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*Depois de me recompor o suficiente para dirigir, faço o que vinha evitando ao máximo: ligo para minha mãe.
Ela atende no primeiro toque*
"Alô?"

"Mãe"
*digo, num soluço. Aquela palavra soa estranha saindo de minha boca, mas preciso do conforto dela agora*

"O que ele fez?"
*O fato de esta ter sido a reação de todo mundo é mais uma prova de que o perigo representado por Vinnie era óbvio para todos, menos para mim*

"Eu... ele..."
*Não sou capaz de formular uma frase*
"Posso voltar para casa, só por hoje?"
*pergunto*

"Claro, Liza. Vejo você em duas horas"
*ela responde e desliga. Melhor do que eu esperava, mas não tão acolhedor quanto eu gostaria. Queria que ela fosse mais como a Karen, amável e capaz de aceitar erros. Queria que pegasse um pouco mais leve mesmo depois de não ter dado ouvidos a ela*

*Assim que pego o acesso para a rodovia, desligo o telefone antes de fazer uma besteira, como ler uma das mensagens de Vinnie*

*O caminho até a casa onde fui criada é familiar e tranquilo. Minha vontade é de chorar e sumir. Daria qualquer coisa para voltar no tempo até o primeiro dia na faculdade. Eu teria seguido o conselho da minha mãe e mudado de quarto. Assim como minha mãe e Cindy gostam da Addison, eu também a adoro e sou grata por pelo menos ela ter sido inocente nesse história toda. Assim como eu, ela também não sabia de nada. As ligações dela ontem a noite me confortaram. Pedidos de desculpas por algo que ela não fez e não teve nada a ver, só provaram o quanto ela é especial para mim. Mas a questão é que se ao menos tivéssemos percebido que o problema ia ser o seu amigo mal-educado de cabelo ondulado, que ele iria roubar tudo de mim e virar minha vida de cabeça para baixo...*

*Eu estava a apenas duas horas de casa, mas com tudo o que aconteceu, parecia muito mais distante.
Forço meus olhos a se concentrarem na rua ao passar diante da casa de Kio.
Paro o carro na entrada da garagem e praticamente pulo para fora. Mas quando chego à porta, hesito na hora de bater. É uma sensação estranha bater à porta da minha própria casa, mas também não me sinto à vontade para ir entrando. Como é possível que tanta coisa tenha mudado desde que fui para a faculdade?*

*Decido entrar sem bater e encontro minha mãe de pé ao lado do sofá, toda maquiada e usando um vestido e sapatos de salto. Está tudo como sempre: limpo e perfeitamente organizado. A única diferença é que o lugar parece menor, talvez por causa do tempo que passei na casa de James. A casa é aconchegante, e o cheiro familiar invade meu nariz. Tiro os sapatos na entrada*

-Liza!
*Cindy grita ao me ver entrar*
-Você voltou pra mim!
*ela corre para meus braços, e eu a agarro com toda força do mundo, não querendo soltá-la nunca mais. A falta que essa pequena garota me fez é enorme*

-Oi, meu amor!
*digo, afundando a cabeça em seu pescoço*

-Quer um pouco de café, Elizabeth?
*pergunta minha mãe, antes de me dar um abraço*

*Meu vício por café é herança da minha mãe, e esse vínculo me traz um pequeno sorriso*
-Sim, por favor.
*Vou até a cozinha e sento à mesa, sem saber como começar a conversa*

-Então, vai me contar o que aconteceu?
*pergunta ela, sem rodeios. Respiro fundo e dou um gole no café antes de responder. Independente de tudo, odeio esconder as coisas dela. Minha mãe e eu nunca mantivemos segredos*

-Vinnie e eu terminamos.

*Ela mantém uma expressão neutra*
-Por quê?

-Bom, ele não era quem eu achei que fosse.
*digo e envolvo a xícara escaldante com as mãos, numa tentativa de me distrair da dor e me preparar para a resposta da minha mãe*

Maybe I don't hate you Onde histórias criam vida. Descubra agora