Reino Unido do Acre

Capítulo 45: O Boto Cor-de-rosa

Quando partiu para o trabalho de campo no Reino Feérico a última coisa que o Rafael pensava era em encontrar alguma pista sobre o paradeiro do seu pai que por acaso era uma criatura mítica do folclore brasileiro, o Boto Cor-de-rosa. Quando a duquesa Adula, que era metade fada e metade elfa, reconheceu os traços do rosto de Rafael teve a certeza de quem era o pai dele.

−Vai ser um encontro muito emocionante −Azula disse massageando os ombros tensos do rapaz.

−E se ele não gostar de mim? −Rafael perguntou apreensivo.

−Querido, é claro que ele vai gostar de você. Ele é seu pai. O Boto vai ficar feliz em ver dois dos seus filhos −Azula acariciou a própria barriga sentindo a vida que crescia dentro dela.

Rafael tinha deixado de ir para o trabalho de campo, mas por um bom motivo. Ele estava muito nervoso, desejou que algum dos seus amigos estivesse ali para apoia-lo. "Queria o Zeca aqui falando coisas aleatórias do modo inocente dele. Ou a Aduke falando do seu jeito inteligente e provocante. Ou até o Tom que mesmo caladão conseguiria me acalmar".

−Como vai fazer para chamar o Boto? −Rafael perguntou −Você tem tipo o número de telefone dele?

−Mais ou menos isso −Azula disse servindo um chá de chifre de unicórnio −Normalmente o Boto Cor-de-rosa engravida mulheres e segue em frente, mas não sou qualquer uma. Tenho um feitiço de invocação. Mesmo a contragosto posso trazê-lo até mim a hora que eu quiser.

−Você é uma mulher bem decidida −Comentou Rafael admirado.

−Termine seu café da manhã e...

−Isso é cheiro de pudim! −A porta do quarto foi escancarada por Pika com um enorme sorriso o rosto e um pouco de baba escorrendo pelo queixo.

−Perdão! Perdão! −Dizia Shin correndo atrás do Pika o agarrando −É que o Pika fica louco quando passa muito tempo sem comer doces.

−Não tem problemas −Disse Azula rindo −Faz tempo que este prédio não fica tão animado. Entrem, podem se servir.

Rafael não conhecia muito bem aqueles dois, mas ficou feliz em poder esquecer um pouco do seu nervosismo os observando.

−Você é aquele cara que apareceu com asas e levou o irmão do Bae pro hospital depois da luta dele contra o duque Rex Ruivo no Reino Selvagem.

−Isso mesmo, sou eu. Pode me chamar de Pika −Disse o garoto com as bochechas lambuzadas enquanto seu namorado tentava limpar.

−Eu sou o Rafael.

−O tal filho do Boto Cor-de-rosa −Pika comentou se lembrando do jantar na noite anterior em que Azula comentou sobre o assunto para todos ouvirem −Já vi seu pai uma vez, ele ajudou a salvar o mundo.

−Sério? −Rafael perguntou empolgado.

−Foi em Tomoeda, ele e outros deuses e entidades ajudaram a impedir uma deusa dragão de outro universo.

−Nossa, você viveu mesmo aventuras incríveis, Pika −Shin comentou um pouco tristonho pensando em tudo que perdeu no tempo em que estava transformado numa estátua de ouro.

−Qual é seu nome mesmo? −Rafael perguntou.

−Me chamo Shin, sou cavaleiro guardião da família real Augustus −Ele parou, era assim que sempre se apresentava no passado −Ou era, afinal isso já tem mais de dez mil anos. Muita coisa deve ter mudado.

−Dez mil anos?

−Eu estava transformado numa estátua de ouro até ser trazido de volta alguns dias atrás.