54 - O grande dia

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Glória

O Tales saiu pra resolver as coisas do morro e eu sabia que ele iria voltar com o humor carregado.

Eu não sou ingênua e tinha certeza que provavelmente o Maguila morreria, e talvez aconteça o mesmo com o garoto que me levou na moto. E isso me angústia.

Mesmo que eu sempre tentasse mostrar que não se pode tirar a vida de uma pessoa, quando o conheci, ele já vivia nesse mundo bruto e violento.

Meu futuro marido sempre viveu num mundo bem diferente do meu. Onde confiar pode custar sua vida.

Eu não sei o que é viver na prática a lei do "olho por olho, dente por dente". Onde tudo que se faz tem uma consequência física dolorosa.

Quando o soldado dele decidiu me bater, ou achava que eu não tinha tanta importância para o chefe, e ele não reagiria tão mal a agressão ou simplesmente decidiu jogar com a sorte e teve um alto preço por sua decisão.

Ele sempre disse que matar não era uma tarefa fácil, mas se tornou necessária para que todo o jogo de poder se mantivesse em equilíbrio.

Ele tem ponderado muito mais, desde que começamos a nos relacionar, e situações que antes ele não pensaria duas vezes em matar a pessoa, ele tem aplicado um castigo que não seja a morte.

Espero que durante nossa vida juntos, eu possa sempre influenciar para que ele deixe de agir de forma tão letal e veja a situação por outros ângulos, e sempre que possível, enxergar que uma vida vale ser preservada.

Assim que percebo sua presença na casa, ele está sentado, me observando e vejo em seus olhos, uma tempestade de sentimentos.

Hoje ele precisa de mim. Do meu cuidado, do meu amor. Não vou cobrar por suas atitudes. Ele sabe que cada morte pesa em sua consciência e não quero reafirmar isso.

Saio da piscina e vou rápido em sua direção. Ele me olha e consigo tirar um breve sorriso dele.

- Oi amor, que bom que voltou. - Falo me jogando em seu colo.

- Sempre voltarei por vocês. - Ele coloca a mão sobre minha barriga. - Mas tem como não ficar correndo e se arriscando a cair?

- Ah, para né. Você não vai ficar controlando até meu jeito de andar ou vai? Eu só estou grávida, e não doente. - Beijo seus lábios suavemente.

- Só não quero que se machuque. Esta tudo molhado. - Ele me abraça e me ajeita em seu colo.

No fundo, eu gosto do cuidado dele comigo. - Quer comer alguma coisa? Beber algo? - Ele nega.

- Não. Só fica aqui, comigo. - Ele me aperta em seus braços, eu fico fazendo carinho em seus cabelos.

Mais tarde, as meninas já tinham ido embora, todos tinham se recolhido. E ficamos só nós dois, jogados num sofá. Com o som ligado.

- É amanhã. Está preparada pra uma vida comigo? Onde nem sempre será fácil?

- Está me dando uma escolha? - Pergunto sorrindo.

- Jamais, só te lembrando, para se preparar, que nem sempre será bom. - Ele pisca e sorri.

- Não tenho a intenção de ir, jamais. Tentei uma vez e falhei miseravelmente.

- Desde que me interessei por você, te beijei, e depois da nossa primeira vez, nunca houve da minha parte, a intenção de te dar alternativas.

- Como tinha tanta certeza que eu seria sua?

- Sou um homem obstinado. Eu munca pensei de te deixar ir. Você já era minha desde sua primeira vez comigo.

-Como assim? Eu tive medo de ficar com você, por saber quem era, mas eu achava que você jamais iria querer algo comigo, além do sexo.

Sem Saída: Crime Organizado Onde histórias criam vida. Descubra agora