Josephine
Depois de achar e recolher minhas coisas no quintal, subo as escadas sob os olhos atentos do meu cozinheiro favorito. Entro em casa e o silêncio é bom... é curativo, mas não posso desfrutá-lo... ainda não... Deixo a bolsa sobre o balcão da cozinha e com o celular na mão, caminho até o sofá e me encolho nele, abraçando as pernas.
Reúno forças para fazer o que é preciso. Ser a portadora de más notícias me deixa agoniada, não consigo entender as pessoas que sentem prazer na desgraça alheia. Isso é sádico, é doentio... Sem que eu possa evitar meus pensamentos voam para Eva... Minha mãe teria imensa satisfação em fazer as honras por mim. Buscar o pior nas pessoas nunca foi um problema para ela. Seu passatempo preferido era ficar horas me atormentando ao falar mal dos outros... O que em seguida, negava fazer evidentemente, escondida sob o falso pretexto da preocupação.
" Josephine, você é uma ingrata... Eu sou tão boa. "
" Só podia ter dado nisso, aquela lá, abre as pernas para qualquer um. "
" Fiz tantos sacrifícios, olha o que eu recebo em troca. "
" Aí que ódio... Tomara que morra! "
Quilos e quilos de ressentimento e rancor, que só me fizeram querer correr cada vez mais para longe. Em muitos momentos, busquei entendê-la, justificar seu comportamento nas frustrações da vida... Mas em outros, quando cobrava o meu distanciamento, tentei confrontá-la, mostrar o quanto suas palavras e atitudes me sufocavam, mas Eva sempre acabava revertendo a situação... No final, eu era a errada e ela a vítima... Então desisti, me calei.
Ligo e da forma mais suave que consigo, conto para Thina o que aconteceu.
Com um suspiro aborrecido ela volta a falar - Pronto, já bipei o Bruno, não é a primeira vez que o coitado do meu marido tem que abandonar o plantão para correr atrás da minha irmã.
- Eu sinto muito.
- Acredite, eu tenho vontade dar uma bofetada educativa na minha irmã todos os dias. Você só fez a honras, te agradeço por isso e por ter guardado sigilo.
- Vai contar ao seus pais?
- Sim, vou pôr um fim nesta loucura e preciso do apoio deles. Eu tenho dois filhos pequenos, Josephine. Honestamente, não me sinto segura. Ela te feriu?
Toco meu braço machucado e pelo rasgo da blusa examino o corte, é meio fundo, mas vejo que o sangramento parou e acho que não preciso de pontos. - Não.
....
- Entendo a sua preocupação, Josephine. Tire essa bobagem da cabeça. Não é porque são gêmeos, que são iguais. O Hero é temperamental, claro, mas Thenka é uma sociopata. E a sociopatia tem pouco de influência genética. Basicamente minha irmã exige de Hero a atenção que não dá a si mesma. É egoísta e mimada e foi incorporando padrões de comportamento destrutivos, como as reações violentas diante da contrariedade.
- Isso poderia ter sido evitado?
- Poderia, claro. Existe tratamento.
....
- Josephine, pense bem... Hero tem o direito de saber. Ele vai ficar uma fera.
- Contar agora só vai deixá-lo mais angustiado. Ele teve um dia de merda e a reunião de terça é muito importante para a Fiennes.
Termino a conversa com Thina e ando pelo apartamento fechando portas, janelas e trancas, quieta.
Meu telefone toca, é Rafael. Ele diz que a coisa com a mãe não passou de alarme falso, um engano. Sem vontade de falar mais que o necessário, eu o escuto dizer que a mãe está bem e em casa. Que devem ter ligado por engano e que está a caminho da Vila. A ideia de que Thenka esteja envolvida no mal-entendido, passa pela minha cabeça. Porém, não digo nada... Sei que ele vai assistir as gravações de segurança, como faz todas as noites, então ele que tire suas próprias conclusões.
Ligo para o meu Anjo... caixa postal. Deixo um recado de boa noite e continuo quieta.
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Abro os olhos.
O teto está marcado pelos desenhos dos frisos das persianas contra o sol. Que horas são? Não sei. Apaguei no sofá, dormi pesadamente e sem sonhos. Jogo um punhado de comida no aquário, vou para o quarto, continuo cansada, tudo pode esperar... Deito na cama, abraço o travesseiro de Hero buscando conforto em seu cheiro...
Fecho os olhos.
N/A: Ai gente, tadinha da minha pitica🥺🥺
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Um Amor de CEO - Herophine
RomanceAos 25 anos, Josephine Langford, uma mulher decidida e pavio curto, decide radicalizar. Ela rompe com tudo que a sufoca e parte para um recomeço. Uma nova cidade, uma nova casa e novos amigos... A alegre e colorida Vila Madalena é o cenário simple...