7 - Vem Claudinha

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Xeique

Estou deitado e sinto a goiana sair da cama. Ela vai para o banheiro. E acha que eu estou dormindo.

Delicada igual um elefante, me acordou na primeira mexida dela ao meu lado.

A gente que vive no crime, nunca dorme profundamente. É sempre em alerta. Dormiu demais, perde a vida.

Ela sai do banheiro, toda vestida e fico olhando. Sua saia é curta demais, ou coxas perfeitas demais? Talvez as duas coisas?

Meu celular toca. É o Bodão. Pra me ligar, sabendo que estou com alguém, é porque tem problema vindo aí.

— Desenrola bode.

Pegamos um cara do Sancho no asfalto já, tinha saído daqui.

— Desgraçado. Tô indo. — Me levanto num pulo. Saio me vestindo e só tenho tempo de avisar que volto e pra ela ficar aqui.

Não sei o que o Sanches tá querendo aprontar, mas é melhor colocar o morro em alerta.

Pego uma das minhas motos e já na barreira, aviso que ninguém sobe e ninguém desce.

— A mulher, ela vai querer ir embora. Não deixa ir. Mas não é pra segurar a força, só se ela insistir. Use a consciência, acho que vai funcionar com ela.

— Entendido chefe.

Levo três dos moleques que estão lá, e deixo os mais experientes, e desço para o nosso berçário.

Apelido que dei para onde levamos as visitas ilustres do meu morro.

Quando chego, Bode, Gordo e Sorte já estão lá. E me contam que os seguranças da saída, viram ele e desconfiaram.

— Só estava ele? Ou tinha mais alguém?

—Eram três. — Gordo responde.

— Cadê os outros? — Pergunto, entrando no barraco.

— Na vala. Tentaram sacar a arma e passaram fogo neles.

— Certo. Vamos ver se o que esse acha da sessão de terapia do pessoal da Maré.

O cara está borrando, só de entrarmos no quartinho. Começa a falar em espanhol e eu cruzo os braços e nego com a cabeça.

— Português. — Ele continua em espanhol e tiro a arma e dou um tiro no pé dele.

Ele grita alto, e o sangue começa a escorrer pelo tênis — Tá bom, tá bom, Português. — Ele está amarrado e ficade debatendo.

— O que o Sanches está querendo aprontar?

— Não sei do Sancho. Não com ele.

Começo sequências de socos e chutes. — Vou te bater até não sobrar um osso inteiro. Cada resposta errada, te dou um murro.Ou melhor,  tive uma ideia. — Falo,  olhando seu rosto já ensanguentado.

— Gordo, trás o Renato. Ele quer ser importante aqui dentro, vai começar a aprender.

Logo o garoto aparece, pálido e suando. — Tomou café da manhã não, porra?

— Tô bem. — Ele está visivelmente nervoso.

— Hoje você vai aprender a como tirar a verdade de alguém. Ele balança a cabeça efusivamente.

— Pega isso aqui. — Dou uma tábua, com vários pregos na ponta.

— Vou perguntar e você bate a cada vez que ele mentir.

— Como vou saber que ele mentiu? — A voz do moleque sai trêmula.

— Eu vou dizer que é mentira. Com o tempo, você aprenderá.

Sem Saída: Crime Organizado Onde histórias criam vida. Descubra agora