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*Estou um lixo. Calça jeans larga e blusa de moletom, maquiagem de ontem e completamente descabelada. Olho para a menina atrás dele. Seu cabelo castanho cai em ondas soltas pelas costas. A maquiagem é leve e perfeita, mas ela é do tipo que nem precisaria de maquiagem. Claro.
É uma situação humilhante, minha vontade é de afundar no chão e desaparecer da vista daquela garota bonita.
Quando me abaixo para pegar uma das minhas malas, Vinnie parece se lembrar que a garota está lá e dá uma olhada para ela*

-Liza, o que você está fazendo aqui?
*ele pergunta. Enquanto limpo a maquiagem borrada dos olhos, Vinnie diz para sua nova conquista:
-Você pode dar um minutinho para a gente?
*Ela me olha, faz que sim com a cabeça e volta para o corredor do prédio*
-Não acredito que você está aqui.
*ele diz e vai até a cozinha onde estou*

*Vinnie tira o casaco, e sua camiseta branca lisa sobe, revelando sua tatuagem. A figura de uma aranha em seu estômago me provocando. Pedindo para serem tocados. Adoro aquela tatuagem, é a que mais gosto. Só agora vejo a semelhança entre Vinnie e a aranha. Ambos insensíveis. Ambos sozinhos. A diferença é que a aranha sabe construir seu próprio caminho sem destruir a dos demais... Vinnie não*

-Eu... Eu estava de saída.
*consigo dizer afinal. Ele parece tão perfeito, tão bonito. Um lindo desastre*

-Por favor, me deixa explicar.
*ele implora, e noto que suas olheiras são ainda mais carregadas e escuras do que as minhas*

-Não.
*Me abaixo para pegar as malas de novo, mas ele as agarra antes de mim, me impedindo de move-la*

-Dois minutos, é só isso que estou pedindo, Lizz.

*Dois minutos é tempo demais para ficar aqui com Vinnie, mas preciso acabar logo com isso se quiser seguir em frente com a minha vida. Suspiro e sento. Vinnie fica nitidamente surpreso, mas se apressa em sentar na cadeira do outro lado da mesa, de frente para mim*

-Você não perdeu tempo, né?
*digo baixinho, apontando a porta com o queixo*

-O quê?
*pergunta ele e em seguida, parece se lembrar da morena*
-Ela trabalha comigo; o marido está lá embaixo com a filha recém-nascida. Eles estão procurando apartamento, e ela queria dar uma olhada no nosso... ver a disposição dos quartos.

-Você vai se mudar?
*pergunto*

-Não, se você quiser ficar. Mas não vejo por que ficar aqui sem você. Só estou avaliando as minhas opções.

*Uma parte de mim sente uma pontada de alívio, mas logo minha parte mais defensiva lembra que só porque ele não está dormindo com a morena, não significa que não vai dormir com outra em breve. Ignoro a fisgada de tristeza que sinto ao ouvir Vinnie falar sobre se mudar, mesmo que eu não esteja aqui para ver isso acontecer*

-Você acha que eu iria trazer alguém aqui? Só faz dois dias... é isso que você pensa de mim?

*Que cara de pau*
-É! Depois de tudo isso, claro que é!
*Diante da minha crueldade, seu rosto é uma expressão de dor. Mas depois de um instante, ele se solta um suspiro derrotado*

-Onde você passou a noite? Passei na casa do meu pai e você não estava lá.

-Na casa da minha mãe.

-Ah.
*Ele baixa os olhos para as próprias mãos*
-Vocês fizeram as pazes?

*Eu o encaro diretamente nos olhos; não acredito que tenha a coragem de me perguntar sobre a minha família*
-Isso não é mais da sua conta.

*Ele faz um movimento na minha direção, mas se detém*
-Estou com muita saudade, Liza.

*Fico sem fôlego de novo, mas então me lembro que ele é especialista em fingir as coisas e me afasto*
-Até parece.

Maybe I don't hate you Onde histórias criam vida. Descubra agora