Capítulo XV

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Capítulo XV

Mesmo depois de estar em casa, e pensar no que tinha acontecido, eu ainda estava alegre e boba. Mesmo que Giuseppe tivesse nos feito parar, e dito que não poderíamos continuar.

Mesmo assim, era como se um festival inteiro estivesse acontecendo dentro de mim.

Demorou um tempo para que o meu corpo esfriasse, se livrando de toda adrenalina, e meu coração desacelerasse.

Eu passei a noite toda acordada, pensando, o que eu tinha feito de errado? O que eu poderia ter feito para que ele não me deixasse? Para que suas mãos não parassem de segurar o meu corpo, e seu rosto não se afastasse do meu? Por que não poderíamos continuar debaixo daquele telhado, escondidos da chuva, como se todo o resto do mundo não existisse?

E foi quando eu me peguei pensando nessas coisas que eu soube que estava ferrada.

******

Na manhã seguinte, eu senti meu coração acelerar perigosamente quando passei pelo celeiro onde eu e Giuseppe tínhamos nos abrigado da chuva - e nos beijado - na tarde anterior.

Por um lado, eu me sentia mal por ter feito isso, porque traí Henrico. Mas o outro... O outro maldito lado de mim mesma que seguia revivendo aquele beijo inúmeras vezes em minha mente. E se perguntava: e agora?

Eu segui para a Scrivano, tentando tirar aquilo da cabeça. Mas nada parecia me ajudar.

Da mesma forma que dezenas de mulheres surgiram, escrevendo cartas para os filhos ou para as famílias anunciando uma gravidez, quando eu me encontrava destroçada por ter passado por minhas regras, o universo me provocava novamente, agora no formato de cartas de amor.

Meu rosto enrubescia em cada uma delas, pensando em Giuseppe. Mas, o peso de nunca ter recebido uma carta de amor também me atingiu em cheio, e eu me senti murchar, ao terminar o que deveria ser a sétima ou oitava declaração apaixonada do dia.

Meu fiel cliente, senhor Rossi, cruzou as portas de vidro no momento em que eu tinha um acesso de tosse. Meu cliente eternamente apaixonado por sua esposa. Mas hoje ele não tinha uma cara muito boa. Ele tinha ombros caídos e olhos baixos enquanto se aproximava.

-Senhor Rossi? - eu chamei baixinho - O que houve? Como o senhor está?

Ele não me olhou, enquanto seus dedos trêmulos aceitavam a xícara de chá que eu lhe estendi. Sem beber, ele murmurou:

-A colheita não foi muito boa, menina, e... - seus lábios tremeram - E... Julie... Ela teve uma piora.

E ele desatou a chorar. Eu fiquei sem saber o que fazer, por um minuto, vendo suas lágrimas grossas rolarem e caírem, mas me adiantei e tirei a xícara de suas mãos, para que ele não a derrubasse e se queimasse, e me aproximei, cautelosa, segurando suas mãos calejadas.

-Eu sinto muito... - foi tudo que consegui dizer, num primeiro momento, enquanto esperava que ele se recompusesse um pouco - Como ela está?

Ele esfregou o rosto queimado de sol, tentando secá-lo, e eu lhe ofereci um lenço.

-Descobriram que ela tem um câncer, senhorita - ele soluçou - Um câncer... Tanta espera e os bastardos só conseguem descobrir quando já é tarde...

A última palavra escapou de seus lábios, antes que ele pudesse se impedir. O senhor Rossi, chocado consigo mesmo, tampou a boca num gesto desesperado, como se tivesse soltado o mais sujo dos palavrões. Então, ele voltou a soluçar, agora silenciosamente, em desespero.

Eu coloquei uma mão em seus ombros.

-Não é tarde demais, senhor. Não é... não pode ser - eu murmurei, tentando achar algum alívio, que não existia.

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