Capítulo XXX
A quarta-feira começa agitada, mas, apesar de tudo, eu sinto que vou ter um bom dia.
Deixo as coisas separadas para terminar a encomenda do General Grecco à tarde, a tempo de entregá-la ainda fresca. Sei que ele me convidou para ir à sua festa, mas não pretendo ir, obviamente. Por isso, não me preocupo em separar roupas ou maquiagem para isso.
Tiro um tempo da minha manhã para tomar um banho quente, já que meu corpo está todo dolorido. Debaixo da água, deixo meu corpo relaxar e acaricio minha barriga, pensativa.
-Somos só eu e você - eu murmuro.
O bebê não se mexe.
Saio do banheiro ainda enrolada em uma toalha, e vou até o quarto para separar uma roupa.
Antes de me vestir, tiro um momento para observar o meu corpo no espelho, e ver as mudanças que aconteceram com ele desde que engravidei.
A mudança mais óbvia, claro, é a barriga que cresceu, e está arredondada. Ela não está tão aparente, já que não tenho ganhado muito peso, graças à dieta pobre em que estou. Talvez com o negócio dos pães o dinheiro melhore e eu possa melhorar a comida também.
Apesar disso, eu vejo as marcas que começaram a surgir, na barriga, nos quadris e nos seios. Estrias onde a pele começou a esticar. Ainda estão bem leves, mas não posso deixar de olhar as marcas com receio.
Eu me visto depois disso, escolhendo uma saia longa e uma blusa de botões, que fica um pouco justa, já que meus seios cresceram, pois meu corpo já está se preparando para produzir leite para o bebê. Troco a blusa por outra mais larga e termino de me arrumar.
Minha manhã é silenciosa, e eu tomo café da manhã devagar. Nada muda, e eu vou caminhando até a Scrivano.
Eu fico em silêncio sempre que posso, e não sinto vontade de conversar hoje, mas sempre que aparece um cliente eu abro um sorriso e converso entusiasmada. Faço o meu melhor. Mas queria estar em casa.
Não.
Na verdade, eu gostaria de estar em qualquer outro lugar. Dentro de alguma memória boa. Antes de tudo acontecer. Ou...talvez... com Giuseppe.
Mas aí eu me lembro que tenho um bebezinho crescendo.
Suspiro, e me arrasto pela manhã, até chegar a hora do almoço. Dou um aceno para Nicole, para que ela saiba que volto logo. Ela responde com outro aceno e um sorriso, que se desmancha assim que ela pensa que não estou mais olhando. Eu não sou a única que está em um dia ruim.
-Ah! - exclamo, ao esbarrar em alguém, enquanto andava, distraída.
-Amélia! - é Antônio, que me segura com cuidado pelos ombros e me ajuda a me equilibrar - Você está bem?
Faço que sim e abro um sorriso para ele.
-Claro. E você? O que faz aqui? Como estão todos em casa?
Ele faz uma careta, perdido entre as minhas palavras, mas toma um momento para raciocinar e dá um sorriso, antes de responder:
-Ah, estamos bem. Eu vim entregar uma carta que minha mãe quer enviar para uma tia minha e...
Nós conversamos um pouco, mas eu o deixo ir, e observo o que ele faz, enquanto espero Pietro aparecer.
Antônio vai até a mesa de Nicole, mesmo que outras escreventes também estejam sem clientes. Nicole o atende sem o olhar nos olhos, e mesmo a essa distância consigo ler seus lábios e ver que ela está recitando mecanicamente as boas vindas tradicionais da Scrivano. Eu a vejo estender a mão para a carta que Antônio segura, mas ele coloca a carta na mesa e segura a mão dela com carinho, inclinando-se sobre a mesa para ficar a mesma altura que ela. Ele está de costas para mim, então não sei o que ele está dizendo, mas posso ver Nicole virando o rosto, seu queixo e testa estão franzidos num esforço heróico de não chorar.
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Bella Ciao
RomanceAmélia tem uma paixão por cartas de amor, mesmo sem nunca ter recebido uma. Ela está acostumada ao trabalho e a vida pacata na pequena e tranquila villa italiana, que nem mesmo a guerra conseguiu agitar. Apesar da vida simples, ela é feliz no trabal...