35 - Fundo do poço

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Glória

Desde que descobri que esperava um bebê e nem tive a chance de sonhar com ele, porque ele me foi tirado de forma bruta. Alguma coisa se quebrou dentro de mim.

Eu sai da minha cidade, da minha vida pacata para conhecer outro lugar e desde então, fui engolida por um mundo selvagem, bruto e que o levou de mim.

Só quero recomeçar e não será com ele que terei êxito. Preciso me afastar, ele tem que me deixar ir. Dói, porque além de perder nosso filho, tenho que abrir mão dele, do meu amor.

Achei que conseguiria, mas me acovardei, talvez eu realmente não tenha forças o suficiente para aguentar uma outra situação como essa.  Hoje foi o Sancho,  e depois? É uma vida arriscada, cheia de incertezas,  vai doer, mas eu vou tira-lo da minha vida.

A Tainá chega, está arrasada, mas o Sorte não deu opção. Ela a quer com ele, e ela veio,  já que não tem o que a prenda ano Rio de Janeiro. Eles se amam, e ele encontrará um jeito de fazê-la se sentir melhor.

— Não tem medo de estar sendo precipitada? Você está muito fragilizada.

— Estou arrasada, mas não consigo mais, sou covarde,  fraca, isso tudo foi demais pra mim. — Soluço no colo da minha amiga.

Ela está sofrendo também, é uma mudança drástica, mas como ela mesma disse, que ama o homem e não a vida que ele leva, por isso, resolveu segui-lo. Sabia que não seis feliz longe dele.

— Você acha que conseguirá ser feliz longe do Xeique?

— Eu preciso aprender a viver sem ele. Eu sei que não será fácil.

Me despeço dela, com a promessa de mais adiante voltar para visita-la junto com a Silvinha, para relembrarmos nossos dias felizes.

A viagem é torturante. Ele me encara o tempo todo, e não consigo sustentar seu olhar. Tenho vontade de me jogar em seus braços, mas não tenho coragem. Preciso seguir adiante.

Assim que estamos pousando, resolvo abordar o assunto e falar que quero terminar e preciso que ele me prometa deixar que eu siga meu caminho.

Posso sentir através de suas feições, que não está sendo fácil pra ele. O Tales é muito orgulhoso e se despiu desse orgulhoso, admitindo que me ama. Não foi fácil, era uma parte dele, nunca antes, exposta. Segundo ele, fui a única mulher a chegar em seu coração.

Quando chegamos ao hospital, minha mãe fica horrorizada com a minha aparência. Ela quer saber o que tenho e peço para me dar alguns minutos e vou explicar.

Vejo ele indo em direção a saída, instintivamente toco no colar. Preciso devolver, sei que custou muito dinheiro. — Teles,  espere.

Ele está de costas e permanece assim. Retiro o colar e estendo a mão para ele. Mas o que mais me dói foi a forma que ele falou comigo.

— Xeique, me chame de Xeique. — Foi uma pancada ouvi-lo pedir para que eu o chamasse pelo apelido. Desde a nossa primeira vez, ele pedia para eu chama-lo de Tales, e sempre que o chamava pelo apelido,  ele me corrigia.

Peço desculpas e pronuncio Xeique,  mas soa tão distante, como se não tivéssemos mais nenhuma intimidade. Talvez seja melhor assim. Cortando todos os laços, sofreremos tudo de uma vez e depois seguimos ainda, menos carregados. Mas o que eu não sabia, era que aquela atitude foi o início do meu precipício.

Ele pega o colar e o segundo golpe é dado, abre uma lixeira e joga a joia dentro, sem me olhar nos olhos. Fico vendo suas costas, até ele sumir, tenho vontade de correr atrás, mas cravo meus pés no chão, me mantendo no lugar.

Sem Saída: Crime Organizado Onde histórias criam vida. Descubra agora