10

341 16 8
                                    

Durante a semana os encontros furtivos com Jean passaram a ser frequentes na biblioteca ou na casa dele, seria assim até que Gillian conversasse com os seus pais, que iria acontecer naquela mesma tarde.

Ao sair do quarto Gillian encontrou sua mãe distraída com o almoço, caminhou na ponta dos pés para que ela não percebesse a sua chegada, circulou os braços em torno de sua cintura a beijando no rosto, fazendo a mulher sobressaltar a dizer:

_ Quer me matar do coração menino?

_ Imagina, a senhora vai viver bem mais que eu.

_ Nem brinca com isso Gillian, seu pai acabou de ligar, já saíram de lá, daqui a pouco estão chegando.

Não demorou para que o seu pai, sua madrasta e seus irmãos chegassem, e depois de conversarem alguns assuntos aleatórios, sua mãe os convidou para almoçarem, a algazarra das crianças chamava a atenção causando risadas em todos, mas depois do almoço seu pai chamou as crianças:

_ Crianças, agora os adultos irão ter uma conversa, vão lá para o quarto do Gillian jogar videogame.

As crianças saem correndo para o quarto do irmão, e seu pai vira para o rapaz:

_ E ai garoto, vamos ter a conversa séria agora, já estou ficando curioso.

_ Seu pai sempre foi ansioso filho, mas confesso que também estou curiosa, acredita que ele não soltou uma palavrinha sem que tivéssemos nós dois juntos Alberto?

Eles se encaminharam a sala sentando-se nos sofás, Gillian sentou-se ao lado de sua mãe, e no sofá que ficava a frente sentaram Gláucia e seu pai:

_ Pai... Mãe, eu estou apaixonado.

_ Não me vai dizer que vai ser pai né filho, é muito novo para isso.

_ Que ideia é essa Alberto, o Gillian só tem 16 anos.

_ Não é nada disso, eu não vou ter nenhum filho, e não estou namorando uma menina.

A troca de olhar de seus pais foi revelador por mais que eles se mantivessem em silêncio por um longo momento, depois com um tom mais baixo que de costume sua mãe perguntou:

_ Gillian, você não está namorando uma menina, o que isso quer dizer?

_ Que eu estou namorando um menino.

_ Foi por um homem que o meu filho se apaixonou? _ É isso mesmo que eu estou ouvindo?

No esforço de se manter calmo diante da indignação que percebia nos traços faciais de seu pai, diante de um olhar de repulsa Gillian o questionou:

_ Sim pai, é exatamente isso o que está ouvindo, algum problema?

_ Você ainda pergunta se tem algum problema, Gillian isso não está certo, um homem não pode se apaixonar por outro homem, isso é errado.

O duro olhar firmado agora em sua mãe, Gillian perguntava:

_ E a senhora, pensa do mesmo jeito?

_ Gillian!

_ Não diga nada, estou vendo que é tão homofobia como ele.

_ Não tem nada a ver com homofobia Gillian, eu não saio espancando pessoas assim, nem saio matando, mas você é meu filho, e eu não aceito, isso é imoral.

_ Justamente o senhor quer falar sobre imoralidade pai, o senhor que traiu a minha mãe, que engravidou a Gláucia ainda estando casado?

Gláucia que se mantinha calada baixou a cabeça envergonhada:

_ Gillian, pare já com isso, eu não te ensinei a atacar as pessoas sem elas merecerem, mesmo que discorde de seu pai respeite a Gláucia que não te fez nada. Agora vamos voltar a sentar e conversar como pessoas civilizadas.

_ Não tem conversa Solange, eu prefiro meu filho morto a vê-lo a namorar um rapaz.

_ Olha aqui Alberto, nunca mais diga isso, o Gillian está confuso é certo, mas jamais deseje a morte a seu filho.

_ Eu não estou confuso mãe, eu estou apaixonado.

_ Para de falar besteira Gillian, não está vendo que o clima já está pesado, não piora as coisas.

_ E eu que acreditei que a minha felicidade era o mais importante para vocês, o Jean me faz feliz, vocês não imagina como me senti ao fazer amor com ele.

_ Cala a boca Gillian.

Solange alterou o tom de sua voz, o choro a romper:

_Claro que a sua felicidade é o que mais importa, é tudo o que importa, e é por isso que nós, seu pai e eu...

_ São dois preconceituosos, sinto muito minha mãe, meu pai, mas é a minha escolha, são os meus sentimentos.

_ Eu te proíbo Gillian.

_ Me proíbe?

_ Chega, chegaaaa, vocês dois querem me enlouquecer.

Com os gritos, as crianças deixaram o quarto e estavam todas encolhidas nos braços de Gláucia que tentavam acalmá-las:

_ Quando foi que eu te ensinei a gritar com os mais velhos Gillian, não é com gritos que se resolvem as coisas. Não vamos falar palavras que vamos nos arrepender depois, vamos sentar e resolver isso como adulto.

Gillian balançava a cabeça em negação, seu pai segurava a cabeça com ambas as mãos:

_ Eu não vou mudar o que eu disse Gillian, prefiro ver você em um caixão a ver o meu filho agarrado a outro rapaz.

_ Se é assim, o senhor não tem mais nada a fazer aqui.

_Quando eu me separei da sua mãe, eu pedi para ela me deixar te criar, ela não me permitiu e parece que eu estava adivinhando um filho homem ser criado somente por uma mulher dá nisso.

_ Você está me culpando Alberto?

_ Culpa minha que não é Solange, você criou o Gillian com todas as liberdades, se ele fosse criado por mim seria diferente.

_ É inacreditável isso, quando eu acerto sou uma boa mãe, mas quando as coisas saem do controle, sou o que uma mãe ruim?

Magoado Gillian permanecia em silêncio, vez ou outra balançava a cabeça em negação enquanto seus pais discutiam sobre quem havia errado em sua criação, e quando os argumentos de ambos acabaram Alberto exaltou a voz:

_ Acabou, vamos Gláucia, pegue as crianças e vamos embora, o Gillian sabe onde me encontrar quando cair em si do erro que está cometendo.

Eles foram embora sem mesmo se despedi:

_ Vá para o seu quarto Gillian, eu preciso digerir isso, amanhã voltaremos a falar sobre esse assunto.

Sem dizer mais nada, nem mesmo olhar para sua mãe, Gillian se trancou no quarto e não saiu de lá até o dia amanhecer.

Meu ex - O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora