Capítulo XXII

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Capítulo XXII

Vomito com o esforço de esfregar o tapete, porque assim que começo, o cheiro que sobe é de sujeira, sangue e vômito velho.

Está quase escurecendo, então preciso lavar logo para poder deixar secando durante a noite.

Enquanto estou de joelhos, esfregando com um escovão, fico pensando em alternativas para ganhar dinheiro, agora que é definitivo que não vou voltar para a vinícola. Bem, eu imaginava que eles não iriam querer que eu voltasse, mas eu não esperava a decisão de Henrico.

Na tarde anterior, depois que eu descobri que ele torrou todo o nosso dinheiro enquanto estive fora, precisei voltar à casa de Donnatella.

-Posso te pedir mais uma coisa, Donna? - eu disse, sem graça, e lhe pedi dinheiro para pagar pelo almoço, disse a ela que Henrico esqueceu de pegar o pagamento de sexta-feira, então estávamos sem nada. Ela não pareceu acreditar muito, mas pegou algumas notas com o marido - Eu devolverei o dinheiro amanhã!

Ela também pareceu não acreditar muito.

Eu voltei para casa e Henrico já estava cochilando novamente, mas pelo menos estava limpo. Eu continuei limpando e arrumando até a comida chegar, então o chamei para comermos. A porção era boa, e ainda sobrou o suficiente para jantarmos.

Fiz com que Henrico bebesse bastante água e ele já estava mais sóbrio quando fomos para o sofá. Eu me sento e ele escorrega até que seu rosto fique a altura da minha barriga. Ele coloca a mão e fica fazendo carinho. Eu pouso minha mão sobre a dele, fazendo carinho nos nós de seus dedos.

É muito estranho estar próxima assim de alguém, depois de um mês inteiro. Ainda mais Henrico, depois de tudo o que se passou. Mas, como eu disse, eu estou disposta a consertar tudo, a voltar a sermos um casal feliz. Por mim, por ele, pelo bebê que está se formando no meu ventre. O bebê que estamos esperando há 4 anos. Henrico dá um beijo na minha barriga, como se estivesse lendo meus pensamentos.

-Nós finalmente vamos ter nosso menino - ele murmura, alegremente - Nunca mais vá para longe de mim, Amélia.

-Eu não vou - digo, mexendo no cabelo dele, deixando de lado o fato de que foi ele quem me mandou para longe - Vamos ser uma família...

Ele sorri e me abraça. É como se nunca tivéssemos nos desentendido.

-Você me ama, Henrico? - não posso deixar de perguntar, preocupada. Ele ergue o rosto para me olhar. Depois de alguns segundos, ele concorda com a cabeça, como se fosse óbvio - Por favor, não faça mais isso comigo...

Eu digo baixo, numa súplica, sem ter coragem de dizer com palavras exatas: "não me traia, não me magoe, não deixe de me amar".

Henrico sorri e passa a mão pelo meu rosto.

-Você é minha, Amélia. Nós vamos ser uma família.

Ele volta a se aconchegar com a cabeça apoiada no meu abdômen, com a mão pousada no leve inchaço da minha barriga.

-Com quanto tempo você está mesmo?

-Nove semanas - eu digo, sorrindo, mesmo que ele não esteja vendo.

-E eu lá sei o que são nove semanas? - ele diz, meio rindo, meio bufando.

-Dois meses, querido.

Henrico grunhe.

-Mas ainda vai demorar muito.

Eu consigo dar uma risada.

-Bem, é bastante tempo para recuperarmos o dinheiro e comprar as coisas que o bebê vai precisar - eu digo, como quem não quer nada, porque ainda tenho esperanças de que Henrico vá dizer que era algum tipo de piada, e que o dinheiro está guardado. Mas, claro, ele não diz, porque não é uma piada - Amanhã vou tentar recuperar meus empregos, e quando voltar passo no mercado para abastecer a geladeira e a despensa.

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