3 - Dança Glorinha

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Glorinha

Cheguei ontem aqui na Maré, mas não tive oportunidade de sair. Fiquei ajudando minha tia na lojinha. A Silvia chegou tarde e segundo ela, morta de cansada. Conversamos só um pouco.

Hoje, nós vamos na quadra daqui, ela vai chegar mais cedo e disse que lá é bem animado. Conheci a amiga dela, Tainá, que é muito animada e está toda empolgada para o tal baile de amanhã.

— Glorinha, você vai ensinar a gente a dançar forró e nos vamos te ensinar a fazer vários passos para arrasar no baile de hoje. Tainá diz enquanto come um pedaço de bolo.
Ela namora com um cara conhecido por Sorte. Ele trabalha na boca. É a melhor amiga da Silvia e vive aqui na casa e inclusive chama minha tia de tia.

—Você não tem medo por ele? — Eu pergunto a ela. —Sei lá. Acontecer alguma coisa com ele ou com você?

— Eu amo meu preto. Não escolhi amar o cara da boca, eu amei o homem que ele é  comigo, infelizmente ele trabalha com isso. Se você conhecesse alguém que trabalhasse no tráfico e ele fosse o amor da sua vida. Como fazer? Deixar passar ou enfrentar junto.

— É muito difícil. Não sei. Mas tenho medo. Eu quero namorar e casar com alguém que tenha um trabalho honesto. Me desculpe.

— Sem problemas, gata. Mas quem garante que seu último namorado era alguém correto? Você colocaria a mão no fogo por ele. — Nego e caímos na risada.

— Tia, a senhora vai no baile também? Tainá pergunta é ela só nega com o dedo, enquanto costura alguma coisa.

— Amanhã, você e a Silvinha vão pegar um bronze na minha laje. Mas chega cedo, porque tem um monte de mulher querendo fazer marquinha e dá banho de lua nos pelos.

Converso mais um pouco com ela, que tem que ir embora. Já que tem meninas agendada pra hoje.

— A Claudia, uma arrogante, tá  marcada pra daqui a pouco. Revira os olhos. — E ainda vou descer pra comprar uma roupa bem bonita pra amanhã.

—Você não parece gostar muito dessa cliente. —  vejo na cara dela.

—Ela é uma das mulheres do Xeique, se acha e olha que ele nunca assumiu nem ela ou qualquer outra. —  Mas todas as vezes que ela encontra a Jennifer, as duas saem nos tapas. Por isso, ela marcou hoje.

—Nossa, esse homem tem o que? Mel? — Quando vê assim, nem é tudo isso.

—  Eu amo meu preto, mas o Xeique ele é muito bonito. Poderoso e... — Ela faz sinal de dinheiro com os dedos. — Se você tiver a oportunidade, só senta amiga. Fala e gargalha. Minha tia faz o mesmo.

—Glorinha não é disso não. Ela é quietinha. Né minha filha? Tia Telma diz.

— Só falta dizer que você é virgem. — Como não nego, ela arregalaos olhos. —NÃO! —  Dá um  grito. 

— Tia, me ajuda aqui. — falo sorrindo. Minha tia balança a cabeça sorrindo.

— Nem eu acredito, as vezes. — Minha tia diz sem erguer olhos da costura.

—Você é virgem? Sério mesmo? Aos 23 anos? Você tem algum problema? Se você vendesse, daria uma grana, sabe disso, né?

—Gente, parem de falar da minha virgindade assim, parece que sou a única com essa idade sem ter transado. Credo.

—Ahhh meu Deus. Você é virgem mesmo? Tem homem com pau em Goiás, não? Né possível. — Ela me olha como se eu fosse um et. — Mas você realmente é a única a ser virgem nessa idade. Vou te mandar pro livro dos recordes. “Buceta mais velha da história, ainda inativa”. — Ela faz sinal com as mãos, como se fosse uma faixa

Sem Saída: Crime Organizado Onde histórias criam vida. Descubra agora