Capítulo III

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Capítulo III

Como sempre, acordei cedo. Henrico tinha os braços monstruosamente musculosos ao meu redor, abraçando minha cintura. Fui me contorcendo para fora da cama, devagar. Henrico odiava ser acordado mais cedo do que deveria.

Lavando o rosto com água fria, logo comecei a vestir-me para o trabalho. Luigi dissera que tinha um cliente especial hoje, alguém disposto a pagar uma grande quantia. Vesti a mais bonita de minhas saias, uma rosa claro, até os tornozelos, que fazia conjunto com um blazer de mesma cor, que eu coloquei por cima de uma blusa branca, e sapatos pretos.

Olhei-me já totalmente vestida, e meu olhar foi, subitamente atraído para meu marido, deitado ainda dormindo. Que ele diria se me visse arrumada daquele jeito? Certamente não gostaria. Nunca gostou que eu me arrumasse demais para o trabalho. E ele está certo, pensei. Como veriam as pessoas, uma mulher casada se arrumando tanto para o trabalho?

Suspirei, guardaria aquela roupa para outra ocasião. No lugar vesti uma saia verde escuro, ainda assim elegante.

Nada de perfume ou maquiagem demais, Amélia, somente o necessário.

Pronta, finalmente, me pus a caminhar, cobrindo a distância até a pequena empresa em poucos minutos, como era de costume.

Percebi que estava alguns minutos atrasada, mas de qualquer forma, não havia mais ninguém além das escreventes, Sr Luigi e um homem alto que conversavam.

Com a minha mesa finalmente arrumada, chegou Sr Luigi:

-Emília, o cliente do qual conversamos ontem. Por favor, faça bem seu trabalho, minha cara.

-Sempre, Sr Luigi - garanti-lhe, sem me dar ao trabalho de corrigir meu nome.

Ele se retirou, voltando ao seu posto, ao mesmo tempo em que o homem alto se aproximava, e somente quando ele estava perto é que pude reconhecê-lo.

-Muito prazer, Emília - ele disse, ainda distraído, me estendendo a mão, sem realmente olhar-me no rosto.

-Amélia, na verdade, prazer.

Foi algo em minha voz que o despertou, fazendo-o finalmente esquadrinhar meu rosto e dizer em tom perplexo:

-Você, hein? - seu rosto belo se iluminou com um sorriso - Como está seu braço?

Antes que eu pudesse responder, ele segurou minha mão que estava em cima da mesa e puxou-a para si, examinando minha mão e antebraço com cuidado, fazendo careta ao ver a pele queimada, vermelha e sensível.

-Poderia ser pior - eu sussurrei, me referindo a assadeira que ele próprio tirara do forno, antes que caísse em mim - Graças a você, não foi, muito obrigada.

Ele assentiu com a cabeça. Diante do silêncio, me senti desconfortável. Mesmo que seus olhos estivessem presos à madeira gasta, sentia como se ele me examinasse.

-Então... - eu comecei, devagar - Você pode não saber, mas eu já... nós dois já tínhamos nos visto antes da vinícola. Aqui mesmo na Scrivano, algumas horas antes do incidente com a assadeira. Eu o vi enquanto conversava com o Sr Luigi. Achei que deveria saber - completei mais baixo.

Ele riu baixo com um sorriso amplo

-Sim, Amélia, eu me lembro. Na vinícola eu não me lembrei, mas assim que a vi hoje, eu lembrei.

Sorri de volta, mas interrompi-o.

-Perdão, mas acho que é mais... adequado que me chame pelo sobrenome. É... mais profissional.

-Claro - ele assentiu uma vez - e qual é mesmo seu sobrenome?

-Stronzo - eu respondi com um riso.

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