Capítulo XXXVIII

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Capítulo XXXVIII

O dia de hoje é o dia em que se completa um mês de toda a tragédia. Exatamente um mês.

É, também, a primeira noite em que, quando me deito, realmente consigo dormir. Não sei qual a explicação. Talvez seja o banho demorado que tomei, talvez o pijama novo, de seda creme. Talvez não haja explicação. Mas eu dormi.

Giuseppe veio me dar boa noite, como sempre. Ele bate levemente na porta e sorri quando eu atendo. Nunca parei de me admirar com a forma que seus sorriso se estende para todo o rosto, principalmente para os olhos verdes.

-Eu vim lhe desejar boa noite, Amélia - ele diz, baixo, com sua voz agradável.

Eu dou um sorriso, o melhor que consigo. Ele me abraça, e sinto meu corpo relaxar, protegido. Afundo meu rosto em seu ombro, sentindo todos os aromas agradáveis que ele exala. Giuseppe tem um cheiro único, que reúne todas as coisas agradáveis e familiares, ao mesmo tempo únicas e diferenciadas. Ele tem cheiro de lenha recém-partida, terra molhada da chuva, maresia. Algumas notas cítricas. O aroma de um expresso recém-feito, denso, cremoso e quente. Um toque floral quase imperceptível. Todos os cheiros que se diferenciavam, e, ao mesmo tempo, combinavam de forma agradável.

Ele se afasta com leveza e sussurra:

-Boa noite, Amélia.

-Boa noite, Giuseppe - eu forço minha voz a sair, ainda mais baixa do que a dele.

Ele sorri, talvez surpreso por ver que ainda sei falar. Ele se vai e eu fecho as portas. Quando me deitei, caí em um sono agitado.

******

Me senti caindo, e abri os olhos, em um solavanco, abraçando meu corpo para protegê-lo. Preciso olhar para confirmar, quando sinto minha barriga grande e redonda, que eu não esperava encontrar. Claro, foi tudo um sonho ruim. Está tudo bem, estou no fim da gestação. Falta pouco para o meu bebêzinho estar aqui comigo. Me levanto com um sorriso da cadeira de balanço onde cochilei.

Do lado de fora da janela está escuro, como se fosse noite. Enquanto procuro por alguma estrela no céu, uma dor se espalha pelo meu corpo. Seguro minha barriga. A dor se propaga a partir do meu ventre, para todo o resto. Solto um grito, e quando abro os olhos novamente, estou com os braços presos em uma camisa de força.

Não consigo fazer nada, e não há ninguém por perto para ajudar meu filho a nascer. Preciso fazer isso sozinha. Tento me soltar. Grito. Brigo com as amarras, enquanto tento fazer força para o bebê nascer. A dor cresce. Sei que estou chorando a essa altura.

-Amélia! - uma voz me chama. Olho ao redor, mas não há ninguém. - Amélia, acorde!

Respiro fundo e abro os olhos. Estou de volta ao quarto na casa de Giuseppe. Ele me observa com preocupação.

-O-o bebê... - eu sussurro, tocando minha barriga.

A realidade me atinge como um tapa. Mordo a língua para a dor me distrair e eu não chorar na frente de Giuseppe. Mas já é tarde, ele parece ainda mais preocupado.

-Você está bem? - ele gagueja um pouco.

Eu hesito, mas faço que sim. Giuseppe ergue uma sobrancelha, e toca meu rosto com uma das mãos, fazendo com que meu olhar encontre o seu.

-Não... - eu admito, pela primeira vez. - Eu sonhei com o beb-bê...

Ele me abraça. Eu deixo, por alguns momentos. Afasto-o um pouco, quero dizer a ele que o amo.

-Você precisa ir - eu digo, no lugar. - Eu estou bem - minto.

-Eu posso ficar. Aqui, com você - ele oferece. Eu nego com a cabeça. Nós dois sabemos que ele precisa fazer coisas importantes. Ele sorri e beija meu rosto. - Nos vemos mais tarde, Amélia.

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