Capítulo XLIX

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Capítulo XLIX

Preciso impedir as lágrimas de caírem quando dou o último abraço em Antônio. Faltando cinco minutos para o trem, a iminência de sua partida parece pesar de verdade. Tudo se torna real demais. Antônio está partindo, em busca de Nicole. Ele vai estar por aí, fazendo de tudo para protegê-la, longe do nosso alcance, longe demais para pedir socorro. Eu vou ficar sem meu melhor amigo, sem notícias, sem ideia de quando ouvirei sua voz novamente, sem noção de que ele está bem ou vivo.

-Você precisa me soltar agora, eu preciso ir, Amélia - ouço sua voz, me trazendo para realidade.

Abro os olhos e percebo que o trem já chegou. Meu corpo treme, e meus braços se apertam ao seu redor, como se recusassem a aceitar. Meu peito dói. Quero deitar no chão, convulsionar com a dor. Mas isso não seria justo com Antônio.

Giuseppe dá um passo à frente, e minha mente divaga enquanto os dois se despedem. Tenho a vaga sensação de ouví-los trocar votos de boa sorte e segurança. Aproveito para secar meus olhos enquanto eles não vêem.

Apesar de tudo, Antônio parece determinado. Ele dá um sorriso quando embarca, nos deixando para trás. Giuseppe não me olha, seu olhar ainda está preso no trem, mas seus dedos buscam minha mão, quase inconscientes.

Olho para ele, incerta, mas ele ainda não me olha. Sufoco um soluço. Eu não tenho o direito de chorar na frente dele. Não depois de tudo o que Giuseppe já fez por mim, ainda menos depois do que eu fiz a ele.

Repasso a noite anterior incontáveis vezes, me perguntando por que não o chamei para conversar conosco, ou por que não tentei fazer Antônio mudar de ideia. Giuseppe tem razão de estar bravo comigo. Mas isso não faz doer menos.

Seria tarde demais para fazer Antônio voltar? Mas justo quando penso nisso, o trem parte.

Sim, é tarde demais.

Quero dizer algo. Quero pedir desculpas. Mas nada sai.

-Agora nós precisamos ir - Giuseppe murmura, e engulo em seco, concordando com a cabeça.

Suas palavras parecem ásperas, como areia, machucando meus sentimentos frágeis. Mas não esboço reação. Vamos para o carro em silêncio. O caminho até em casa é feito em silêncio. Tudo é silêncio. Apesar disso, temo que meu coração se faça ouvir, disparado sob meu peito. Se Giuseppe percebe algo, não diz. Ele permanece impassível, com seus sentimentos envoltos no mesmo silêncio impenetrável, enquanto ele olha pela janela. Sua mão, pousada no banco, roça contra a minha, criando uma centelha a cada toque. Olho para ele, mas Giuseppe permanece distraído.

Penso em como será o dia na Scrivano hoje, tento me preparar, apesar da ausência de Nicole e Antônio pairar como uma sombra. Agora a única pessoa que aguarda por mim está possivelmente consumida pela raiva, como uma tempestade acumulada, ameaçando cair sobre mim.

Tento desesperadamente pensar que estou imaginando coisas, descartar essa paranóia antes que tome conta da minha mente, tento espantar a sensação horrível que faz minha pele arrepiar, como se rastejasse por ela, me deixando sem fôlego. Tento pensar que está tudo bem,

Mas sei que tenho minha culpa. Eu não queria magoá-lo, mas aconteceu.

Assim que o carro encosta, e Giuseppe me ajuda a descer, nós entramos juntos. Vou só pegar mais um casaco antes de ir para a Scrivano, e penso que ele vai para o quartel, mas assim que cruzamos a porta, ouço-o murmurar para si mesmo, agitado:

-Eu preciso sair um pouco.

E sobe as escadas. Só isso.

Meu coração aperta. Ele realmente está chateado. Tento imaginar para onde ele vai, mas não tenho ideia. E Giuseppe não disse nada.

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