Capítulo XXXIV

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Capítulo XXXIV

Eu sempre gostei de ter companhia, casa cheia. Provavelmente porque cresci em uma família grande e carinhosa. Por isso, me surpreendo em como me acostumei à solidão.

Não gosto de como minha casa se tornou tão vazia e escura, mas me acostumei a isso, já que Henrico nunca está por perto.

Eu arrumo a casa e cozinho em silêncio. Aproveito o tempo em que a comida está no fogo para descansar meu corpo. Penso em como o dia foi agitado. Penso em Giuseppe, e me sinto mal por não ter me esforçado mais para descobrir a verdade. Ao menos tudo foi esclarecido.

A comida fica pronta e eu desligo o forno, mas não me sirvo ainda, pois vou deixar esfriar um pouco antes de comer. Meu estômago dói de fome, mas me obrigo a esperar.

-Você está com fome também? - falo em voz alta, passando a mão pela barriga. - Aposto que é você quem tem me feito comer mais ultimamente, hm?

Mas o bebê não chuta. Suspiro, frustrada. Estou há semanas ansiosa para isso acontecer, mas ele não quer. Tento me convencer de que o bebê está esperando que Henrico esteja junto, e que ele esteja calmo, para começar a chutar, assim podemos desfrutar do momento juntos.

Sem que eu queira, penso em Giuseppe e Telma. Penso em como ela estava linda da última vez que eu a vi, com a barriga grande e redonda. Bem vestida e arrumada, como se nada tivesse mudado. Penso se ela passou pelos enjoos e dores com essa graciosidade ou se ficou como eu.

Não gosto de sentir inveja de algo ou de alguém, mas é o que eu sinto.

Sinto inveja de Telma e como ela parecia radiante, empolgada. Tão feliz. Não sei como foi o momento em que ela descobriu a gravidez, ou como contou a Giuseppe, mas imagino que devem ter sido dois momentos incríveis e bonitos, mesmo que ela estivesse sozinha quando descobriu, já que Giuseppe já estava aqui em Montalcino. E imagino que quando ele descobriu, deve ter sido incrível.

Completamente diferente de como foi comigo. Henrico pareceu, sim, feliz quando descobriu que eu estava grávida, mas... toda a situação foi horrível.

Não esqueço o choque de quando Ágatha expôs minha gravidez. A descrença de Giuseppe, e como me senti estúpida por não ter percebido antes. Descobrir logo em seguida que Giuseppe e Telma estavam juntos, e esperando um bebê também. Voltar para casa e encontrar... tudo aquilo. Henrico bêbado, toda aquela bagunça... e todo o dinheiro que economizei ter virado cerveja.

Telma deve dar à luz muito em breve, e apesar da confusão de Giuseppe hoje, imagino que ele deve estar se preparando para se juntar a ela na Capital.

Nem ao menos sei se Henrico vai estar sóbrio o suficiente para acompanhar o parto de nosso filho.

Chacoalho a cabeça, tentando afastar o pensamento, no mesmo momento em que Henrico abre a porta. Ele me olha com uma sobrancelha erguida.

-O que está fazendo?

-D-descansando...? - hesito, sem saber o que ele espera que eu responda.

Henrico faz uma careta, e noto como seu rosto parece inchado. Lembro de como ele emagreceu quando eu voltei do hospital, quando ele parou de beber. A bebida deve ter feito com que ele inchasse novamente.

-Por que? O que você fez hoje? - ele questiona, e sei o que ele está fazendo. Ele quer saber se eu estava com Giuseppe.

-Eu... trabalhei, depois encontrei Nicole e Antônio... - observo a reação dele. Ele não gosta que eu saia ou fique fora à toa, então complemento: - Ela precisava de ajuda com algo, e depois aproveitamos para conversar um pouco. Depois eu voltei, fiz as tarefas e o jantar. E estava descansando, agora.

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