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A Inglaterra era estranha

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A Inglaterra era estranha. A viagem até ali fora muito nova. A cidade completamente diferente daquela pequena que nascera. Não conseguiu controlar o medo de ser expulsa, ou processada. Havia pouco para perder, mas não podia recuar tão facilmente.

Aspen Rendall era bibliotecária. Ela conseguia organizar livros de olhos fechados, identificar sua procedência apenas sentindo a textura da capa, citar milhares de escritores famosos, listar em ordem alfabética suas fantasias favoritas, e ler em línguas há muito tempo esquecidas. A leitura salvou sua vida, e tem feito o mesmo pelas pessoas. Nos seus enredos favoritos existia muita luta, o personagem principal guerreava por conquistas épicas, e o medo jamais os atrapalhava, apenas alimentava sua confiança. Infelizmente, Aspen não era a personagem principal de nenhum livro.

Ela estava com medo. Muito medo.

O gigantesco prédio estava pronto para lhe engolir. Ali estava toda uma história longa de muitas pessoas corajosas, diferente dela. Não fazia ideia de quem era aqueles rostos, ou qual a velocidade atingida por seus carros. A prateleira de troféus chegava até o topo, repleto de ouro e prata. Precisou esticar a cabeça e semicerrar os olhos em busca da visão completa. As luzes eram ofuscantes, trazendo uma sensação de plenitude e esmagamento. 

Horner a esperava. Esse era o nome do homem que lhe atendeu depois de tantos pedidos. semanas e mais semanas de espera. Uma espera dolorosa. Não conseguiu conter a incerteza quando leu sobre o acidente nos jornais, passou dias chorando sozinha se culpando por nunca ter dito a verdade.

Max poderia ter morrido sem saber. Ela jamais se perdoaria caso acontecesse o pior com ele. Sempre tivera a certeza que ele ficaria bem vivendo seu sonho, realizando todos os seus desejos, sendo a pessoa que lutou para ser. Muito mais corajoso que ela. 

— Rendall?

Assentiu ao ouvir seu sobrenome ser chamado.

Ela não era rica. Ter ido até as terras britânicas fora um golpe de sorte, precisou usar todas as suas economias, correndo o risco de perder muito mais. Na Noruega tudo funcionava diferente, principalmente em relação às pessoas. Por todos os lados que olhava, não encontrava a centelha de simpatia. Era como se os ingleses quisessem começar uma guerra. 

— Eu realmente esperava uma mulher como você.

Ela olhou-se confusa.

— Como eu?

— Jovem, bonita e tola.

Mexeu-se desconfortável na cadeira.

Aspen era muito jovem. Admitia tão verdade com pesar. A maturidade viera cedo para ela. Algo que tentava ignorar para não perder o controle. Os outros enxergavam o que queriam, e naquele momento ela era uma estranha com potencial para destruir a carreira de um homem. 

Esperava aquela suspeita, porém achara que estava preparada para tudo. Onde vivia as pessoas eram mais inocentes, costumavam confiar depressa, mas ela estava na cidade grande.

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