Capítulo XLVIII

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Capítulo XLVII

Giuseppe dorme com o cenho franzido, seus pensamentos o atormentando mesmo durante o sono. Depois que voltamos para casa, depois de Nicole ir embora, e depois de deixar um abalado Antônio em casa, não dissemos nenhuma palavra. Não haviam palavras a serem ditas. Havíamos nos deitado na cama, embalados pelos braços um do outro, e ficamos em silêncio, sem conseguir dormir, até o cansaço nos vencer.

Ele parece sentir que o estou observando, pois desperta devagar, mas a expressão angustiada não cede. Seus olhos encontram os meus, e eu franzo as sobrancelhas para ele, num gesto que mostra minha preocupação. Minha mão está repousada em seu peito, e ele a segura, acariciando meu braço, e planta um beijo na minha mão.

-Podemos ficar aqui hoje - digo, e sua resposta é uma risada fraca.

Giuseppe me traz para perto e me abraça, em silêncio. Com o rosto recostado em seu peito, ouço seu coração batendo. Ele recosta a face contra minha cabeça, e o sinto respirar. Tudo em Giuseppe denuncia sua dor e sua frustração.

-Eu sei que está chateado - sussurro, e ele se afasta para me olhar. - Você não tem culpa, Giuseppe.

Os olhos dele, cansados e cheios de tristeza, fixam-se nos meus, com uma vulnerabilidade que raramente vi.

-Não posso deixar de me sentir culpado, Amélia - sua voz, não mais alta do que um sussurro, é carregada de culpa. - Nicole e Saul tiveram que partir por causa do perigo do qual não pude protegê-los. Eles estão fugindo para salvar suas vidas porque não consegui mantê-los seguros.

Estendo a mão para acariciar sua bochecha, meu polegar enxugando uma lágrima perdida. O obrigo a encontrar meu olhar, vendo seus olhos verdes nublados de tristeza.

-Giuseppe, você não é todo-poderoso. Nenhum de nós é. Você fez tudo o que pôde - ele franze a testa, com os olhos brilhando de lágrimas, e eu pressiono minha testa contra a dele, desejando poder arrancar o desespero de seu peito e carregá-lo sozinha. - O mundo está em guerra, e às vezes tudo o que podemos fazer é tomar as escolhas mais difíceis.

Seu aperto em minha mão aumenta, como se ele tivesse medo de soltá-la, e um suspiro pesado, com a respiração tremendo, lhe escapa.

-Eles estão sozinhos lá fora agora. Parece que estou falhando com todo mundo, Amélia. Não posso proteger você, Nicole, Saul. Isso me assusta.

Respiro fundo, tentando controlar minhas próprias emoções conforme meus olhos se enchem, ameaçando derramar. Mas Giuseppe já foi muito forte por mim, preciso ser forte por ele agora. Enxugo mais uma lágrima de seus olhos verdes.

-Meu amor, você é a pessoa mais forte que eu conheço - sussurro com a voz cheia de convicção, e prendo seu olhar ao meu. Assinto com a cabeça para enfatizar o que digo, quando vejo a dúvida marcada em sua face. - Seu amor, seus sacrifícios, tudo o que você já fez para nos proteger, significam tudo para nós. Para mim. Você já deu tudo de si para nos proteger.

Giuseppe fecha os olhos, e sinto seu corpo tremer quando todas as emoções que ele reprimiu por tanto tempo finalmente se libertam.

-Mas e se não for o suficiente? - ele questiona, a voz quase inaudível. - E se algo acontecer com eles, e eu não puder fazer nada?

Meu coração dói junto ao dele, e pressiono meus lábios aos seus, numa forma de tê-lo ainda mais perto, compartilhando nossa dor e desamparo. Provo o sal de suas lágrimas, e ao nos separar mantenho meus olhos nos dele.

-Não podemos controlar todos os resultados. Eu não tenho uma resposta para isso, querido - beijo seu rosto com carinho. - Mas vamos estar um ao lado do outro, nos apoiando e apoiando nossos amigos.

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