Capítulo XXIX

9 1 0
                                    

Capítulo XXIX

De manhã, quando acordo, sei que Nicole vai acordar precisando comer algo, e com uma dor de cabeça insuportável, então eu me levanto e começo a preparar o café da manhã enquanto ela dorme. Seu rosto está inchado e vermelho, o que não me surpreende, pelo tanto que ela chorou. Sua história ainda ecoa em meus ouvidos, e me pergunto como alguém pode suportar tanta dor.

Preparo um café da manhã reforçado, que fica pronto na mesma hora em que ouço Nicole murmurar do quarto:

-Amélia? - sua voz está rouca e ela ainda parece grogue quando apareço com a bandeja do café da manhã. Nicole está toda amassada, e seus cabelos estão mais rebeldes do que o normal - O que é tudo isso?

Eu dou um sorriso, enquanto me sento na cama.

-Café da manhã. Imaginei que você fosse precisar. Como se sente?

Nicole pisca devagar, franzindo o rosto.

-De ressaca - ela abre e fecha a boca - Parece até que eu comi um gambá... Isso são beignets?! - ela pega uma com as pontas dos dedos em pinça, e sente o cheiro que elas exalam, ainda quentinhas, e come um pedaço, se sujando de açúcar de confeiteiro - Meu Deus, Amélia, eu te amo!

Eu dou risada de sua reação, e aproveito para servir uma xícara de café forte, que Nicole bebe agradecida.

-Estou me sentindo paparicada - ela diz, depois de comer, limpando os cantos da boca. Ela se encosta no travesseiro, e mexe nos cabelos ruivos - Obrigada, Amélia.

-Não foi nada - eu a tranquilizo - Como você está se sentindo? - pergunto novamente, mas dessa vez Nicole sabe que a pergunta tem um significado diferente.

Ela morde o lábio, devagar, refletindo.

-Eu me sinto melhor, obrigada... Eu nunca dividi isso com ninguém, e... foi um alívio.

-Com ninguém, Nicole? - eu murmuro, preocupada, e ela encolhe os ombros.

-Não totalmente. Eu contei só o básico para o tio Luigi. E para Antônio. Ele sabe que eu passei por coisas difíceis, e sabe que não posso ter filhos...

A voz de Nicole vai morrendo aos poucos, ao se dar conta de que está falando de Antônio.

-Vocês deveriam conversar - eu sugiro - Ele vai entender, Antônio é muit- Por que? - pergunto, já que eu nem terminei de falar, e Nicole já está fazendo que não com a cabeça.

-Eu disse a você, Amélia - ela responde, baixo, e de testa franzida - Eu tomei minha decisão. Antônio não precisa de alguém tão quebrada e com tantos problemas. Ele não deve abrir mão das coisas que ele quer, por minha causa.

Eu bufo, e dessa vez não resisto ao impulso, e a seguro pelos ombros e a chacoalho.

-Nicole, pare de dizer que você está quebrada, ou coisa do tipo! Vocês precisam conversar, ver o que cada um quer. Não é como se tudo estivesse perdido.

Mas Nicole tira minhas mãos de seus ombros, e se afasta um pouco, se encolhendo na cama, enquanto abraça os joelhos.

-Não, Amélia.

Pelo seu tom, sei que ela não quer mais discutir esse assunto. Eu fico em silêncio, sem saber o que dizer, mas eu a vejo franzir a testa.

-Eu nunca perguntei o que você veio fazer aqui... - ela diz - Desculpe, não me entenda mal, Amélia - ela sacode a cabeça - Estou feliz que você esteja aqui, mas... Acho que ontem eu estava bêbada demais para me lembrar.

Ela dá uma risada, e apoia a cabeça nas mãos, enquanto me observa.

Eu tento devolver o sorriso, e parecer casual enquanto digo:

Bella CiaoOnde histórias criam vida. Descubra agora