Capítulo XVII

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Capítulo XVII

Quando a porta se fecha atrás de mim, e sei que, agora, não há mais formas de escapar dessa conversa, é que digo:

-Precisamos conversar, Henrico.

O rosto dele está vermelho, e sei que ele está bem irritado. Quase consigo imaginá-lo espumando quando diz:

-Conversar? Sobre o que, exatamente, Amélia? Sobre você ter passado uma semana inteira na casa desse cara?! - ele diz, quase gritando, apontando desgovernadamente para a janela, e, claro, se refere à Giuseppe.

-Henrico... - eu mesma posso perceber o tom de súplica em minha voz - Olhe só para nós...

-O que estava fazendo com ele? Hein?! - ele me interrompe - Eu fiquei aqui sozinho!

-Você estava na casa de Cordélia, Henrico - eu digo, logo, antes que perca a coragem - E-eu vi você... - e aquelas imagens afloram em minha mente e logo fazem com que meus olhos se encham - No nosso aniversário...

E aquilo parece confundi-lo, porque vejo seu nariz franzir-se. Isso só confirma o que eu vinha tentando evitar pensar: ele nem ao menos se lembrou. E isso, de certa forma, faz com que eu queira continuar falando:

-Sexta-feira, era o nosso aniversário de casamento... Eu pensei que você tivesse se lembrado - eu seco os olhos, porque não consigo vê-lo através das lágrimas - Eu pensei que você estivesse me preparando uma surpresa, quando eu vi o recibo da joalheria...

A menção ao recibo faz com que o rosto dele se retorça em uma careta, e ele passa a mão pelos cabelos louro escuros, penteando-os para trás.

-Mas era para Cordélia - eu sussurro - Esse tempo todo... Por que você fez isso comigo, Henrico? Por que? - eu soluço, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto - Por que teve que ser assim? Você podia ter conversado comigo, não me trai-

E, antes que eu possa me esquivar, ele avança em minha direção, e seus dedos se emaranham em meus cabelos, próximo ao couro cabeludo, e Henrico os puxa, enquanto me encosta contra a parede.

-Cale... a... boca... sua... - ele diz, ofegante, e seja lá qual xingamento ele fosse usar, se perde - Não venha me falar algo quando você mesma esteve a semana toda trancada na casa do soldado. O que vocês estavam fazendo esse tempo todo? Hein?! Sua...

-Henrico, por favor... - eu sussurro, implorando - Eu estava doente, Henrico - ele puxa mais o meu cabelo, fazendo meus olhos lacrimejarem de dor - Eu estava com rubéola... Pode perguntar, Corinna estava lá... Corinna e Antônio... Henrico...

-Mentirosa - ele diz, cuspindo - Era você quem estava me traindo, não era? Com o do exército. Sua... Sua...

-Não... - eu me apresso em dizer - Eu estava doente, Henrico, por favor...

E ali, acuada, penso em como me torturei a semana toda, pensando nele, me culpando. Desde quando ele era tão agressivo?

-Você gosta da Cordélia - eu digo, quase sem fazer som algum - Você não me ama, Henrico - me surpreendo quando faço eu mesma essa constatação. E dói, mas também me alivia - Você não me ama, está tudo bem... Me deixa ir...

Eu olho em seus olhos escuros, buscando algo. Algo que me diga que está tudo bem, que ele ainda me ama, ou não. Que podemos viver bem, separados ou não.

Mas não há nada. Só o que vejo é uma espécie de raiva inflamada, quente e perigosa como um incêndio. Enquanto Giuseppe era quente e controlado como uma fogueira de acampamento, ou como as inofensivas chamas na lareira, Henrico era como um incêndio inteiro, do tipo que devastava florestas inteiras e as reduzia a cinzas.

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