Capítulo 53 - Parte 1

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O capítulo possui 1815 palavras

Maycon

Minha primeira lembrança dos meus pais é de nos mudarmos da casa onde vivíamos. Sempre estávamos indo a muitos lugares. Na época, como eu era apenas uma criança, isso parecia muito divertido. Era como viver uma aventura a cada dia. Eu me imaginava como um grande explorador do mundo.

Isso até o nascimento do meu irmão. Ele era tão pequeno e frágil. Eu queria brincar com ele, mas a mamãe dizia para não perturbar o sono dele. Ele dormia demais. Mas ainda era meu irmãozinho fofo.

Ao longo do tempo, as mudanças eram cada vez mais constantes. E na verdade, isso não me incomodava, nenhum pouco. Porém, ele não era como eu. Não gostava das constantes mudanças. Ele se sentia desconfortável perto de novas pessoas e isso me fazia querer protegê-lo ainda mais.

Por causa disso, eu fui questionar os meus pais, quando eles decidiram se mudar outra vez.

- Porque não podemos ficar aqui dessa vez? Acho que Páris se sentiria melhor se ficássemos algum tempo em um lugar só, pra variar. - Questionei.

Meu pai colocou a mão no meu ombro.

- Nós gostaríamos disso filho. - Disse meu pai. - Mas não será possível. Um dia eu espero conseguir explicar os nosso motivos.

Minha mãe parecia que ia chorar e isso me deixou perturbado. Decidi que seria melhor não tocar nesse assunto novamente, para não magoá-la.

- Porque temos que nos mudar de novo? - Perguntou Páris novamente. - Porque não podemos ficar aqui?

- Não sei. - Respondi honestamente. - Nossos pais apenas nos mandaram arrumar as coisas e temos que sair o mais rápido possível.

Meu pequeno irmão com lágrimas nos olhos me disse, então:

- Porque sempre parece que estamos fugindo? Eu estou com medo irmão.

Fugindo? Eu nunca tinha parado para pensar sobre isso. Sempre me pareceu tão normal mudar de casa e conhecer novos lugares. Eu diria até que era divertido. Mesmo assim, eu sabia que Páris tinha razão, mesmo tão novo ele conseguia ser mais perceptivo do que eu. Como eu nunca percebi?

De repente, todas aquelas coisas pelas quais passamos e o nervosismo que parecia vir dos nossos pais fez mais sentido do que antes. Estávamos constantemente fugindo.

- Vai ficar tudo bem Páris. - Falei a ele. - Não importa o que esteja acontecendo. Sempre teremos um ao outro.

- Promete? - Ele pediu.

- É claro. - Respondi. - Eu nunca deixaria nada de mal te acontecer. Afinal, você é o meu irmãozinho e eu tenho que te proteger.

Depois daquele dia, as fugas eram cada vez mais constantes. Parecia como um gato caçando um rato, e as opções de lugares para ir estavam se acabando. Meus pais pareciam mais nervosos e se irritavam facilmente com cada coisa que fazíamos.

Em uma noite chuvosa, onde o barulho do vento era forte demais para eu conseguir dormir, saí da minha cama e fui verificar se estava tudo bem com o meu irmão. Como ele sempre foi dorminhoco, nada perturbava seu sono, e ele estava dormindo pacificamente. Eu desconfiava que ele dormiria mesmo se a casa viesse abaixo. Quando seu sono era profundo era difícil acordá-lo.

Ao passar pela cozinha eu pude ouvir a conversa que estava acontecendo entre os meus pais.

- Eu estou com medo, Paulo. - Disse a minha mãe. - Se acontece algo com a gente, o que vai ser das crianças? Mas o pior não é isso. Se conseguirem pegá-los também?

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