Capítulo 58

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O capítulo possui 802 palavras

Páris

Eu ouvi tudo que ele tinha a dizer. Depois de tanto tempo eu finalmente tive alguma resposta dele, mas ainda assim não me sentia satisfeito. Porque? Era isso que eu queria, não era? Eu pensei que saber os motivos dele me fariam esquecer todo o tempo em que esperei por uma resposta, mas não resolveu muita coisa. Por que ainda dói.

O que eu queria mesmo, era que ele tivesse me dito algo antes de simplesmente sumir. Qualquer coisa, mesmo que fosse mentira. Uma promessa de que voltaria.

Eu só tinha ele, minha única família. Mesmo entendendo seus motivos para fazer o que fez, essa parte de mim, que foi deixada para trás por ele, ainda não consegue aceitar. Eu era uma criança, mas não queria ser protegido, eu queria estar com o meu irmão. A pessoa que eu mais admirava.

Fechei meus olhos.

Maycon contou a sua história e eu não o interrompi. Eu não tinha nada a dizer. Eu entendo as escolhas que ele tomou para poder viver, não era justo que o caçassem como um animal, não era justo que tentassem usar a vida dele para descobrir um jeito de tirar a liberdade de escolha de outros. Eu sabia que nada daquilo era fácil para ele. Mas ainda dói.

Dói porque eu passei muito tempo sozinho, minha avó era uma boa pessoa, mas eu sentia falta do meu irmão. Aquele que um dia esteve ao meu lado nas horas mais difíceis. Aquele que me fez acreditar que tudo ficaria bem apesar das dificuldades. Aquele que sempre tentava me fazer sentir melhor com as constantes mudanças de nossos pais. Nada daquilo era ruim porque ele estava lá. Éramos uma equipe.

- Você não vai dizer nada? - Perguntou meu irmão.

Abri meus olhos para olhá-lo.

Ele estava me encarando com ansiedade. O que ele queria ouvir? Todas as minhas reclamações tinham sido um pretexto para esconder como aquilo doía. Eu sempre soube disso, mas eu continuava fingindo que não, fingindo que estava com raiva. Eu não tenho como ficar com raiva agora, depois de tudo.

- O que pretende fazer agora? - Perguntei.

Por um momento ele ficou surpreso, mas depois ficou pensativo.

- Eu tenho que ver como a Shizuru está. - Falou, por fim. - Ela é bem legal. Vai gostar de você. Sobre Sianurab, eu acredito que uma reunião entre os primeiros reis poderá ser organizada e eles provavelmente vão colocar outro primeiro rei no país e restabelecer a ordem. Isso vai ser trabalhoso, então vou ajudar o rei Henrique. Afinal, eu ainda não terminei o acordo que eu tinha com ele. Preciso terminar o que comecei e ajudar a resolver as questões naquele país.

- Entendi.

Olhei para o teto. Não é como se fossemos voltar no tempo. Temos nossas próprias vidas e o passado não pode ser alterado.

- Sabe, - Ele disse. - Você poderia vir e me ajudar.

- Hã?

- Você não vai poder trabalhar pro segundo rei machucado assim. Deveria vir comigo e me ajudar. Pode me ajudar com as coisas burocráticas.

Estreitei os olhos para ele.

- Está tentando explorar minha mão de obra? - Perguntei.

Ele riu.

- Talvez um pouco. - Falou. - Eu gostaria de poder passar um tempo com você. Eu sei que não muda o que passou, mas não quero continuar cometendo os mesmos erros. Eu não quero perder você de novo, não vou embora novamente.

Eu queria acreditar naquilo. Olhei para o outro lado.

- Pode ser. - Eu disse baixinho.

- Como?

- Eu disse que posso te ajudar. - Falei mais alto e olhei para ele.

Meu irmão estava sorrindo. Fazia muito tempo desde a última vez que eu o vi sorrir. Eu sorri também.

Eu conversei mais com meu irmão e contei a ele tudo que eu tinha feito nesses anos em que estivemos separados. Falei sobre a Sabrina, sobre como ela era incrível e esforçada. Quando eu a via tão empenhada em fazer o seu melhor no trabalho, eu me sentia mais empenhado em fazer as coisas melhores no meu trabalho e ajudar os outros. Ela foi a pessoa que tirou muito da tristeza que existia no meu coração. Ela me mostrou como a vida pode ser boa, mesmo que as pessoas falassem e apontassem que eu era estranho por ter olhos de cores diferentes, ela foi a primeira pessoa que disse que meus eram bonitos como eram. E para mim, que tinha vergonha de olhar diretamente para as pessoas e elas verem meus olhos, aquilo foi como uma salvação. Eu não era uma aberração estranha, mas mesmo se fosse, alguém no mundo, alguém que eu amava, apreciava isso.

 Eu não era uma aberração estranha, mas mesmo se fosse, alguém no mundo, alguém que eu amava, apreciava isso

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