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LIZA

*Quando encaro o rosto familiar daquele estranho, sou inundada por lembranças. Eu costumava ficar sentada, penteando o cabelo da minha Barbie. Muitas vezes, desejando que eu fosse a boneca: a vida dela era perfeita. O pai da Barbie nunca chegava em casa berrando e bambeava as pernas. Não gritava com a mãe dela, obrigando Barbie a se esconder na estufa para fugir da barulheira e das louças sendo quebradas. E se por acaso, algum pequeno mal-entendido simples de resolver causasse uma discussão entre seus pais, Barbie sempre podia contar com Ken, seu namorado perfeito, para fazer companhia a ela... até mesmo na estufa. Barbie era perfeita, então devia ter uma vida perfeita, com pais perfeitos*

*Meu pai, que foi embora nove anos atrás, está parado na minha frente, sujo e aparentemente maltratado. Nada parecido com o que deveria ser, nada parecido com o que me lembro. Tem um sorriso no rosto enquanto me olha, e outra lembrança surge em minha mente.
Meu pai, na noite em que foi embora... o rosto impassível da minha mãe. Ela não chorou. Só ficou esperando que ele saísse porta afora. Naquela noite, ela mudou; nunca mais voltou a ser uma mãe amorosa. Ela se tornou uma pessoa fria e infeliz, mas sempre tentando se esconder por trás das maquiagens*

-Pai?

-Lizie?
*Sua voz é mais áspera do que eu me recordava. Vinnie se vira para mim, com os olhos faiscando, e depois para o meu pai*
-Lizie? É você mesmo?
*ele pergunta. Estou paralisada*

*Vinnie põe a mão no meu ombro em uma tentativa de despertar uma reação*
-Liza...

*Dou um passo na direção do estranho, que sorri. Sua barba castanha tem fios grisalhos, e seu sorriso não é branco e limpo como eu me lembrava... como ele foi ficar assim? Toda a esperança de que meu pai tivesse mudado de vida como James se desfez, e a confirmação de que esse homem é mesmo meu pai me deixa mais abalada do que deveria*

-É, sou eu.
*alguém diz, e depois de um momento percebo que sou eu quem está falando*

*Ele se aproxima de mim e me dá um abraço*
-Não acredito! Você está aqui! Tenho tentado...
*Ele é interrompido por Vinnie, que me puxa para me afastar. Dou um passo atrás, sem saber como agir.
O estranho; meu pai; olha para Vinnie, depois para mim, assustado e perplexo. Mas logo assume uma postura mais relaxada e mantém a distância*
-Estou tentando encontrar você faz meses.
*ele diz*

*Vinnie fica na minha frente, pronto para atacar*
-Eu estou morando aqui.
*respondo baixinho, olhando por cima do ombro de Vinnie. Fico feliz por ele estar me protegendo*

*Meu pai se vira para ele, e o olha de cima a baixo por um tempo*
-Uau. O Kio mudou um bocado.

-Não, esse é o Vinnie.
*eu explico*

*Meu pai se aproxima um pouco mais de mim, e percebo que Vinnie fica tenso.
Não sei se é por causa do álcool em organismo ou dos anos de bebedeira que ele confundiu os dois. Vinnie e Kio são extremos opostos, e eu nunca comparei um com o outro. Meu pai passa um dos braços em volta de mim, e Vinnie me lança um olhar, mas balanço a cabeça de leve para tranquilizá-lo*

-Quem é ele?
*Meu pai mantém o braço em torno de mim por um tempo enquanto Vinnie parece prestes a explodir; não necessariamente de raiva; ele só não faz ideia de como agir, ou do que dizer*

-Ele é meu... O Vinnie é meu...

-Namorado. Sou o namorado dela.
*ele complementa por mim*

Maybe I don't hate you Onde histórias criam vida. Descubra agora