Capítulo XVI
Eu dormi bem, e acordei me sentindo leve no domingo. Eram 10 horas, e os empregados me trouxeram café da manhã. Eu fiquei empolgada como uma criança, porque nunca tinha recebido café da manhã na cama. E, apesar de não poder comer muito, porque meu estômago ainda estava sensível, eu aproveitei cada pedaço. Primeiro, me serviram um capuccino cremoso e um iogurte com cereais. Depois, suco de laranja e torradas com mel. Apesar de ter acordado faminta, custei para conseguir comer tudo.
Eu sentia como se meu estômago estivesse do tamanho de um amendoim, depois de tudo o que tinha acontecido.
Saul e Corinna disseram que eu deveria fazer repouso absoluto, e que não deveria levantar da cama, por hora, a não ser para usar o banheiro, e tomar banho, mais tarde. Eu não discuti, claro.
Como prometido, Corinna e Antônio apareceram para me visitar. Giulia e Nero tinham feito um cartão de melhoras juntos, e Marco assinou junto. Marco parecia um homenzinho, dizendo que não era mais criança para ficar desenhando e brincando por aí. Mas não era difícil flagrá-lo pela cidade, apostando corridas imaginárias em sua velha bicicleta ou empinando pipa em algum campinho ou descampado que tivesse espaço suficiente.
Giulia queria vir, mas Corinna achou melhor não. Eu concordei, não queria correr o risco que a menina ficasse doente também. Na verdade, não queria que ninguém ficasse doente.
Antônio me entregou uma caixa de bombons, dizendo:
-Não coma tudo de uma vez - ele sorriu - Você ainda precisa se recuperar.
Eu ri e abri a caixa, pegando um recheado de caramelo, que ele sabia que eram meus preferidos. Antônio riu, cúmplice e aceitou um bombom que eu lhe estendi. Eu pude ver Corinna desviando o olhar, sorrindo, enquanto fingia não ter visto nada. A cozinheira já tinha me dado uma bronca mais cedo dizendo que eu precisaria me alimentar direito e seguir à risca as refeições que ela prepararia. Que infelizmente não incluíam nada que fosse mais doce do que uma maçã, ou chá.
-Eu não vou sobreviver desse jeito - fiz drama. Não era segredo para ninguém que eu amava doces - Vou manter essa caixa bem guardada.
-Ah, existe um custo para eu manter esses bombons em segredo de Hilma...
Nós nos viramos para ver Giuseppe entrar, com um sorriso. Eu sorri de volta, segurando um bombom e esticando em sua direção.
-Ah, é mesmo, General? O que estava dizendo?
Ele sorriu ainda mais largamente e pegou o bombom. Corinna olhou de mim para Giuseppe, como se soubesse o que se passava, mas foi só muito depois que eu me lembrei dessa cena e, em minha memória, lembrei da cara que ela fez.
Giuseppe parou, falsamente pensativo.
-Hum, eu não me lembro - ele disse, dando de ombros, antes de se aproximar e casualmente sentar-se na poltrona ao lado da cama. Ele segurou a minha mão entre as suas - Como você está, Amélia?
Por um momento eu me perdi em seus olhos carinhosos e em seu rosto levemente preocupado. Era engraçado vê-lo ali, sentado ao meu lado, usando roupas comuns ao invés de seu elegante uniforme, enquanto segurava minha mão e se inclinava em minha direção.
Eu afaguei sua mão em uma resposta silenciosa.
-Estou me recuperando - eu me lembrei subitamente que Corinna e Antônio também estavam ali - Graças ao cuidado de vocês todos.
Eu sorri, e, por um momento, enquanto eles também sorriam e conversávamos, eu pude me esquecer de Henrico e todos os problemas que estavam prestes a explodir sob o meu nariz. Mesmo adormecida, minha mente não tinha parado de pensar em nenhum momento, e sempre voltava aquela questão: o que será de mim e do meu casamento agora?
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Bella Ciao
RomanceAmélia tem uma paixão por cartas de amor, mesmo sem nunca ter recebido uma. Ela está acostumada ao trabalho e a vida pacata na pequena e tranquila villa italiana, que nem mesmo a guerra conseguiu agitar. Apesar da vida simples, ela é feliz no trabal...