Josephine
Não olhe para ele. Não olhe para ele.
Tarde demais.
Espio e o Senhor Fiennes está de pé ao lado de Shane, inclinado sobre a mesa discutindo os detalhes finais do projeto que criamos juntos. Me perco admirando seu belo traseiro.
Lá se foram dois meses torturantes, divididos entre as dezenas de visitas técnicas agendadas por Camila, convites para almoços recusados, horas extras de planejamento e noites mal dormidas. Esfrego os olhos tentando afastar a exaustão.
Se a Fiennes fosse uma fábrica haveria um daqueles cartazes... “Estamos há 60 dias sem acidentes”... Ou brigas no nosso caso. Pois é, algumas coisinhas mudaram, outras nem
tanto e algumas pioraram.Tenho tido que rebolar para me esquivar das perguntas desconfiadas de Camila.
Seu ódio por mim chega a ser palpável e não me ajuda em nada, o fato dela ter tido todas as
suas audiências com o Hero canceladas. Sem falar, nos boatos de que estamos trabalhando
em algo confidencial e no clima de caça às Bruxas que se instaurou, assim que, Hero começou a dar umas incertas nos departamentos e fazer uma limpeza cirúrgica em seu quadro de funcionários e fornecedores.Todos os projetos foram revistos e além do superfaturamento, descobrimos que materiais de qualidade inferior estavam sendo entregues nas obras embalados como de primeira linha.
Os responsáveis já foram demitidos.
E Camila? Ah, ela continua mais limpa que água sanitária. Nem uma mísera linha que a ligue a tudo isto. Revirei centenas de projetos e só encontrei 1.200 centavos de diferença nos custos, que podem muito bem, ter sido uma falha de arredondamento do sistema. E eu? Sou apontada como a mais nova amante do chefão e a dedo duro da empresa.
Confesso que não é muito legal ouvir os risinhos e indiretas nos elevadores. As pessoas podem ser muito maldosas quando ameaçadas.
Carambolas! Onde fui me meter?
Suspiro resignada... Eu sabia dos riscos e nada me obriga a estar aqui, posso pular fora quando quiser, mas eu não quero. Meus hormônios rebeldes andam gritando aos quatro ventos que estamos amando, sim, cada segundo. E estamos. A coisa toda já está tão impregnada na minha pele, que não consigo me ver em outro lugar a não ser aqui... Perto dele, vivendo em um eterno suplício.
Estou muito ferrada. Eu sei... Sou uma porcaria de mulher.
Não resisto, me inclino sutilmente na cadeira e volto a observá-lo de soslaio.
Aperto minhas coxas e suspiro. Deus, o homem é muito gostoso... E eu, uma louca, só pode
ser.Como está delicioso sem o paletó, só com uma camisa branca ajustada ao corpo delineando os músculos. Gosto da gravata azul, levemente afrouxada. Reparo no rosto compenetrado, atento as explicações de Shane. Tadinho. Também parece cansado e seu cabelo escuro está um pouco bagunçado. Selvagem. Coça a barba e volta a apoiar os punhos fechados sobre a mesa. Suspiro baixinho admirando as mangas da camisa arregaçadas, expondo as veias de seus antebraços que saltam. Jesus. Seus braços fortes parecem dois troncos que brotam do tampo de madeira maciça.
Que vergonha!
Tenho reparado demais nos recursos naturais masculinos dele.
Esforço-me como uma desesperada para ignorá-lo. Eu juro! Mas, não consigo...
Tenho jogado tantos olhares disfarçados em sua direção, que me sinto uma pervertida indecente. Espiá-lo virou minha pequena obsessão. Sou capaz de mapear de cor e salteado, o corpo deste homem... Detalhe por detalhe, com destaque para a sua virilha que a cada dia fica mais atraente.
Deus como eu me odeio por isto!
Sou uma fraca!
Deveria alimentar a minha raiva, não desenvolver uma admiração secreta. O que é
péssimo! Droga! Perco o ar toda vez que ele se aproxima. Quando sinto seu perfume, tenho
vontade de afundar meu rosto em seu pescoço e inalar profundamente. Se ouço a sua voz,
estremeço. Se nossos braços se esbarram sem querer, arrepio. Se os olhares se cruzam,
desvio sentindo meu rosto arder.A dura verdade é que vivo de momentos furtivos e isto me enlouquece. O homem domina cada pensamento meu, dia e noite. Que roubada! Sacudo minha cabeça e me forço a olhar para o outro lado. Encontro Nati sorrindo.
— O que foi? — faço uma careta e mordo o lápis com força, depositando nele toda a minha frustração.
— Nada. — pisca de modo cúmplice.
Reviro os olhos e a ignoro. Nati acha que temos tesão um no outro. Absurdo! As nossas horas de almoço são recheadas por suas teorias sobre negação. Ela é o que agora?
Psicóloga? Venho negando cada uma de suas maluquices conspiratórias veementemente.
Ajeito-me na cadeira e checo os desenhos finais dos jardins de entrada do Shopping. Meu pensamento voa.
Não sei o que Shane e Hero conversaram depois do incidente das rosas. Mas, algo mudou, ele mudou... E sim, eu o chamo pelo nome agora. Não fazia sentido continuar com o Senhor Fiennes quando todos se tratam de maneira informal. Cedi para mostrar minha indiferença e superioridade.
Indiferença que tem sido recíproca, por sinal. Hero se mantem distante desde aquela manhã das rosas. Trata-me com educação e polidez, gentil até, o que só me faz ficar mais confusa. Todas às vezes que trocamos palavras ele é amistoso e profissional, parece outra pessoa. Nada de seu temperamento explosivo ou olhos faiscando. O homem simplesmente congelou.
Eu deveria estar feliz com isto, mas não estou. Sua indiferença me incomoda, então revido com mais indiferença ainda.
Infantil?
Pode ser, mas dane-se!
— Josephine, o que achou das mudanças? — Shane questiona.
Uh, o quê? O que achei da mudança? Uma merda... Quero o antigo Hero de volta.
— Perfeita, criar aquele espaço aberto para eventos e convenções, foi genial. — opino.
— Então acho que fechamos aqui! Mais algum detalhe que queira incluir, Campeão?
— Estou satisfeito. Preciso ir. — responde sem empolgação. — Nati feche tudo com a Josephine, veja com Alberto se as planilhas com os orçamentos da obra estão prontas.
Quero a apresentação nas mãos do Donavan na segunda, primeira hora. Vou ligar pessoalmente para ele. Temos que agendar a reunião o quanto antes.
Meu peito aperta quando minha intuição grita que o “preciso ir” significa mulher. O odeio por ser tão discreto, todo esse tempo convivendo juntos e ele não fez nenhum comentário sobre sua vida pessoal. A única coisa que consegui foi um “estou solto” antes de notarem minha presença na copa. O que é péssimo, homens soltos costumam liberar e muito, certas partes de sua anatomia.
Não que isso seja da minha conta... Meleca!
— Deixa comigo, Hero. O Alberto já me entregou os orçamentos. — Nati levanta e começa a organizar tudo.
— Josephine, obrigado. — dirige-se a mim, mas não me encara. — Seu trabalho foi impecável, fique disponível, ok? Provavelmente, Donavan solicite um maior detalhamento ou até mesmo alterações.
— O que for necessário, Hero. — digo em minha voz quase normal — À propósito, é um belo projeto. — solto o elogio.
Diferenças à parte, tenho que admitir que Hero e Shane são excelentes. Melhor dupla de arquiteto e engenheiro que já vi. A sintonia entre os dois é fabulosa. Agora entendo porque a Fiennes é esta potência: puro talento familiar. Os dois criaram uma proposta inovadora para um Shopping único que foge do padrão atual. É moderno, amplo, arejado e elegante. Com vários desníveis e áreas abertas transformadas em jardins suspensos.
Impressionante.
Estou amando este trabalho!
— Obrigado Josephine, vejo vocês na segunda.
A porta bate quando ele vai embora. E meu coração voa para fora do meu corpo com a perspectiva de não o ver pelos próximos dois dias.
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Um Amor de CEO - Herophine
RomanceAos 25 anos, Josephine Langford, uma mulher decidida e pavio curto, decide radicalizar. Ela rompe com tudo que a sufoca e parte para um recomeço. Uma nova cidade, uma nova casa e novos amigos... A alegre e colorida Vila Madalena é o cenário simple...