Capítulo 1 :

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Carla Diaz

Os raios do sol de final de tarde iluminavam a parte superior dos prédios no Rio de Janeiro enquanto dava uma coloração rosada ao céu naquele início de primavera. O clima temperado era bastante parecido ao de São Paulo, a cidade onde morei minha vida inteira.

Enquanto a Mercedes preta ganhava as ruas, o frio que sentia na barriga ia aumentando gradualmente. Eu não sabia o que esperar do futuro naquela minha nova vida. O banco de couro parecia esquentar quando mais eu afundava no assento, as janelas fechadas do veículo faziam com que me sentisse abafada, mas não me atrevi a abrir os vidros. O motorista dirigia concentrado no trânsito como se estivesse sozinho e minha presença fosse completamente invisível. Será que ele era sempre assim? Seu nome era Charles Gonçalves, havia se apresentado quando me buscou no aeroporto dizendo ser o motorista da família Picoli. Não tinha como suspeitar, a Mercedes da qual ele havia saído era como um resumo do poder que aquele nome tinha.

No começo eu não entendia quais eram os limites do império Picoli, mas quando Bairo me contou toda a verdade e sua posição diante de um dos maiores legados do mundo, eu descobri que os limites não existiam. Não havia uma linha imaginária indicando até onde seu poder alcançava, o nome Picoli ia além do Brasil, empresas se espalhavam na Europa e Ásia em um crescimento completamente fora da minha compreensão. Então como eu havia parado ali? Quando comecei a fazer parte desse mundo?

Boa parte do motivo dormia tranquilamente em meu colo, enrolada em uma manta cor de rosa bordada com pequenos ursinhos que fora presente de Bairo. Olhei para baixo quando o veículo parou em um sinal vermelho e vi o rostinho da minha filha. Esse pedacinho de gente era alheio a toda maldade do mundo e algumas vezes eu desejava que ela permanecesse assim, pequena e frágil sendo protegida no calor dos meus braços. Quando o carro voltou a se movimentar, olhei novamente para as ruas onde as pessoas iam apressadas de um lado para o outro em um tumulto típico de cidade grande. Foram alguns minutos a mais até que o veículo entrasse em um bairro residencial.

Charles: Estamos chegando, Srta. Diaz. — Charles disse assim que o veículo pegou velocidade em um túnel.

Carla: Onde estamos exatamente? — Perguntei curiosa louca para conhecer um pouco mais daquele lugar onde seria meu novo lar.

Charles: Na Barra da Tijuca. — ele disse sendo bastante formal.

Me ajeitei no assento de couro do carro sentindo a maciez enquanto a escuridão do túnel ficava para trás e os últimos raios de sol deixavam a cidade por completo quando começamos a deslizar pelas as ruas do Rio de Janeiro. As estrelas começavam a cintilar no céu agora de uma cor azul que ia escurecendo conforme os minutos passavam. Me sentia um pouco cansada, a viagem de avião não me permitiu alguns cochilos já que a todo momento eu precisava vigiar Malu que parecia um pouco impaciente. Provavelmente estava se sentindo desconfortável em ficar no colo por mais que eu tentasse mudá-la de posição. Era questão de sorte estar adormecida naquele momento durante a viagem de carro desde que saímos do aeroporto, mas eu calculava que em poucos minutos ela iria acordar com fome.

Novamente senti o frio na barriga que desde que acordei naquela manhã se tornou parte do meu dia. Agora, além daquele desconforto eu sentia uma leve dor de cabeça por conta do cansaço da viagem. Eu não costumava ficar ansiosa, sabia lidar com minhas emoções, mas agora estava sendo dominada por um nervosismo ao qual não conseguia controlar.

Foram alguns poucos minutos admirando as ruas, logo entramos em outro túnel e eu me perguntava como era morar em uma cidade rodeada por eles. Logo o carro começou a ganhar as ruas residenciais da Barra. Comecei a ver lindas mansões de cada lado da rua, com grandes terrenos arborizados e me perguntava em que lugar exatamente íamos parar.

Quando a Mercedes começou a diminuir a velocidade senti meu coração palpitar. Charles fez uma curva e o veículo começou a subir um caminho estreito e arborizado até parar de frente para um grande portão de madeira. Acionando um botão no painel do carro, o portão começou a deslizar para o lado dando aos poucos a visão da imponente mansão logo atrás.

Era o lugar mais bonito que eu já tinha visto. Não que estivesse acostumada a mansões daquele tipo, mas li muitas revistas e vi uma boa quantidade de filmes para ter certeza de que nada do que vi se comparava aquele lugar. O carro avançava pelo caminho que passava pelo jardim fazendo uma curva até parar na entrada da mansão.

Charles: Chegamos, Srta. Diaz. — Charles desligou o carro e saiu do veículo dando a volta por trás e posicionando-se ao lado da porta onde estava sentada, abrindo-a em seguida e estendendo sua mão para me ajudar a descer.

Com cuidado, coloquei o primeiro pé no chão de pedras uniformemente assentadas e saí do veículo segurando Malu que dormia totalmente alheia ao luxo que nos rodeava. A mansão tinha paredes brancas e portas e janelas da mesma cor. A varanda da frente tinha grandes colunas de estilo grego e alguns degraus que terminavam nos caminhos de pedras.

Eu não tive tempo de olhar os detalhes, mas logo adiante podia ver parte do lago, o que dizia que aquela mansão tinha uma vista espetacular. Apesar de ser noite, os refletores e luminárias de jardim clareavam todo o lugar fazendo com que a escuridão se dissipasse. Quantas lâmpadas devia haver no total? Dezenas espalhadas por toda a propriedade que eu sequer suspeitava qual a dimensão, mas com certeza a família Picoli possuía grande parte dos terrenos daquela rua.

A enorme porta principal se abriu e eu olhei diretamente para lá enquanto Charles tirava as malas de dentro do carro. Duas pessoas caminharam até o alto da escada da varanda e eu me senti completamente diminuída diante daquela imagem. Havia uma mulher de cabelos pretos bastante lisos e compridos. Ela tinha um rosto angelical e a pele branca. Usava um vestido transpassado da cor amarela e nos pés uma sapatilha preta com bico dourado. Mas o glamour daquela mulher era completamente coadjuvante ao lado da figura masculina parada ao seu lado.

Aquele homem era alto, tinha a postura ereta e os dedos das mãos estavam dentro dos bolsos da calça jeans que ele usava. O rosto era bonito, com um formato que parecia ter sido esculpido com perfeição, os ombros largos contrastavam com a cintura um pouco mais fina e os quadris estreitos moldados à calça. A camisa preta de mangas longas se ajustava ao seu tórax largo mostrando toda sua virilidade e os músculos dos braços eram realçados pelo tecido um pouco justo. O relógio prateado no pulso esquerdo cintilava refletindo as luzes externas sendo exibido pela manga da camisa.

Naquele momento, eu senti meu corpo reagindo de uma maneira que eu não esperava. Senti-me atraída diante da beleza masculina, do rosto sério, dos músculos daquele corpo extremamente viril. Ele tinha os cabelos castanhos cortados em um corte moderno, tinha uma barba que lhe dava um ar ainda mais sexy e mesmo daquela distância eu podia ver o brilho daqueles olhos.

Eu não soube dizer quanto tempo fiquei ali parada olhando para ele, mas comecei a me sentir como uma adolescente diante do garoto mais popular da escola e me recriminei mentalmente me perguntando em que momento eu fiquei vulnerável daquela maneira.

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