astuto. É verdade que muitas vezes, exige e espera o melhor de mim, mas é justo e sempre fomos amigos. Sei que ama a minha irmã, mas ama muito mais o fato de ver seu filho finalmente, tão comprometido e apaixonado quanto ele.

Antes de Thenka chegar, passei bons momentos conversando com meus pais sobre meus planos para o futuro. Então, naquela hora de impasse, quando apenas abaixei a cabeça e assenti, nós dois já sabíamos sobre a minha intenção de nunca mais desgrudar da Caipira.

— Ok, fique com meu apartamento. Sabe que eu te amo, mas não me obrigue a escolher. A Josephine não é um passatempo e vem em primeiro lugar.

— Mãe!

— Querida, ninguém manda no coração... Aceite, seu irmão ama a Josephine, quer começar a família deles e estamos felizes com isso. Por que não segue o exemplo e se abre para outras pessoas? Precisa sair desse mundinho, crescer e entender que a vida segue, não pode mais viver grudada nele.

— Ah! Faça o favor, mãe! Eu sou a família dele. Será que não enxergam? Faço tudo por ele, é a minha metade, caramba! Quando veio com esse papo de assentar eu dei-lhe a Khadijha! É minha melhor amiga, prometeu nunca o tirar de mim, sei que somos as únicas pessoas capazes de fazê-lo feliz. Mas ele tinha que estragar tudo, é o rei dos galinhas e não consegue controlar o próprio pinto. Esta empregadinha é só mais um passatempo, sim. O Hero nem sabe o que é o amor.

— Fui mulherengo, mas acabou! E o fato de eu ser solteiro, não quer dizer que não saiba sobre o amor. Se não aconteceu antes, foi porque que não é um sentimento que nasce por qualquer uma, Thenka! Só com a Josephine e sempre será por ela! Conforme-se.

— Não.

Choro, gritos, vasos voando em minha direção...

Senti uma vergonha alheia pela minha irmã. Ela deu seu máximo no papel de vítima, só que desta vez foi diferente, consegui enxergar o teatro e a falta de lágrimas. E graças a Josephine, eu me libertei da prisão emocional chamada Thenka.

A conversa que tive com a Caipira ontem, abraçados na cama antes de dormir, abriu meus olhos e dissipou a fumaça dos incêndios emocionais provocados por minha irmã. Insisti que Josephine falasse mais sobre sua vida e quando entendi suas decisões, senti  suas dores e me vi em seu lugar, foi que finalmente compreendi o que Thina e Shane tentam me dizer há anos.

Relações abusivas só acontecem se deixarmos. Seja por amor, gratidão ou culpa, não interessa... É doentio... Não é bom para quem faz e nem para quem permite. E por mais que doa, é preciso pôr um fim. 

Respirar.

Dizer um: Já chega para pessoas que amamos, mas que são incapazes de criar laços afetivos reais conosco. Há anos, minha irmã joga nas minhas costas a responsabilidade obsessiva de sua felicidade, sucesso ou fracasso. Cresci, com ela manipulando a todos, de forma puramente egoísta, apenas para alimentar a culpa e nos manter reféns de suas vontades.

Como a Josephine falou... — Meu Anjo, a coisa mais difícil que já fiz, foi dizer aquele não para a minha mãe em Curitiba. Não virei as costas, nunca vou deixar de amá-la e sempre vou estar aqui, quando realmente precisar. E, espero que um dia, Eva entenda que só fiz aquilo, porque era o certo, uma questão de amor próprio. Quebrar aquele círculo vicioso foi difícil e doloroso, mas necessário.

Então fiz o mesmo e foi... libertador.

— Estou indo para casa ver a minha mulher, depois o Mike passa no apartamento e pega o resto das coisas. 

Desgrudo a testa da porta e respiro fundo... E enquanto pesco as chaves no bolso, sinto por mim, por Thenka e por meus pais... Eles sabem que é errado, mas estão tão condicionados a fazer as vontades da minha irmã, que não vão mudar. Ela bate o pé, eles dão... E no fundo, eu também estava acostumado a ceder em troca de paz... Só que agora, o preço é alto demais...

— Josephine!

Entro e grito para um apartamento vazio e escuro. Percorro tudo em segundos e começo a me preocupar. E se ela ficou braba e me deixou? Só relaxo um pouco, quando faço a respiração que Josephine ensinou e cai a ficha de que ninguém abandona o próprio apartamento deixando tudo nele, seria mais fácil me expulsar e como não encontrei minhas malas na porta...

Droga!

Estava tão focado em fazer tudo rápido e voltar para Josephine, que esqueci de avisar que estava focado e fazendo tudo rápido para voltar para ela. Se bem que, não teria como explicar o último itinerário do meu dia. Estragaria completamente a minha surpresa. Sai correndo da casa dos meus pais para encontrar uns fornecedores. Não poderia entrar em detalhes sobre isso.

Checo novamente as mensagens e nenhuma depois do: Família em primeiro lugar, fique tranquilo, estou aqui te esperando.

Ligo e seu celular vibra no aparador.

A um passo de perder a paciência, encontro um bilhete em cima do balcão da cozinha.

Estou no Café Estrela.

Beijos.

Um Amor de CEO - HerophineOnde histórias criam vida. Descubra agora