Capítulo XXVIII

8 2 0
                                    

Capítulo XXVIII

Ela olha para mim, e não demora muito para que comece a chorar, e é assim que eu sei que algo sério aconteceu. Nicole não chora, eu nunca a vi ao menos ficar abalada. Eu tomo a liberdade de entrar em sua casa, e trancar a porta.

Alguns dos livros de Nicole estão no chão, junto com as roupas que ela estava usando hoje durante a comemoração, e pelas rolhas e garrafas no chão sei que essa é sua segunda ou terceira.

-O que aconteceu? - eu pergunto, baixinho, enquanto ela continua a soluçar com o rosto escondido nas mãos. Nicole está envolta em um robe, e por baixo ela usa uma camiseta e roupas de baixo - Nicole, o que foi?

Ela vira o resto de vinho da garrafa, antes que eu possa impedi-la, e larga a garrafa em cima do sofá, enquanto escorrega até o chão, se sentando e abraçando as pernas.

Eu me aproximo dela, e me ajoelho no chão ao seu lado, enquanto abraço seus ombros, e esfrego suas costas.

-Nicole, me diga o que aconteceu - eu peço, preocupada.

-M-me desculpe, Amélia - ela soluça - Eu sou um desastre, eu o machuquei... - ela ergue o rosto em minha direção, e tenta limpar e secar o rosto e o nariz, mas lágrimas grandes não param de cair de seus olhos, e sua voz está dolorosamente embargada e angustiada.

-Quem?

-Antônio - ela responde, me olhando como quem pede desculpas. Nicole volta a soluçar - Ele não merecia isso... não merecia...

Eu a abraço, mesmo sem entender e ela continua soluçando.

-O que aconteceu?

-Eu precisava... Ele não merece isso... - ela diz, ininteligível, e seu corpo magro sacode, com o seu choro - Me desculpa...

Eu não estou entendendo o que ela quer dizer, sua fala é confusa e embolada, e antes que eu possa reagir, ela se inclina para o lado, e vomita.

-Nicole!

Ela se recupera rápido, e afunda o rosto nas mãos, voltando a chorar. Eu tento ajudá-la a se levantar, mesmo que Nicole esteja tão zonza que mal consegue se manter de pé. Enquanto estou puxando-a para cima, e tentando evitar que ela caia, sua blusa sobe levemente, e eu posso ver uma cicatriz longa e grotesca em sua barriga. Parece uma cicatriz de cesárea, como já vi em algumas mulheres, mas algo parece errado. O corte parece ter sido feito com algum instrumento que não era próprio para isso, e embora esteja cicatrizada, parece recente. Além disso, o local parece errado, parece ser muito mais acima do que deveria.

Vejo que Nicole parece enjoada, então a seguro com mais firmeza e a apresso até o banheiro, onde ela se debruça e vomita ruidosamente no vaso, durante alguns minutos.

Quando ela parece finalmente ter terminado, ela volta a chorar.

-Nicole, venha, vamos te colocar no banho - eu digo, suavemente, e a ajudo a chegar até a banheira.

Ela se apoia em meus ombros, o que me faz lembrar de quando foi ela quem me ajudou, no dia em que flagrei Henrico e Cordélia pela primeira vez. Ela entra na banheira, tremendo, encolhida, ainda vestida, e eu penduro seu robe para que não molhe, e saio do banheiro, enquanto a banheira está enchendo e ela está se despindo, enquanto aproveito para separar um pijama limpo para ela e arrumar e limpar a bagunça na sala.

Eu volto quando a água e a espuma já estão cobrindo seu corpo, e Nicole está encolhida na banheira, de olhos baixos e chorosos. Ela ainda soluça quando, em silêncio, eu a ajudo a lavar os fios curtos de cabelo ruivo, massageando seu couro cabeludo. Nicole se lava, devagar, como se observasse cada gota de água como se elas fossem perigosas, e eu a deixo sozinha para se secar e se vestir. Ela sai do banheiro cambaleando, e eu a ajudo a chegar até o sofá. Lhe dou uma garrafa de água, que ela vai bebericando aos poucos, hidratando seu corpo depois de tudo isso. Mesmo agora, com ela vestida, eu posso ver sua cicatriz, embora eu tente não fazer isso. Mas meus olhos são atraídos imediatamente para a faixa de pele à mostra.

Bella CiaoOnde histórias criam vida. Descubra agora