Capítulo XXXVII
Cinco dias depois de acordar, eu sou liberada para ir para casa. Eu vou para a casa de Giuseppe, no lugar. Todos nós concordamos que seria o melhor. Eu ainda precisava de repouso e de cuidados. E não queria ficar sozinha. Eu não queria voltar para casa.
No dia em que chego, sou amparada por Giuseppe durante todo o caminho. Ele me ajuda a descer do carro, me segura enquanto dou passos lentos e doloridos para dentro. Ele pensa que não reparei que todos os espelhos foram casualmente retirados das paredes. Mas, mentalmente, agradeço seu gesto. Nós subimos a escada devagar. Giuseppe se oferece para me carregar, mas eu nego. Tremo enquanto apoio parte do peso do corpo nele, e outra parte no corrimão de madeira, e forço meu corpo exausto e machucado a subir as escadas. Mas eu chego. Chego ao quarto que os empregados separaram para mim. É bem de frente para o quarto de Giuseppe, na verdade. Ele me ajuda a me acomodar na cama. Me dá um sorriso e me incentiva a descansar. Não posso nem negar, meus olhos estão se fechando sozinhos. O general segura minha mão com carinho, me deseja um bom descanso, e, por fim, me deixa sozinha.
Eu fecho os olhos, mas não adormeço. Meu corpo está cansado, eu ainda estou fraca demais, mas minha mente está agitada. Tudo bem, Saul disse que isso aconteceria, agora que diminuíram a dose do meu remédio. No hospital, ele me explicou que estavam me dando calmantes, para que eu lidasse melhor com o trauma, e que agora iriam diminuir aos poucos, até que eu parasse. Seria um processo rápido, na verdade. Por volta de quinze dias.
No dia seguinte ao que Nicole me visitou, Antônio foi liberado, e, depois de passar em casa para se lavar, ele foi me visitar. Eu não tinha percebido o quanto queria e precisava de Antônio por perto, até o momento em que ele apareceu. Ele abriu a porta e entrou como um furacão, estabanado e afobado. Quando o vi, eu comecei a chorar, tanto e tão desesperadamente que um médico apareceu, alertado por meus sinais vitais. Mas ele foi embora logo, quando Nicole lhe explicou a situação. Ao menos, foi o que ela me contou. Eu estava ocupada, chorando contra o ombro de Antônio, que tinha me abraçado, e chorava junto comigo. Nós passamos um bom tempo assim, até que minhas lágrimas secassem, e eu não conseguisse mais chorar, a não ser por soluços engasgados, que reprimi.
-Amélia, eu sinto tanto - Antônio sussurrou, ainda me abraçando.
Eu me afastei levemente para olhar Antônio. Eu tinha consciência de que meu rosto ainda estava ensopado de lágrimas, e que eu tinha alguns fios de cabelo grudados ao rosto por conta disso. Mas não tive vontade de arrumar.
-Obrigada por estar comigo, Tônio - eu sussurro, apertando a mão dele.
Ele balança a cabeça, de testa franzida e uma expressão transtornada.
-Eu devia ter feito mais por você, Amélia, para que as coisas não chegassem a esse ponto. Me desculpe... - ele me abraça novamente.
Antônio me traz um conforto que há tempos eu não sentia. É como voltar ao lar. E isso é dizer bastante, porque não tenho um lar de verdade desde que me casei. Aliás, a última vez em que me senti acolhida de verdade foi quando meu pai ainda estava vivo. Não que minha mãe não fosse acolhedora. Ela não tinha culpa. Estávamos todos de luto, e a válvula de escape que encontrei para fingir que minha vida ainda estava normal foi me casar e fugir daquela realidade.
Bem, veja só até onde isso me levou.
Não sei quanto tempo eu e Antônio passamos sozinhos, mas depois de algum tempo, Saul, Nicole e Giuseppe aparecem. Eles entram devagar, me dando tempo para me recompor - um pouquinho - arrumando os cabelos, e limpando o rosto de lágrimas. Eu fico feliz de ver Saul. Não o vejo desde que ele saiu para viajar. Bem, ele me viu, já que foi ele quem ajudou na minha cirurgia, mas... enfim. Eu o cumprimento, e o agradeço. Ele compreende.
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Bella Ciao
RomansaAmélia tem uma paixão por cartas de amor, mesmo sem nunca ter recebido uma. Ela está acostumada ao trabalho e a vida pacata na pequena e tranquila villa italiana, que nem mesmo a guerra conseguiu agitar. Apesar da vida simples, ela é feliz no trabal...