Capítulo XXXI

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Capítulo XXXI

Eu pulei da cama, escorregando ao procurar minhas pantufas, e acertei as costas na madeira da cama, me deixando sem fôlego. Mas eu sabia que não havia tempo para pensar. Mesmo sem fôlego, eu calço os sapatos e arranco um casaco do cabide. É um casaco fino, mas era a primeira coisa ao alcance das minhas mãos. Eu o visto ainda correndo para fora.

Todos já estavam na rua, correndo desesperadamente. Em seus pijamas, e ainda sonolentos. Pais e mães que corriam com seus bebês e crianças adormecidos nos braços. Eu vi Donatella e o marido abrirem a porta, cada um com um menino nos braços. Eles me avistaram e fizeram um gesto em minha direção. Eu me aproximei, e eles gritaram, tentando falar acima dos berros desesperados:

-Amélia, onde está Henrico?

-Você está bem?

Eu não tinha tempo para explicar, então só berrei de volta:

-Ele está bem, vamos embora!

Eles fizeram que sim, e começamos a correr junto com a multidão.

Nós podíamos observar os outros aviões bombardeiros se aproximando no céu noturno. Mas não havia como mensurar quanto tempo tínhamos. Mas era pouco.

A floresta estava em chamas, e a fumaça subia rápido. Eu não podia entender por que o primeiro avião tinha cometido aquele erro. Ao menos isso nos tinha dado mais chances de chegar ao abrigo.

Eu tentava enxergar onde estava pisando, para não tropeçar, enquanto seguia Donatella. Eu via o casal tranquilizar os filhos sonolentos, enquanto se entreolhavam, preocupados.

A maioria de nossos vizinhos já estava muito à nossa frente, correndo em pânico até o abrigo.

Eu tentava manter um ritmo para não perder o fôlego, mas já começava a sentir meu corpo cobrar. Ao menos tudo o que eu precisava carregar era minha barriga.

Senti um frio na espinha ao pensar nisso. Diminuí o passo, novamente observando as crianças adormecidas nos braços das outras pessoas, e me lembrei: Bianca não estava em casa. Ela estava na mansão do General Grecco. E eu não confiava em Paolo o suficiente.

Eu parei, e me virei para o outro lado. Donatella percebeu meu movimento e desacelerou os passos, berrando para mim:

-Amélia, o que está fazendo?

-As crianças, Donatella, as crianças Mello...

Ela entendeu na mesma hora, e eu vi seu rosto perder a cor.

-Eu vou com você - ela se ofereceu, mesmo estando assustada, o que eu podia perceber em sua voz - Querido, pegue-o, eu vou com Amélia... - ela sussurrou, pedindo ao marido que pegasse o menino de seus braços.

Ele negou, e mandou que fôssemos para o abrigo, e que ele iria até a casa dos Mello.

Mas eu logo interferi:

-Não, vão! Eu os encontro no abrigo, eu serei rápida, prometo.

Donatella assentiu, agradecida, e ela e o marido continuaram o caminho, enquanto eu dava meia-volta e seguia até a casa dos Mello. Eu sentia o olhar das outras pessoas me seguindo, e alguns poucos me mandavam voltar, mas eu não tinha tempo.

Olhei para o céu, e os aviões estavam mais perto do que eu esperava. Engoli em seco e tentei abrir a porta, mas estava emperrada. Ao menos não estava trancada

Tentei empurrar, mas não cedeu. Comecei a me lançar contra a madeira, empurrando com o ombro. Da terceira vez a porta abriu, e eu tropecei, caindo sobre meu ombro. Me levantei com um gemido de dor, e massageei o local, tentando tirar o foco da dor, enquanto chamava pelas crianças:

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