Capítulo LIII
A manhã passa se arrastando, o cansaço fazendo meus olhos pesarem, minhas mãos tremerem e minha mente vagar para as horas sem dormir no sofá duro e desconfortável, e ao medo de Henrico. Tento me concentrar no trabalho, mas a imagem de Henrico e o som de sua voz insistem em invadir meus pensamentos, transformando a manhã em um tormento interminável.
Cada pequeno barulho no escritório me deixa agitada. Parece que os meses que passei ao lado de Giuseppe, me tornando confiante e cheia de vida, regrediram em apenas uma noite. Meus nervos estão em frangalhos, e, sem permissão, memórias de Henrico invadem minha mente quando tento me concentrar. Sons normais do escritório, que antes passariam despercebidos, hoje me transportam para aquele dia terrível. As teclas das máquinas de escrever ao meu redor lembram o barulho que a porta fazia ao bater. O burburinho comum da Scrivano me lembra das ameaças de Henrico. O clique de uma caneta me faz recordar o som seco de um soco que me tirou o ar e me fez perder o equilíbrio. Cada ruído é um eco de um passado que tento desesperadamente esquecer.
É impressionante o quão rápido ele é capaz de me afetar. Mesmo sabendo tudo que Giuseppe faz para me proteger, a ideia de mais uma noite me perguntando se Henrico vai decidir me atacar é insuportável.
Então, quando a hora do almoço chega, estou desesperada por uma pausa, para me afastar de todos aqueles pensamentos. Giuseppe é uma presença tranquilizadora ao cruzar as portas e vir até mim. Até suspiro alto, aliviada, me apressando para encontrá-lo.
-Pronta para o almoço? - ele pergunta, com um sorriso.
Balanço a cabeça, minha mente imediatamente se acalmando ao saber que eu teria uma hora inteira ao seu lado. Vamos até um restaurante agradável, onde Giuseppe me levou uma vez, para conversarmos, antes mesmo de nos apaixonamos, quando eu nem sonhava com tudo o que viria a acontecer. Na época, se não me engano, minhas preocupações eram como contar a Henrico que minhas regras chegaram, e, com elas, mais um mês sem um bebê.
-Como foi sua manhã? - preocupado, sua mão alcança a minha, me tirando de meu devaneio.
-Exaustiva - admito, mas sorrio. - Mas agora está melhor. E a sua?
Giuseppe consegue sorrir.
-Estive pensando em você a manhã toda. Queria ter certeza de que está segura.
Seguro sua mão entre as minhas, sentindo seu calor. Dou um beijinho em sua mão, sentindo culpa pelo fardo que o faço carregar.
-Sinto muito, querido.
-Não se desculpe - ele pede, sorrindo com carinho. - Consegui dois guardas para ficarem posicionados em frente a casa, durante a noite. Nada vai acontecer com você lá, querida.
Suas palavras tinham como objetivo me tranquilizar, e assim o fizeram, mas também me impressionam por um momento. Precisar de guardas para me sentir segura - onde antes era minha casa - torna toda a situação ainda mais opressiva.
-Obrigada, meu amor - sorrio, tentando mascarar meus sentimentos para que Giuseppe não perceba o quanto isso pesa em mim. - Vou me sentir muito melhor essa noite.
Ele sorri de volta, embora eu sinta que ele percebe que estou sobrecarregada com tudo isso. Só quero que acabe logo. E Giuseppe poderia esfregar isso na minha cara, dizer que me avisou, que nunca deveríamos ter feito esse acordo, mas ele não o faz. Ele é melhor do que isso.
Ele segura minha mão, acariciando levemente, enquanto me incentiva a olhar o cardápio, e escolhermos uma sobremesa para provar. Durante todo o almoço, mais nenhuma palavra é dita sobre Henrico.
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Bella Ciao
RomanceAmélia tem uma paixão por cartas de amor, mesmo sem nunca ter recebido uma. Ela está acostumada ao trabalho e a vida pacata na pequena e tranquila villa italiana, que nem mesmo a guerra conseguiu agitar. Apesar da vida simples, ela é feliz no trabal...