Capítulo XX

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Capítulo XX

Um milhão de possibilidades passam pela minha cabeça. Cada passo que eu dou parece ecoar ensurdecedoramente pelo corredor. Fico tão nervosa que meus joelhos tremem, minhas pernas ousam falhar, e a porta parece cada vez mais distante, ao invés de próxima.

Ali, nervosa, de estômago vazio, fico enjoada de novo, mas não tenho nada para vomitar, então abraço o corpo.

-Eu não... me sinto bem... - digo, baixo, e a irmã Marge me olha um tanto impaciente, se aproxima e segura meu braço.

-Vamos, querida.

Não tenho escapatória, senão segui-la. Ainda confabulo milhões de possibilidades em minha mente, me perguntando o que está acontecendo, por que estou sendo levada?

Penso nas coisas que tenho feito aqui, que podem ser consideradas erradas.

Será que foram as cartas? Escrevi algo de errado? Ou descobriram sobre minhas conversas com Nicky? Descobriram o que temos dito em segredo? Os xingamentos e reclamações sobre a instituição. Talvez tenham descoberto sobre as discussões, sobre esse lugar ser um novo campo de concentração.

Talvez tenham descoberto que eu menti o tempo todo.

Eles conseguiram, sim, fazer com que eu duvidasse de tudo o que eu acreditava. Eu pensei se Henrico tinha razão. Pensei que estava errada com relação à Giuseppe. Afinal, o que eram dois meses em comparação a quatro anos?

Mas eles não conseguiram me quebrar. Eu ainda acreditava em Giuseppe e no que tínhamos sentido.

Será que é isso? Eles descobriram todas as minhas mentiras, minha atuação? Me lembro de construir, ao longo das sessões com o doutor Ângelo, uma história, bem convincente, de uma mulher arrependida, que reconhece o que fez e que pede perdão.

-Então, Amélia, como você tem se sentido? - ele perguntou, numa sessão qualquer.

Eu meio que dei de ombros, olhando pela janela. Virei o rosto devagar para encará-lo ao falar:

-Eu... eu estou bem, doutor - ele ergueu uma sobrancelha, meio que questionando o que eu disse - Eu tenho refletido sobre a minha vida até então, e... Eu daria tudo para voltar atrás.

-Onde você gostaria de estar agora, Amélia?

Eu consegui sorrir docemente, apesar da mentira. Meus olhos lacrimejam.

-Em casa... - eu sussurrei - Com o meu marido. Abraçados no sofá, conversando sobre qualquer coisa. De pé, na cozinha, com ele me esperando enquanto termino o jantar... De volta a nossa vida normal...

Eu não deixo as lágrimas caírem. As seguro bravamente, e deixo o rosto tranquilo. Deixo de fora o fato de que a vida normal significava eu ficar em casa, desinformada e ingênua, enquanto Henrico me traia com Cordélia, ou saia para torrar o dinheiro no bar.

O doutor Ângelo me olhou de uma forma, como se estivesse particularmente orgulhoso, não de mim, mas de si mesmo, por um trabalho bem feito.

-É bom ouvir isso, senhora Stronzo.

Eu devolvi o sorriso para ele, forçando uma expressão doce ao som do sobrenome de Henrico.

Ter me tornado uma boa mentirosa durante esse tempo não era exatamente algo de que eu me orgulhava, mas que eu imaginava que estava me salvando. Até agora.

Mas sendo conduzida pela irmã Marge, eu só imaginava que agora minha boa interpretação tinha sido descoberta, e isso iria me levar à ruína, era a pior coisa que eu tinha imaginado que poderia acontecer, afinal, era o que eu tinha feito de mais grave. Até então.

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