Capítulo 46

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Alfonso Jones Herrera

Observei o barulho do tic tac do relógio mais uma vez antes de levantar do sofá da sala da minha mãe e começar andar de um lado para outro. Passava das nove horas da noite e continuava no hospital esperando minha mãe realizar o parto de Dulce. Tínhamos combinado de jantar juntos naquela noite, já que nas últimas semanas ela e eu mal tínhamos nos vistos, e morávamos na mesma casa.

Suspirei.

Isso fazia parte de ser filho de uma das médicas mais renomadas do mundo e que se dedicava totalmente a profissão. Quando criança lembro que ela sempre se dividia entre o hospital, meu pai, eu e...minha irmã perdida.

Parei de andar e encarei o único porta-retrato na mesa. Era uma foto minha com minha mãe na minha formatura no colégio. Segurei o porta-retrato analisando nós dois. Eu usava a típica beca de formatura, chapéu e o diploma na mão, estava sério, não sorri na foto. Já ela usava um vestido vermelho, cabelos soltos e sorria radiante para a câmera.

Éramos muito parecidos. Os mesmos olhos verdes, o nariz, a boca, o tom de pele, a mesma altura. De longe podiam ver que éramos mãe e filho. Não puxei nada para o meu pai. E esperava que minha única irmã fosse muito parecida comigo e com a nossa mãe.

Deixei o porta-retrato de volta e voltei para o sofá olhando novamente para o tic tac do relógio. A sala da minha mãe era bem decorada, com bastante espaço e muito fria. Me encolhi um pouco.

Ela amava o frio.

Tínhamos vindo ao Brasil apenas para procurar pela minha irmã, já era a segunda vez dela no país e a minha primeira, e como aconteceu no passado quando ela esteve aqui, a procura foi um fracasso total. A suposta garota, não passou de uma coincidência. O que deixou minha mãe e eu, principalmente ela, muito mal. Era assim. Todas as vezes quando achávamos que era ela e no exame de DNA mostrava o contrário.

Mas dona Elizabeth nunca perdia as esperanças de encontrar a filha mais velha dela.

Minha irmã.

Alfonso: Onde você está Alyssa? - sussurrei para o vazio da sala.

Minha mãe ia continuar procurando por ela aqui e eu que gostei tanto do país que decidi fazer minha faculdade também aqui, assim minha mãe e eu não ficaríamos longe um do outro.

Desde do divórcio dela com o meu pai, há dois anos, ela tinha se fechado um pouco. Não falava muito sobre os sentimentos dela, não saía para esfriar um pouco a cabeça com as amigas e tinha ficado ainda mais viciada no trabalho.

Eu era o único com quem ela não tinha se afastado totalmente. Sempre estávamos conversando e rindo. Mas nas últimas semanas que ficamos um pouco distante um do outro, tanto pelo trabalho dela no hospital, tanto pela minha faculdade, mesmo um pouco distantes percebi ela estranha.

Que eu obviamente pretendia saber o que ela escondia de mim nesse jantar. Claro, se ainda fôssemos jantar juntos.

Encarei mais uma vez o relógio da sala.

A porta da sala foi aberta bruscamente chamando minha atenção. Judith, secretaria da minha mãe, entrou com um envelope amarelo nas mãos deixando rapidamente na mesa.

Judith: Chegou para ela. - avisou - Acho que o jantar de vocês dois já era. - lamentou - Pela demora, acho que a paciente está dando a luz. - explicou.

Alfonso: Pelo visto..- joguei minha cabeça para trás encostando no sofá - Ainda bem, não é? Coitada da Dulce! Desde de cedo está sofrendo com dor.

Dulce estava à horas esperando ter dilatação o suficiente para a passagem da bebê. Gemia e chorava de dor deixando o noivo dela praticamente surtando ao lado dela. Minha mãe tinha ido pela vigésima vez ao quarto dela para checa-lá e pela demora, acho que foi direto para a sala de parto.

Almas Opostas (2°temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora