Capítulo IV

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Capítulo IV

Já havia uma semana que estava trabalhando com Giuseppe, e mesmo assim pouco sabia sobre ele. Suas cartas eram sempre para a noiva, que permanecera na capital. Giuseppe nunca escrevia cartas elaboradas. Conversava mais sobre amenidades, como havia sido o dia, descrevia a cidade. Me deixava fazer apenas pequenas alterações, e não tinha interesse em incrementar suas palavras, torná-las mais românticas. Na verdade, pouco declarava seu amor à moça. Não que fosse frio, longe disso, era realmente carinhoso, porém apenas o necessário. Ainda não tinha dito nada relevante sobre seu papel na guerra, o que faria enquanto alistado ao exército, mas não podia culpá-lo, por que uma mera escrevente seria digna de informações tão confidenciais? Ou se a carta fosse interceptada? Não queria pensar nisso.

Giuseppe era um bom cliente. Muito respeitoso e pontual, nunca ia embora muito tarde, o que ajudava para que eu não perdesse tempo no trajeto até a vinícola. Era bem simpático e sorridente, sempre me cumprimentava com um sorriso que se estendia aos seus belos olhos verdes, tão claros que eu só podia especular que tivessem a cor do mar, segurava minha mão e tocava os lábios nela. Não podia deixar de reparar que seu dedo sempre tocava minha aliança, que era fina, simples e desbotada, de um material barato, o único que eu e Henrico podíamos pagar. Não parecia uma provocação, ou desprezo, apenas um lembrete para ele mesmo de que ela estava ali.

Seu único defeito eram suas despedidas. Sempre terminava as cartas com aquela frase infame: Querida, adeus.

Não adiantava discutir, sua palavra era final, e ele não mudaria.

Depois de um tempo desisti de insistir, não queria ter uma urticária.

Eu já mencionara meu novo cliente para Henrico algumas vezes, mas não tenho certeza se ele realmente prestou atenção. Não podia culpá-lo, é claro. O coitado vinha tendo horas extras todas as noites, chegava exausto. Nosso jantar estava sempre pronto para quando ele chegasse. Ele comia, tomava banho e... nos deitávamos.

E era só. Ele dormia rápido e mal conversávamos. Às vezes eu me sentia culpada por ficar com raiva, pois queria que tudo fosse para sempre como o começo do nosso casamento. Conversávamos mais naquela época... eu acho.

Chacoalhei a cabeça.

Não, Amélia. Não o culpe. Henrico está trabalhando feito um cão.

Abri os olhos, sem conseguir dormir e observei meu marido, roncando, enquanto pensava o que poderia fazer por ele.

Então minha mente acendeu como uma lâmpada.

Era tão óbvio, eu escrevia milhares de cartas e muitas delas eram cartas de amor, e de repente era como se eu tivesse chumbo no peito quando me dei conta de que nunca havia escrito uma carta para Henrico. 4 anos juntos.

Me levantei da cama sem fazer barulho, meu robe e camisola se arrastando aos meus pés e fui até a cozinha. Eu mantinha uma coleção de papéis e envelopes de cartas e decidi usar um deles.

******

"Henrico,

Meu amor, nossas últimas semanas têm sido corridas por causa do trabalho e muito silenciosas. Não o culpo, pois sei que está cansado e tem trabalhado tanto.

Por isso lhe escrevo, querido, para ter em registro o quanto o amo e admiro.

O admiro por seu esforço e sua coragem, como quando éramos adolescentes e você me protegia dos outros garotos, que gostavam de implicar.

Já havíamos nos conhecido antes no colégio, mas nunca tínhamos conversado antes desse dia. Eu o amo desde então, querido.

Amo nossa rotina, cozinhar para você, e sou feliz pelas escolhas que fiz, pela pessoa que sou ao seu lado, e me orgulho do homem que você é.

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