Capítulo II

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Capítulo II

Eu ainda tinha os olhos presos no rosto daquele homem, minha boca entreaberta, como se eu não tivesse capacidade de fechá-la por conta própria. A carta balançava em minha mão. Mas eu não tinha consciência de nada daquilo enquanto ainda olhava para o homem de uniforme.

-Senhorita Amélia? - ouvi meu nome ser chamado e enfim voltei a mim.

-D-desculpe, Sr. Rossi, vamos continuar. - eu pigarreei e voltei a falar.

"Mande notícias.

Com amor, Hector"

Terminei e olhei para ele. Ele estava sorrindo e tinha os olhos lacrimosos, me olhando agradecido.

Entreguei-lhe a carta e o envelope. Ele colocou dentro uma pequena quantia de dinheiro, amassado e enrolado, que ele vinha escondendo com medo de ser roubado, e uma florzinha amarela, que deduzi ser a florzinha do campo da qual ele falava. No envelope ele escreveu tudo o que precisava e me entregou novamente para que eu fechasse. Derrubei a cera e fechei com o carimbo, então colei os selos necessários e lhe devolvi, instruindo-o sobre como enviar a carta a partir dali.

Quando ele foi embora, finalmente vi as horas e senti todo meu sangue gelar. 12:37.

Eu já tinha perdido alguns minutos. Saltei da poltrona e agarrei minhas coisas, os dedos tremendo. Enquanto me encaminhava para a porta, o senhor Luigi me chamou.

-Amy, uma palavrinha, por favor.

-Sim, sr. Luigi? É Amélia na verdad-

-Sim, sim, claro. - ele pigarreou - Preciso conversar com você.

-Será que não poderíamos conversar amanhã? Eu estou um pouco atrasada.

-Vamos - ele insistiu - Tenho um cliente especial para você. Ele está disposto a pagar uma quantia muito maior do que o normal.

Assenti com energia.

-Claro, claro, mande-o para minha mesa amanhã!

E sem lhe dar chance para dizer mais nada, eu saí.

12:43.

-Ó céus... - murmurei enquanto caminhava apressada pelas ruas irregulares de paralelepípedo.

Eu precisei me apressar mais do que fazia normalmente, e logo senti meu corpo adquirir uma pequena camada de suor. Minha respiração já estava descompassada, mas ainda assim eu não parei. Mordi os lábios e segui, desacelerando vez ou outra para recuperar o fôlego. Ao chegar ao topo de uma rua, só pude ouvir uma buzina alta e pulei no lugar, com o susto.

-Ei! - senti uma voz grave chamar, em tom de bronca - Você está bem? O que está fazendo no meio da rua? Quase a atropelei!

-Perdão, p-p-perdão - respondi, esbaforida. Apoiei as mãos nos joelhos e me inclinei para a frente, tentando recuperar o fôlego - Só estou indo trabalhar, a calçada é acidentada demais... perdão, eu realmente est-estou com pressa.

Sem olhar para trás, sem ao menos ter visto o rosto do homem que quase me atropelara, eu continuei. Quando atravessei os portões da vinícola, voei para a fábrica, sem tempo para apreciar o cheiro das uvas.

Me posicionei de frente para a bancada e, mesmo com o mundo girando, permaneci em pé e olhei o relógio. 13:11. Suspirei, aliviada e me apoiei na bancada.

-Pss, Amélia? - olhei para trás - Está tudo bem? Que diabos aconteceu com você?

Aquele era Antônio Sartori, meu melhor amigo. Ele era alguns meses mais jovem do que eu, porém mais alto e, claro, bem mais forte. Ele também trabalhava na vinícola, e, na verdade, tinha começado anos antes de mim. Ele era carregador, o que significava que seu corpo forte não era a toa. Ele passava o dia carregando as uvas da plantação até a fábrica, caixa atrás de caixa, pesadas, apoiadas em suas costas.

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