Capítulo V

55 3 0
                                    

Capítulo V

-Querido, cheg-... 

Fechei a porta em silêncio, com um suspiro profundo. Ele não estava em casa.

Normalmente era eu quem chegava primeiro, mas naquele dia Henrico já deveria estar em casa. Ele deveria estar em mais um turno prolongado, ou fazendo horas extras.

Tirei os sapatos e massageei os pés doloridos, ao mesmo tempo em que esticava as costas. Minhas mãos doíam, cheias de câimbras de tanto sovar massas ao longo do dia. Mas eu já estava acostumada, aquilo ocorria todos os dias, então não dei importância. Mesmo que meus músculos reclamassem, comecei a guardar as coisas que tinham ficado na mesa do café da manhã na geladeira. Fui limpando e guardando, até que encontrei, debaixo de um prato e migalhas de pão a carta que escrevi para Henrico. O envelope estava coberto de migalhas e até tinha uma marca de geléia em formato redondo, do apoio do prato que Henrico usara.

O lacre estava intacto.

Henrico não abrira a carta, talvez nem tenha reparado nela.

Por alguns momentos não pude me mover, presa naquele momento, olhando para a carta. "Henrico, meu amor" escrito em minha própria caligrafia me encarando de volta, enquanto imaginava porque a carta passara despercebida.

Repassei a cena em minha mente milhões de vezes. Imaginei Henrico, atrasado para o trabalho, ainda vestindo o macacão, tentando abotoá-lo ao mesmo tempo em que passava geleia desleixadamente em um pão e o enfiava na boca, então enlaçando os cadarços do sapato. Depois disso ele se erguia, pegava as chaves na mesa e saia para trabalhar.

Mas não adiantava.

Em todas as cenas ele notava a carta. A pegava e enfiava no bolso para ler mais tarde, ou rompia o lacre e a lia rapidamente. Ou até mesmo a colocava em outro lugar, mesmo a deixando em casa, talvez na mesinha de centro, ou em cima do travesseiro. Mas não a deixava esquecida debaixo de uma confusão de migalhas, pratos e geleia.

NÃO!

Amélia, não seja louca, me repreendi. Ele estava apenas com pressa e não teve tempo de notar a carta.

Está bem, está bem. Respirei fundo e peguei o envelope, limpando-o como pude e o guardei em minha gaveta. É, eu o entregaria mais tarde. Talvez.

Lavei a louça e varri a cozinha e os quartos. O curioso é que, enquanto varria a sala encontrei uma garrafa vazia de cerveja. Eu me lembrava de Henrico bebendo uma garrafa um dia desses. Ou duas. Ou será que foram três? Está bem, isso não importava, mas eu me lembrava de ter recolhido e jogado fora! Será que eu a havia esquecido?

Era possível, assim como Henrico voltava exausto, eu também andava precisando de uma pausa - embora eu não demonstrasse e não admitiria, afinal era meu dever manter a casa em ordem. Essa deveria ser a explicação: o cansaço vinha me deixando relaxada.

Peguei-a e cheirei o bico da garrafa. Não tinha cheiro de cerveja velha.

Mesmo que eu quisesse esquecer e jogar fora, algo na garrafa me incomodava, assim como o envelope, também me deixando hipnotizada durante alguns minutos. Por fim, respirei fundo e continuei meus deveres.

Preparei o jantar. Preparei uma sopa cremosa de cogumelos com batatas. O cheiro estava maravilhoso e me fazia salivar. Desde que Giuseppe chegara e reservara seu horário comigo meu salário tinha aumentado consideravelmente, então nossa alimentação, minha e de Henrico, tinha melhorado muito.

A possibilidade de comer cogumelos e batatas frescas provavam o que eu dizia.

Havia um restinho de pão amanhecido, então decidi cortar e colocá-lo no forno por um tempinho com algumas ervas, assim poderia amolecê-lo.

Bella CiaoOnde histórias criam vida. Descubra agora