Capítulo XXVII

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Capítulo XXVII

As bombas não atingiram nada, realmente, apenas pequenas áreas de floresta, e um pequeno pedaço da linha do trem, que já está sendo consertada. A teoria de Frederick é que tenham feito os cálculos errados, ou que só quisessem nos assustar. Bem, deu certo e espero que não tentem de novo. Eu entro em pânico só de pensar o que poderia ter acontecido caso o ataque fosse mais brutal e repentino. Caso não tivéssemos tempo, orientação e preocupação com os outros. Caso Donnatella e o marido não tivessem prestado atenção às crianças dos Mello, por exemplo. Assim que fomos liberados do abrigo, fomos orientados a voltarmos às nossas casas para avaliar se algo tinha sido danificado ou não, e em caso negativo, deveríamos ficar em casa, até que tudo fosse averiguado e voltasse à normalidade. Donnatella estava preocupada com Rob e Silvia, mas ela já tinha as mãos cheias com os dois meninos inquietos, agarrados à barra de sua saia, então eu lhe disse que deixasse comigo, eu ficaria feliz em levar as crianças Mello para casa. Eu e Henrico andamos devagar, com as crianças agarradas às minhas mãos. Nenhum dos dois pareceu muito à vontade com Henrico, preferindo ficar junto comigo. E de qualquer forma, ele também estava disperso, e não reparou quando a pequena Silvia lhe deu um sorriso, tentando uma aproximação. Eu queria dizer alguma coisa a ele, dizer como eu estava feliz que estávamos todos bem, qualquer coisa. Mas seu rosto disperso, seus olhos distantes e sua pele manchada de batom não me deixavam raciocinar. Então, optei pelo silêncio.

A casa dos Mello estava vazia. Imaginei que Bianca deveria estar do outro lado da cidade, onde deveria ser a casa de seu amante, imagino, a única razão para que ela não esteja em casa, e também não estivesse no abrigo conosco. Mas Paolo é inexplicável. Ele deveria estar aqui. Ele deveria estar com seus filhos, para começar. Tive medo. Mas não havia mais nada que eu pudesse fazer, então levei as crianças para a minha casa. Expliquei a Henrico. Ele não pareceu gostar. Perguntou onde estavam os pais deles. Eu não sabia. Perguntou onde eles iriam dormir. Eu não sabia. Em nossa cama? Ele não gostou da ideia. No sofá, então. Perguntou quanto tempo elas ficariam ali. Eu não sabia. Ele ficou irritado. Foi para o quarto, avisando que o deixasse sozinho por um momento. Tudo bem.

Percorri a área da casa ao menos três vezes, examinando cada centímetro, me certificando de que tudo estava em ordem. Rob e Silvia correndo atrás de mim, brincando, sem muita consciência de todo o resto que acontecia. Eu fiz o jantar. Deixei que eles comessem um pedaço de pão enquanto isso. Eles comeram, brincaram, pediram para me ajudar a arrumar a casa, e limpar a cozinha, quando me viram pegando as coisas. Eu disse que não era necessário, mas os dois insistiram. A mãe não deixava que eles ajudassem.

No final, a ajuda foi boa. Menos cansativo para mim. Fiz com que eles tomassem banho antes do jantar, e enquanto se enxaguavam, fui até o quarto chamar Henrico para jantar. Ele estava de costas para mim, sentado na cama. De olhos fechados, com uma mão sobre o peito, e a outra no pescoço. Eu não entendi, a princípio. Mas ele passou a mão pelos braços, pelo rosto e pelo pescoço. Tocou a mancha de batom, e seus dedos tocaram o rosto novamente, tocando seus lábios com as pontas das digitais. Ele suspirou, e eu entendi. Ela. Ele estava pensando nela. Eu respirei fundo. Bati de leve na porta, com os nós dos dedos, e fingi que tinha acabado de entrar no quarto. Henrico olhou para trás, sobressaltado e deu um sorriso torto ao me ver.

-Ah, é você, querida.

Sua voz me pareceu seca. Eu forcei uma risada.

-E quem mais poderia ser, meu amor? - eu perguntei, e ele deu uma risada - Vamos comer.

Ele assentiu.

-Estarei lá em um minuto.

Assenti e voltei para secar e vestir as crianças. Henrico já estava de pé na cozinha, com uma das mãos apoiada em sua cadeira, nos esperando. Seu rosto era indecifrável.

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