Capítulo L

20 1 0
                                    

Capítulo L

Minha revelação acabou tirando nosso sono, e ficamos até tarde conversando, principalmente porque Giuseppe queria me tranquilizar. Contei tudo a ele sobre o meu dia, desde a hora em que acordei, até o momento em que ele me tirou da sala do General Grecco. Contei a ele sobre o interrogatório no meio da Scrivano, e sobre a chegada repentina - e desagradável - de Cordélia. As palavras dela ainda pairavam sobre mim como uma nuvem carregada. "Henrico adoraria colocar o papo em dia". Definitivamente soava como uma ameaça. Não queria preocupar Giuseppe, mas as palavras escaparam de mim. Eu confiava tanto nele que não conseguia esconder quão assustada eu estava. Ele franziu as sobrancelhas, fazendo uma careta preocupada, enquanto afagava minhas costas, e prometia que iríamos resolver isso.

Em troca do meu dia, ele respondeu algumas questões que ainda me atormentavam. Depois de deixarmos Antônio na plataforma, ele tinha ido correr, para espairecer. Confesso que deveria ter imaginado. Ele trabalhou até tarde naquela noite pois estava abalado pela partida tanto de Nicole quanto de Antônio, em tão pouco tempo, e estava se cobrando para ser melhor. Isso também era a cara de Giuseppe. E, claro, tinha ido trabalhar mais cedo no dia seguinte pelo mesmo motivo, e também para poder sair logo para podermos jantar juntos.

Mesmo com sono, isso me fez sentir ainda melhor, e foi bom que tenhamos ido dormir com uma perspectiva mais positiva, do que com o peso que a volta de Henrico e Cordélia trazia.

Nossos corpos ainda vibravam com os ecos de nossas risadas compartilhadas, beijos roubados e confissões abafadas. Nossos toques eram como nossa própria linguagem, e deixavam um agradável rastro de calor. Aos poucos, nossos toques se tornaram mais preguiçosos, os olhos mal se mantendo abertos, e adormecemos.

Acordar era como uma dor agridoce. Embora eu ainda estivesse nos braços de Giuseppe, havia essa promessa persistente de que a qualquer momento nosso refúgio seria perturbado. Apesar disso, tentamos levar uma manhã agradável, com café da manhã na cama, carinhos preguiçosos e demorando para levantar. Depois de uma passada rápida no banheiro, eu me aconchego de volta nos braços de Giuseppe, e ouço as batidas constantes e fortes do seu coração, enquanto suas mãos estão no meu cabelo. A tensão da noite anterior parecia até ter desaparecido, e se eu não soubesse bem que estávamos em meio ao caos da guerra, e um confronto iminente com Henrico, eu até ousaria dizer que estava tudo bem.

-Você está se sentindo melhor, meu amor? - Giuseppe murmura, com sua voz agradável, dando um beijo no topo da minha cabeça.

Assinto contra seu peito, e traço desenhos no lado de seu corpo. Uma estrela, uma lua, um coração. Consigo sorrir enquanto respondo.

-Sim, muito melhor. Obrigada por ontem à noite, Giuseppe. Eu precisava mesmo disso.

Ele suspira, e sinto a forma como alívio e preocupação se diluem um no outro. Nossos olhos se encontram, e tento transmitir compreensão e toda gratidão que sinto antes mesmo que ele diga alguma coisa.

-Eu queria que você não tivesse que passar por tudo isso, Amélia. Eu deveria ter te protegido melhor.

-Você já faz o seu melhor, meu amor - garanto, segurando seu rosto. - Às vezes a vida nos lança alguns desafios... mas vou enfrentá-los ao seu lado.

Ele sorri levemente, mas a preocupação ainda parece corroê-lo por dentro.

-Eu prometi ao seu irmão, e, mais importante ainda, eu prometi a você, Amélia, que te manteria segura, que seria a pessoa em quem você pode confiar.

-Eu confio em você. E você prometeu que faria o possível para me manter segura. O que aconteceu... - engulo em seco, tentando organizar meus pensamentos em meio às memórias. - O que aconteceu não foi culpa sua e não estava sob seu controle, Giuseppe. Eu estou bem. Prometo.

Bella CiaoOnde histórias criam vida. Descubra agora