Capítulo XVIII

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Capítulo XVIII

Duas semanas.

É o tempo que leva para que eu me dê conta de que Giuseppe não vai aparecer e me tirar de lá. Ele já deveria ter voltado para a cidade. Já deveria ter percebido. Já deveria ter me procurado. Me tirado daqui.

Mas não.

Ou ele não voltou ainda, ou não me encontrou. Ou não se importa, é o que diz a vozinha no fundo da minha cabeça. É o que Agatha tem tentado fazer com que eu acredite.

A primeira coisa que fizeram foi cortar meu cabelo. Para poupar gastos, ou algo do tipo. Para que eu não me machuque.

As mechas que antes caiam pelas minhas costas agora não passam do meu queixo. É mais um dos motivos das minhas crises de choro durante a noite.

Mesmo enquanto eu chorava compulsivamente, trancada no meu "quarto" solitário, deixavam que o meu terapeuta entrasse para conversar comigo. É ele o responsável por me administrar até que eu esteja apta a voltar para casa. Para Henrico. É ele quem vem me convencendo de que o que fiz é errado.

-Mas o que eu fiz? - eu lhe perguntei, entre soluços, da primeira vez que ele abordou esse tema - Por favor... Eu vi meu marido me traindo, e passei uma semana doente... Fale com o meu médico...

Ele anota algo em sua prancheta.

-Vê, senhora Stronzo, é exatamente isso que queremos tratar. Você sabe o que fez. Se envolvendo com aquele soldado do exército, pelas costas do seu marido - ele diz, me olhando através dos óculos. Ele está na casa dos quarenta anos, beirando os cinquenta - Tsc, tsc, tsc... Inventar mentiras sobre o seu marido... Para justificar os seus atos... - ele segue fazendo anotações e cada constatação dá lugar a uma irritante série de muxoxos.

Através dos meus soluços e crises de choro, logo percebo que me opor a ele e a Agatha, que se mostra muito crente de que o casamento é sagrado e inquebrável, não adiantará de nada. Aos poucos tento me mostrar cooperativa. Mas a verdade é que só penso em Giuseppe. A todo instante.

Penso também em Henrico, é claro, e meu corpo queima de raiva e tristeza. Porque ele me colocou aqui. Porque ele não me ama, e, mesmo assim, não me deixou ir.

Quando as duas semanas se passam, eu quase consigo controlar o meu choro. E sou permitida de sair do quarto e conviver com as outras mulheres internadas. E é tudo um horror. Aquele sentimento de quando você é a pessoa nova, e precisa chegar a um lugar desconhecido. Um pedaço de carne. É como me sinto ao chegar no refeitório para o café da manhã no primeiro dia. Porque todas elas sabem que sou nova. Sei pela forma que me olham. Olham meu cabelo recém-cortado. Minha cara inchada e vermelha de tanto chorar. Cada par de olhos arrancando um naco de carne para destrinchar.

Eu avanço hesitantemente para pegar a comida. Chá e mingau. Carrego a bandeja para longe mas a verdade é que não sei onde vou sentar. Vasculho rapidamente o local à procura de um lugar vazio e isolado. Como fazia na escola. Mas na escola eu tinha Antônio. Eu sigo para a mesa vazia de olhos baixos e me sento de costas para o resto das mulheres, sentindo o olhar delas em mim. E eu caio no choro, pateticamente.

Tento controlar os soluços, controlar as lágrimas, mas tudo parece absurdamente alto, e eu tapo a boca com as mãos, baixando o rosto.

Eu sinto mãos nas minhas costas, e penso que os guardas vão me levar de volta, mas quando ergo os olhos é uma mulher que está se sentando ao meu lado. Suas roupas me dizem que ela não é uma funcionária, mas está internada, assim como eu.

-Shh, querida, calma - ela diz, e mais outras duas moças se sentam - Sabemos como é difícil, mas chorar não vai te ajudar muito aqui, guarde isso para a noite.

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