Capítulo 19

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Melissa Fortunato

Saí um pouco antes de dar o horário de buscar os meninos na escola, e fui ao supermercado. Preciso fazer a compra do mês, mas como eu só tinha 20 minutos, comprei coisas apenas para os próximos dias. Depois fui buscar os meninos na escola, quando eles me viram estacionando o carro em frente a escola, saíram em disparada em direção ao carro.

-Oi mamãe! - grita Enzo entrando no banco detrás.
-Oi mãe - cumprimenta Henry.
-Oi amores - digo virando-me para olhá-los - como foi o dia de vocês?
-Foi legal - diz os dois em uníssono.
-Certo - garanto que eles colocaram o cinto, e arranco o carro.
-Cadê o pai? - pergunta Henry.

Sorrio por perceber que cada dia que passa eles estão apegando-se cada vez mais em nós.

-Está trabalhando.
-Não podemos ir lá, andar de cavalo? - pergunta Enzo.
-Hoje não, porque seu pai vai trabalhar até tarde, e não vai poder dar atenção pra gente - digo olhando-os pelo retrovisor.
-Mas e outro dia? - pede Enzo.
-Outro dia sim, temos que marcar.

Dirigi até em casa, e quando chegamos, fui dar banho nos meninos.

-Quem vai tomar banho primeiro hoje? - pergunto enquanto pego roupa para os meninos no meu closet.

Enquanto o quarto dos meninos não fica pronto, todas as roupas deles estão em meu closet e de Guto. Mas hoje, que os móveis do quarto deles chegam, vou ter que passar tudo pra lá.

-Eu tomo banho sozinho - diz Henry entrando no banheiro.
-Cinco minutos hein, a água do mundo tá acabando! - digo em tom de brincadeira, apesar de ser verdade.

Henry solta uma risada gostosa antes de entrar debaixo do chuveiro.
Dou uns minutos para ele lavar-se, e entro no banheiro para lavar seu cabelo. Quando termina, chamo o Enzo.

-Olha só mamãe, eu cresci - diz Enzo abrindo o registro do chuveiro.
-A é? E como você sabe? - pergunto enquanto passo sabão em seu corpo.
-Eu acho que sim - diz mostrando seus pequenos dentinhos.

Termino de dar banho nele, e peço para que fique com Henry na sala, vendo TV, enquanto eu preparo o almoço.

-Não pode jogar bola? - pergunta Henry entrando na cozinha
-Agora não querido, depois do almoço tá bem? - falo colocando a carne na panela.
-Tá - Henry vem até a mim, e abraça a minha cintura - o que vai ter pra comer?
-Arroz, feijão, e carne com batatas - falo beijando seus cabelos dourados.
-Sabia que amo sua comida mãe? - diz Henry sorrindo.
-Sabia que eu amo você?

Abaixo-me na sua altura, e dou um beijo na sua bochecha.

-Eu também amo você mãe - diz sorrindo.

Fico olhando para seus olhinhos brilhantes, e não sei como, em tão pouco tempo, eu já amo tanto esses meninos que meu coração até dói.

Eu estava absorta em nosso momento 'mãe e filho', que só voltei à realidade quando ouvi duas vozes masculinas.

-Não queremos machucar ninguém - diz um homem encapuzado entrando na cozinha.

Eu fico em choque, olhando aqueles dois homens, e um deles segura Enzo nos braços que chora alto.

-Podem levar o que quiser, mas não machuquem meus filhos - suplico entre as lágrimas que já caiam.
-Não vamos machucar vocês. Se vocês colaborarem - diz o homem que estava com o Enzo no colo.

Ele coloca Enzo no chão, que corre para meus braços. Aperto o corpo dos meus dois filhos contra o meu, e tento acalmar meu coração acelerado.

-Onde fica o cofre? - pergunta um dos encapuzados.
-Não temos cofre - respondo baixinho, com medo da reação deles.
-Como não? - questiona indignado - um casarão desses e nada de grana? Impossível! - diz dando um soco no mármore da bancada.
-Se acalme, pode não ter cofre, mas vamos fazer a rapa nos eletrônicos, que já vão dar um bom dinheiro - diz o outro homem.
-Vamos logo então antes que 'dê ruim'.

Um deles vem até nós três, e sem delicadeza, segura meu braço e pede para que eu vá para um banheiro com os meninos. Quando ele nos tranca no banheiro, sento no azulejo frio, e coloco cada um dos meus filhos em uma perna. Enzo ainda chora, em silêncio, já Henry só olha-me apavorado.

-Fiquem calmo meus amores, vamos sair dessa - digo tentando mais me auto convencer.

Eu não tenho ideia do tempo que ficamos no banheiro, talvez 30, 40, ou até 50 minutos. Não escutamos barulho, nem vozes, apenas o cheiro de comida queimada invadia o banheiro. De tanto chorar, Enzo dormiu deitado no chão com a cabeça em meu colo, enquanto Henry mantinha seus braços na minha cintura, com a cabeça em meu ombro, sem dizer uma única palavra, mas pra mim aquela atitude era suficiente. Eu tinha medo de pedir socorro, e os homens ainda estarem em casa, e machucar-nos para se vingar. Preferi ficar sentada, quieta, esperando um anjo para nos ajudar.
Quando eu já não acreditava em anjos, escutei uma voz longe chamando-me. Levantei com cuidado, pedindo para Henry segurar o irmão, e comecei a dar tapas na porta do banheiro.

-ESTOU AQUI! SOCORRO! - eu gritava desesperadamente.
-Dona Melissa? O que faz trancada aí? - pergunta a voz já próxima da porta, e reconheço que é voz de um dos porteiros do condomínio em que moramos.
-Pela amor de Deus Thiago, me ajuda! Abre essa porta! - suplico.
-Se afasta que vou tentar arrombar!

Eu saio de frente da porta, e fico perto dos meus filhos, quando finalmente vejo a porta do banheiro abrir-se. Respiro fundo, aliviada.

-O que aconteceu Dona Melissa? Sua casa toda está revirada - pergunta Thiago preocupado.
-Eu que te pergunto! - respondo elevando o volume da minha voz - cadê a segurança desse condomínio? Eu pago uma fortuna pra morar aqui, e ainda sou assaltada? - questiono indignada.
-Como assim Dona Melissa? Nosso sistema de segurança é um dos melhores!
-Não é o que parece! Ou você acha que revirei minha casa por hobbie, e tranquei-me aqui porque gosto de aventuras?! Deixa de ser ridículo! - eu estava frustada, e não conseguia controlar minhas emoções.
-Vou informar a polícia e o chefe de segurança do condomínio sobre o ocorrido, ligue para seu marido, provavelmente teremos que ir prestar depoimento - diz afastando-se do banheiro.

Respiro fundo, e lavo o meu rosto na pia do banheiro. Olho para meus filhos, e vejo que Enzo acordou, provavelmente após o meu escândalo. Seguro na mão deles, e caminho em direção a sala. Realmente a casa está toda revirada, e sinto falta de alguns objetos como vasos, televisão, microondas, entre outros. Pelo menos o telefone residencial ficou. Disco o número de Guto, e tento ficar calma, mas não consigo. Acabo não justificando o que aconteceu, e apenas peço para que ele venha pra casa logo. Quando desligo o telefone, escosto no sofá, e trago os meninos para bem perto de mim.

-Vocês estão bem? - pergunto preocupada.
-Sim - responde Enzo dando um sorriso triste.
-Mas e você mãe, está bem? - pergunta Henry.
-Vou ficar - digo dando-lhe uma piscadela.

Recém Casados - Livro 2 - Duologia Mel&GutoOnde histórias criam vida. Descubra agora