Capítulo X
Piqueniques me lembravam a infância, momentos felizes. Eu me lembrava dos piqueniques que minha família fazia, vez ou outra.
Nós nunca fomos ricos, mas papai sempre guardava dinheiro para fazermos piqueniques no verão. Claro, não tinha a mesma fartura do piquenique de Giuseppe, mas eram incríveis.
Nós saíamos bem cedo para estender a toalha no melhor lugar. Todos ajudavam a carregar as coisas, mesmo Gabrielle com apenas três anos. Nós passávamos o dia todo comendo sanduíches que minha mãe e Agnes passavam a noite inteira preparando, frutas que meu pai cortava na hora. Ele gostava de comprar melancias, as minhas preferidas. Minha mãe gostava de mangas, enquanto Agnes e Matteo gostavam de maçãs. Eram Romeu e Gabrielle quem preferiam morangos, e meu pai comprava, mesmo que fossem mais caros.
As frutas preferidas do meu pai eram as pêras, e tínhamos a sorte de sempre conseguir um lugar no parque debaixo da árvore. Ele me colocava em suas costas para que eu colhesse as frutas direto do pé. Depois de comer os sanduíches, eu e meus irmãos brincávamos, gargalhando descalços, correndo com a grama fazendo cócegas em nossos pés. A maioria das outras crianças nos ignorava. As que, como nós, eram mais pobres, logo se juntavam e perguntavam se podiam brincar também. Nossos pais se sentavam e conversavam juntos. Foi assim que eu conheci Antônio. Nós dois tínhamos oito anos e sua mãe estava no último mês de gravidez de Marco.
Depois de brincarmos, meu pai cortava as pêras e nós comíamos enquanto observávamos os patos nadando no lago. Eu me aconchegava em seu peito e cochilava.
Com as sacolas mais leves, meus pais nos deixavam dormir e nos carregavam no colo. Eu ia no colo de meu pai. Romeu sempre acordava e pedia para ir andando. Como Gabrielle era a mais leve, era Agnes quem a levava, e Matteo ia no colo da minha mãe.
Os piqueniques se tornaram mais raros depois que Agnes morreu, ninguém mais queria fazer nada sem a família completa. Quando eu tinha quinze anos e meu pai morreu, nós nunca mais fizemos nenhum.
Agora, soava estranho estar sentada em uma toalha de piquenique, sentindo a brisa no rosto, enquanto Giuseppe me oferecia chá gelado. Eu aceitei, mas lhe lancei um olhar incisivo, deixando claro que não o deixaria escapar de me contar o que andava acontecendo.
-Giuseppe - eu chamei, deixando o habitual "senhor Battaglia" de lado, por um momento - Conte-me o que aconteceu.
Ele suspirou, olhando para o alto, enquanto tomava fôlego para começar.
-Amélia, você sabe como eu me tornei general? - ele perguntou. Eu não sabia, claro, nunca tínhamos conversado sobre isso, então neguei com a cabeça - Eu sou General de Brigada, e meu supervisor, General de Divisão. Eu subi rápido na carreira militar, Amélia.
Eu ouvia cada detalhe com atenção.
Tudo naquele homem me intrigava. Giuseppe era cativante. Eu gostava de ouvi-lo falar, gostava de ouví-lo ditar suas cartas para que eu escrevesse.
Até mesmo suas malditas despedidas em suas cartas para a noiva me instigavam. Tudo o que eu queria era saber o significado do maldito "bella ciao".
Agora, ouvindo-o contar sobre a carreira militar, mesmo que eu temesse descobrir algo que não queria, eu não conseguia parar de ouvir, mal piscava, atenta a tudo.
-Você sabe qual foi a primeira pergunta que me fizeram ao me recrutarem? - ele soltou um riso pelo nariz, incomodado - "Você morreria por seu país?" E eu disse que sim - seus olhos passeavam, inquietos, enquanto ele pensava - Mas eu menti. Eu não morreria por uma nação que está podre. É por isso que eu me dediquei a subir tanto. Eu quero construir uma pátria pela qual eu seria capaz de fazer tudo para proteger. E é a isso que tenho me dedicado.
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Bella Ciao
RomanceAmélia tem uma paixão por cartas de amor, mesmo sem nunca ter recebido uma. Ela está acostumada ao trabalho e a vida pacata na pequena e tranquila villa italiana, que nem mesmo a guerra conseguiu agitar. Apesar da vida simples, ela é feliz no trabal...