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LIZA

*Ao notar o sol invadindo o quarto, meus olhos se movem para minha barriga, onde o braço de Vinnie está jogado sobre o meu corpo. Seus lábios estão entreabertos, e ele está ressonando de leve. Não sei se o empurro da cama ou se acaricio seus cabelos.
Estou brava, muito puta da vida com Vinnie por causa de tudo que aconteceu ontem à noite. Ele teve a cara de pau de voltar para o chalé à uma e meia da manhã e, como eu temia, cheirando a álcool. E ainda estava com uma menina, uma garota parecida comigo, com quem passou várias horas. Não sei o que pensar, e estou cansada de ficar o tempo todo pensando. Tem sempre algum problema para resolver, algum desentendimento para superar. E estou cansada. Cansada de tudo isso. Eu amo Vinnie mais do que sou capaz de compreender, mas não sei por quanto tempo ainda aguento esse tipo de coisa*

*Levanto o braço de Vinnie e me livro de seu peso. Ele resmunga alguma coisa, mas por sorte não acorda. Pego meu telefone na cômoda e vou caminhando silenciosamente até as portas da varanda. Com o telefone na mão, abro o navegador, mas fico frustrada ao perceber o quão difícil está sendo conseguir um apartamento adequado e que caiba no meu orçamento, o quão difícil está sendo minha vida agora*

*Tudo na minha vida era simples e fácil até seis meses atrás. Minha mãe me ajudou a conseguir o quarto no alojamento, e eu tinha tudo planejado e arrumado bem antes de chegar a Kinston. Minha mãe... A saudade que sinto dela é inevitável. Ela nem imagina que retomei o contato com o meu pai. E ficaria muito brava se soubesse. Tenho certeza.
Antes que tenha tempo de me arrepender, ligo para ela*

"Alô?"
*ela atende prontamente*

"Oi...mãe. Tudo bem com você?
*pergunto baixinho*

*Ela suspira*
"Tudo bem. Ando meio ocupada com tudo que anda acontecendo."
*Ouço o barulho de louças e panelas ao fundo*

"O que está acontecendo?"

"Nada demais, na verdade. Tenho feito muitas horas extras, e ah, a Ruth faleceu."

"Ruth Cyr?"

"Sim, eu ia ligar para você"
*ela diz, e sua voz se torna um pouco menos fria.
Ruth, a avó de Kio, foi uma das mulheres mais doces que tive o prazer de conhecer. Era sempre muito gentil e amorosa*

"Como está o Kio?"

"Ele está sofrendo bastante. Você devia ligar para ele, Liza"

"Eu..."
*Começo a dizer que não posso ligar para ele, mas me interrompo. Por que não poderia? Eu posso e vou*
"Eu vou... Agora mesmo."

"Sério?"
*O tom de surpresa é evidente em sua voz*
"Bom, pelo menos espera dar nove horas"
*ela pede, e não consigo deixar de abrir um sorriso, porque sei que ela também está sorrindo do outro lado da linha*
"Como está indo a faculdade?"

"Vou mudar para San Diego na segunda"
*confesso*

"Quê?"

"Eu já contei, lembra?"
*Eu contei, não contei?*

"Não contou, não. Falou que sua empresa estava mudando para lá, mas não disse que ia também."

"Desculpa, é que ando muito ocupada com San Diego e Vinnie."

"Ele vai com você?"
*ela pergunta com um tom de voz inacreditavelmente controlado*

"Eu... não sei"
*respondo com um suspiro*

"Está tudo bem? Você parece chateada."

"Estou bem"
*minto*

"Sei que as coisas entre nós não estão muito bem ultimamente, mas eu ainda sou sua mãe, Liza. Você pode me contar se alguma coisa estiver acontecendo"

Maybe I don't hate you Onde histórias criam vida. Descubra agora