Capítulo XXIV

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Capítulo XXIV

Já faz mais de uma semana desde a última vez que falei com Giuseppe, que foi quando ele me trouxe de volta para Montalcino. Eu o vi durante a semana. Ele estava passeando pelo centro com Telma. Como sempre, ela parecia uma espécie de divindade. Eles andaram de braços dados, mas ele mantinha uma certa distância respeitosa. Eu me escondi em uma loja quando os vi, para evitar que eles me vissem. Foi nisso que pensei enquanto esfregava o chão da cozinha de Bianca Mello. Afinal, o que eu tanto estava evitando? Porque a ideia de ver e conversar com Giuseppe e Telma soa tão penosa? Afinal, eu gosto dela. Telma é linda e gentil, e posso já pegar algumas dicas da gestação.

Bem, posso dizer que um dos motivos é por Henrico. Ele deixou claro desde o começo que não quer que eu tenha contato com Giuseppe. Quando eu lhe perguntei, um dia, o porquê, ele respondeu:

-Ele quase nos levou à ruína, Amélia. Se eu não tivesse intervindo, o que teria acontecido ao nosso casamento? Não, eu não o quero por perto. Eu acredito em você, querida, é nele que eu não confio.

Em um certo dia, quando ele me encontrou conversando com Frederick sobre o abrigo antibombas, Henrico quase teve um chilique. Precisei de alguns minutos para acalmá-lo e explicar a situação. Ele bufou um pouco, e pediu que eu evitasse ao máximo ter contato com outras pessoas próximas de Giuseppe.

Bem, se é o que ele quer, ele deve ter algum motivo, imagino.

Minha barriga dói quando paro de esfregar e faço uma pausa para respirar. Sinto câimbras nos músculos das costas, da barriga, próximo às costelas. Dores que se estendem pelos meus braços e pernas, por todo o esforço que tenho feito.

Outro motivo pelo qual evito Giuseppe é porque não quero dar de cara com a verdade. Eu já me convenci de que está tudo bem que Giuseppe tenha escolhido Telma. Já disse em voz alta que ele me esqueceu, e que eu o esqueci. Repito para mim mesma que foi melhor assim. Mas não tenho coragem de me ver de frente com ele e Telma, lindos e felizes, e constatar que tudo o que eu disse e pensei é verdade. Ver a vida esfregar na minha cara que eu e ele não fomos feitos para ficar juntos é doloroso. Por isso é mais fácil deixar para lá. Evitar Giuseppe, evitar Telma. Simples.

Eu levo o dia todo para limpar a cozinha. Esfregar e desengordurar o fogão. Limpar a geladeira e a despensa. Quando está tudo brilhando, sinto orgulho do meu trabalho. Assim que cruzei as portas da casa da família Mello, achei que a casa fosse irrecuperável, mas agora, depois do que passei limpando o banheiro, cheguei a conclusão de que conseguiria fazer o mesmo com o resto da casa. Vou me despedir de Bianca, e ela ergue os olhos do frasco de esmalte que usa para pintar as unhas da mão esquerda.

-Espere aí - ela diz, autoritária, antes mesmo que eu diga alguma coisa. Me pergunto com quem ela tem aprendido a ser tão mandona. Bianca usa a mão sem esmalte para tirar um bolo de dinheiro da roupa na região do busto - Tome. Pegue a sua parte, e o que sobrar eu quero que você compre as coisas para dar o banho das crianças. Ah, e compre comida também. Amanhã o jantar é sua responsabilidade, já que você finalmente limpou a cozinha.

Ela volta à tarefa de pintar as unhas sem olhar para mim. Penso em lhe dizer algo. Será que ela quer ajuda na cozinha, ou quer aprender uma receita nova? Não. "O jantar é sua responsabilidade". Amanhã ela vai estar fora de casa. Murmuro um tchau e aceno para as crianças antes de sair. Em casa, faço uma anotação no bloco de notas para comprar as coisas que Bianca pediu, e algumas que preciso em casa. Deixei o jantar pronto para Henrico, mas ele foi tomar banho, então aproveito que ele está lá para esquentar a comida. Eu e ele temos feito algumas trocas. Eu não como o ovo, porque sempre enjoo, e ele deixa o queijo para mim. Às vezes ele burla a regra e pega um pedacinho, mas tudo bem.

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