Recém Casados - Livro 2 - Duologia Mel&Guto

Bônus - Henry

Henry
Eu nasci em uma família muito humilde, e desde pequeno estou acostumado com coisas simples. Minha mãe era uma lavandeira, e o que ganhava não era suficiente para eu, meu irmão, e ela sobrevivermos, já que o salário do meu pai servia apenas para manter seu vício na maldita pinga. Eu era muito novo, e não entendia direito as coisas, mas cansei de ver minha mãe apanhando. Na época, eu tinha dó dela, mas ao decorrer dos acontecimentos, e do meu amadurecimento, essa dó se transformou em raiva, pois se ela tivesse pedido ajuda, denunciado, hoje não estaria morta. Mas nem tudo é como queremos. Minha mãe apanhou para proteger a gente, mas isso não foi suficiente, pois com o tempo, a surra foi ficando pior, e quando minha mãe desmaiava, meu pai vinha bater na gente. Eu nunca entendi o porque, e nem pra que. A única coisa que sobrou dessa experiência foi a revolta, e o medo. Tenho medo de passar por isso de novo, e sei que com Enzo é a mesma coisa. Porém, papai do céu resolveu ser generoso com a gente, e colocou Mel e Guto no nosso caminho. Se eu tivesse escolhido, não teria acertado tanto. Melissa e Gustavo, definitivamente são os melhores pais que eu imaginei ter. O que eles vem fazendo por nós é algo inenarrável, e que nunca poderei agradecer o suficiente, ou retribuir.
Eu não consigo descrever a felicidade de ter uma família verdadeira dessa vez. É notório o amor de Mel e Guto, e fico feliz por saber que meus pais do coração se amam. Isso mesmo, pais do coração. Acima de tudo, estou feliz por Enzo ter alguém que cuide tão bem dele. Meu irmão se tornou prioridade em minha vida, e tudo que eu fizer será pensando nele.

Estávamos na sala, eu e Guto, jogando uma partida de futebol. Estava 1X1, mas eu sentia que iria ganhar, pois cada dia que passa fico melhor no videogame. Até que ouvimos um barulho vindo do quarto de Mel e Enzo, levanto-me em um pulo, e saio em disparada em direção ao quarto, com Guto logo atrás de mim. Quando entro no quarto, vejo meu irmão chorando, pedindo desesperadamente para que Mel não batesse nele. A princípio não entendo nada, mas depois vejo o celular de Mel espatifado no chão. Eu busco os olhos de Mel apavorado, ela não seria capaz! Não seria!
Mel se levanta assustada, como se não tivesse acreditando no que estava acontecendo, vai até Enzo, e pega-o no colo.

-Porque iria te bater querido? - pergunta Mel sentando-se na cama com Enzo no colo.

Meu irmão tenta acalmar seu choro para respondê-la, mas mesmo assim sua voz saí em meio à um soluço.

-Quebrei seu celular...
-Mas nunca bateríamos em vocês! Nem por nada desse mundo! - fala Guto sentando-se ao lado de Mel.
-Meu outro pai batia, por tudo - fala Enzo voltando a chorar.

Era difícil ver que meu irmão ainda não tinha superado o que vivemos no passado. Entendo-o, pois sei que não foi fácil ver nossa mãe apanhando, e apanharmos de um homem que era pra ser o nosso pai. É uma ferida que vai demorar para cicatrizar, infelizmente, o nosso medo sempre vai estar presente.
Meu coração se aperta, e eu sinto um chato nó na garganta, não gosto de ver meu irmão sofrendo.

-Vem cá - pede Guto à mim, que observava tudo de longe.

Eu caminho até eles de cabeça baixa, quando aproximo-me, Guto me põe em suas pernas.

-Prestem bastante atenção no que vou dizer - diz Guto calmamente - o que aconteceu no passado acabou. Não somos como seus pais.
-Eu sei, mas ainda tenho medo - digo.
-Medo do quê? - pergunta Mel com os olhos preocupados.
-Medo de apanhar - falo rápido e engulo o nó na minha garganta. Controle-se Henry, não é hora de chorar.
-Hey, nunca vamos encostar um dedo em vocês - diz Mel olhando no fundo dos meus olhos - eu amo vocês, nunca faria nada para machucá-los!

Enzo em uma reação espontânea abraça Mel forte, deitando a cabeça em seu peito.

-Também te amo mamãe - diz ele com as lágrimas contidas.

Mel sorri emocionada, e deposita um beijo em seu cabelo.

-Vocês podem ter certeza que vamos dar o nosso melhor, para sermos os melhores pais do mundo! - diz Guto sorrindo.
-Vocês já estão sendo! - digo deitando a cabeça no peito de Guto.