12 - E agora Glorinha?

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Glória

Enquanto desço na garupa da moto, tenho a sensação de que não o verei mais tão cedo. Chego na casa da tia e em todo o percurso, as ruas parecem mais vazias.

—Glorinha, minha filha, onde você estava? — A Silvinha faz sinal de degola com a mão no pescoço.

—Tia, chega de mentir para você. Eu estava com o Xeique. Dormi com ele. Os dias em que eu dormir fora de casa, era pra casa dele que eu ia.

Ela se aproxima com a mão no peito. — Não, Glória, minha filha. Você está me dizendo que está se envolvendo com o Xeique?

— Sim, e foi desde o primeiro baile que eu fui. A gente até,  já... — O Renato tá perto e eu fico sem graça de continuar.

— Nem precisa continuar. Se dormiu lá, não foi jogando xadrez que passaram a noite, né? Você tem ideia com quem se envolveu?

—Tenho, mas é algo passageiro. Não vai ser mais que três meses. Já conversamos sobre isso.

Meus primos ficam só olhando nossa conversa. — Quem te garante que seja só isso.  E se ele não aceitar terminar esse acordo no final dos três meses? E se você engravidar? — Ela fala e me lembro de tomar a pílula que está em meu bolso.

— Espero que as histórias suas com o Bodão sejam só fofoca de vizinhos. — Tia Telma se vira para a Silvinha. — Ela olha arregalado para a mãe. — Silvia,  não é possível?  Você também?

— A senhora já me viu junto com o Bodão, mãe? Ou ele me atormentado aqui na porta? Já peguei, mas não pego mais.

—A Silvinha, vamos parar de mentir. — Renato corta a irmã. —Todos aqui, menos a senhora tem um pé  na criminalidade. Seja atuando ou ficando com criminoso.

Minha tia está em silêncio e eu esqueço e coloco o cabelo atrás da orelha. — Que machucado é esse?

— Merda. Nada demais. Acabei escorregando no baile e bato o rosto sem querer. — Olho do Renato para Silvia e eles se mantém em silêncio.

—Tem mais alguma coisa que eu precise saber. Depois eu converso com vocês duas, meninas.

—Tem sim, mãe. O morro tá em alerta e o Xeique quer que a gente saia. E tem que ser rápido. Eu vou com vocês.

—Pelo menos uma notícia boa. Mas ir para onde? Não tenho ninguém aqui no Rio, fora do morro.

— Ele me entregou esse dinheiro. — Colondeo, grande pacote em cima da mesa.

— Meu pai amado, você já está tendo acesso ao dinheiro dele?

— Não tia. Ele me explicou antes do Renato me pegar. É pra gente ficar num hotel até segunda ordem. Silvinha, e a Tainá?

— O Sorte já deve ter levado ela daqui. Ele cuida bem dela.

— Vamos logo gente. — Renato nos tira da inércia. E pegamos poucas coisas, colocamos cada um em uma mochila e saímos morro abaixo.

Conseguimos passar pela forte barreira de homens armados. Provavelmente,  já tinham sido avisados. Assim que chegamos nas ruas, pedimos um carro de aplicativo e logo estamos fora da região.

— Para onde vamos? — Pergunto a tia, num cochicho.

— Para onde,  Renato? Você deve ter uma ordem do seu patrão, né?

—Vamos para Campos. Ordem dele.

—Campos dos Goytacazes? Porque tão longe? O que vamos fazer lá, e meu emprego?

Sem Saída: Crime Organizado Onde histórias criam vida. Descubra agora