13 - O que somos?

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Glória

Mais tarde voltamos para a sala, e ele se senta, me colocando em seu colo.

Minha tia parecia mais tranquila. — Quando podemos voltar, Xeique?

—Amanhã mesmo. As coisas estão tranquila por lá. Demorei a vir, pra despistar alguém.

—Tenho minhas coisas no Rio, mas acho que vou embora. — Silvia vem para perto da mãe.

— Sério, mãe, esse papo de novo?

— Dona Telma, é uma pena. A ideia é tornar a Maré um lugar de paz, mas se esse é seu desejo, então faça. Mas eu não sei se seus filhos vão.

— Como assim? — Minha tia parece desesperada.

—O Renato não está num estágio, igual ao menor aprendiz, ele tem responsabilidades dentro da facção. Eu posso até libera-lo se essa for a vontade dele, ele não está a par de tudo, mas se ele continuar, cada vez mais ele se afunda.

—São meus filhos, Xeique.

— Eles fazem as próprias escolhas. A Silvinha, a senhora deve saber, ela tem anos com o Bodão,  sair de lá, não é uma decisão minha. E talvez ele não seja tão compreensível em perder a mulher assim.

— E a Glória, bem, ela vai comigo, né? — Minha tia pergunta  cautelosa.

— Vai, mas depois eu vou até ela. Eu não abro mão da sua sobrinha. — Ele fala como tivéssemos conversado sobre o assunto. Me deixando apreensiva.

— É  isso que você quer, minha filha? Viver essa vida?

— Tia, a gente não conversou ain-

Sou interrompida por ele. —Achei que já estivesse claro pra você. Ele diz me olhando sério.

— Mas a gente não conversou. — Falo incrédula com a praticidade dele pra decidir as coisas.

— Eu te disse, Glória. Que você iria para sua casa, por enquanto. Nossa situação estava implícita no contexto. — Olho para a minha prima, que está se segurando para não rir.

— Eu quero conversar com a minha tia, depois. Tudo bem. — ele confirma com um aceno.

— Eu preciso fazer umas ligações, depois nos falamos. — Ele me dá um beijo e se levanta.

— Fudeu,  prima. —Silvinha corre para se sentar ao meu lado. — Lembra que eu te disse que  nem todos aceitam bem um termino?

— Sim, mas que termino? Nós só ficamos, isso não deveria ser considerado uma relação.  Ele não disse que era isso, em nenhum momento .

Ela olha na direção em que ele saiu, pra certificar que ele não estava por perto. —Ele parece ser do tipo. — Ela se aproxima mais e cochicha.  — possessivo.

— Tia, como faço? — Ignoro a conversa da Silvia e olho minha tia, que é mais experiente.

—É isso filha. Ele não parece ter a intenção de te deixar.

— Mas tia. — Me aproximo dela. — E se eu não quiser, digo. Continuar com ele, será que ele vai aceitar?

—Nesse tempo todo em que eu estive morando na Maré, nunca vi o Xeique assumindo ninguém, ele nunca fica lá muito tempo. Ele viaja e quem toma conta mesmo é o Bodão. — Fala olhando para a filha. — Não sei como ele age. Você sabe, Silvia?

— Mãe, a Glória é a primeira mulher que eu vejo o Xeique beijar, nem as mulheres que a gente sabia que ele tinha espalhadas pelo morro, ele as tocava de forma íntima em público.

Sem Saída: Crime Organizado Onde histórias criam vida. Descubra agora