15

296 15 6
                                    

Solange estava à espera de Gillian, e ainda que sua expressão fosse amena, assim que a porta se abriu ela esperou que ele sentasse, mas não demorou em repreendê-lo:

_ Gillian não é certo ficar até tarde na casa do seu namorado filho, os pais dele pode não gostar.

_ Terminamos uma parte da pesquisa e a dona Fabíola não deixou que eu saísse de lá sem comer alguma coisa e também fiquei conversando com o pai do Jean, por isso demorei mãe.

_ Que bom filho, que os pais do rapaz não se importam de que você esteja lá, mas mesmo assim procura dosar o horário. E sobre o que é essa pesquisa?

_ Sobre pessoas que morrem por causa da homo fobia. O Michael e eu teremos que palestrar para todas as salas.

_ Você e o Michael?

_ É como forma de punição.

_ Que punição Gillian?

_ O idiota do Michael mãe, ele e uns caras lá da escola cercaram o Jean e começaram a dizer umas coisas a ele, e eu fui para cima, fomos parar na diretoria ai como castigo temos que fazer uma apresentação.

_ Gillian, não quero você brigando na escola ou em qualquer outro lugar ouviu.

_ Não vou brigar mãe, mas também não vou fechar os olhos e ver esses caras babacas falando asneiras para o Jean e fingir que nada está acontecendo.

_ Você tem o gênio do seu pai, só lembre que violência não resolve as coisas. Toma cuidado filho.

_ Não se preocupe mãe, eu sei me cuidar. Falando nisso mãe, eu posso trazer o Jean amanhã aqui para terminar a pesquisa, assim a senhora aproveita para conhecer ele.

Ela assentiu convicta de qual era a verdadeira intenção de Gillian:

_ Ai você mata dois coelhos em uma cajadada só né, aproveita que tem essa pesquisa e trás ele aqui para me conhecer. Na verdade eu estava pensando em fazer um almoço para conhecê-lo assim como os pais dele, se vão fazer parte da sua vida nada mais justo que eu os conheça também.

_ Amanhã a senhora conhece o Jean e final de semana os pais dele pode vir aqui.

_ Sabichão, vê com ele se ele gosta de strogonoffe?

Com essa resposta Gillian a abraçou a atacando com vários beijos em seu rosto:

_ E seu pai Gillian, acha que devemos convidar?

Ele a soltou, e deu dois passos atrás, fez uma careta e por fim se pronunciou:

_ Lógico que eu queria o meu pai aqui mãe, mas ele tem um pensamento tacanho e não deseja estar, eu amo o meu pai por mais que as palavras que ele disse me magoaram, eu também disse palavras que não deveria ter dito, mas se mesmo assim quiser tentar convidar, eu não vou expulsar ele da minha vida se ele quiser participar.

_ Eu não gosto de ver você brigado com o seu pai Gillian.

_ Diga isso a ele.

Apressado ele beijou sua mãe antes que ela prolongasse o discurso e foi para o quarto para ligar para Jean, a conversa mesclava entre vários assuntos, incluindo a pergunta de Solange:

_ Eu conversei com a minha mãe, sobre você vir aqui amanhã e ela mandou perguntar se você gosta de strogonoffe?

_Gosto.

_E depois vamos marcar um final de semana para juntar as duas famílias.

_ Eu confesso que estou com um pouco de medo, mas por você eu enfrento uma arena cheia de leões.

Demoraram em desligar o celular e Gillian sentia que tinha tanto a dizer ainda.

Assim que desligou, deixou o peso do corpo cair sobre o colchão, demorou em adormecer, pois sentia um leve formigamento em sua perna, um tremor involuntário fazia com que leves espasmos o incomodasse, mas no dia seguinte parecia que nada tinha acontecido, sentia-se normal, e isso não o preocupou, atribuiu o fato aos treinos puxados.

Como já sabia o que sua mãe diria se soubesse nem chegou a comentar com ela, tomou um banho se arrumou e mesmo sem vontade de comer, acabou dando duas mordidas no sanduíche que sua mãe havia preparado e um gole no café, ela andava reclamando da falta de apetite que ele andava sentindo. Não queria a ouvir falar logo cedo, não naquele dia em que traria Jean a primeira vez para conhecê-la.

Despediu-se de sua mãe com um beijo e se conduziu a casa de Jean.

Após buscar Jean os dois foram para escola e Michael os esperava no portão, quando os avistou cabisbaixo se aproximou:

_ Gillian, Jean... Eu posso falar com vocês?

_ Se for para falar besteiras não.

_ Calma Gillian, eu fui mesmo um idiota, Jean foi mau o que eu fiz com você, eu comecei a pesquisa que o diretor pediu que fizéssemos, e olhei alguns depoimentos e eu não quero ser um algoz, eu estava agindo muito mal, e quero me desculpar com vocês dois.

_ Por mim está tudo certo Michael, sem ressentimento.

_ Se é assim por mim também está esquecido Michael, que bom que a pesquisa te ajudou a ver que estava trilhando um caminho errado, tudo o que queremos é ser feliz, o Jean e eu não queremos provocar ninguém com o que sentimos um pelo outro, só queremos respeito.

_ Eu prometo conversar com os caras para eles pararem com os termos pejorativos, não posso responder por eles se eles vão parar, mas da minha parte quero deixar claro que não falarei mais nada.

Os três entraram na escola conversando sobre a pesquisa discutindo alguns pontos, e em concordância resolveram falar com o professor para abrir essa palestra para toda a comunidade, afinal aquele era um assunto que todos deveriam escutar.
Quem sabe assim, cada um fazendo o mínimo traria conscientização e menos jovens sofreria.

Eles até desejavam falar com mais alunos para engajar nesse projeto se o diretor os permitisse preparar alguns panfletos para divulgar o evento.

Quando falou a ideia ao professor ele os elogiou pelo projeto e os incentivou a seguir com o andamento do trabalho:

_ Parabéns pela iniciativa, levarei a ideia de vocês a direção, e darei todo o respaldo nesse projeto. Pode parecer algo pequeno o que planejam fazer, mas vocês não têm noção de quantos jovens ajudará ao explicar a importância de se respeitar as diferenças, qualquer forma de discriminação é errado, e alguns jovens começam a sofrer homo fobia dentro de seus próprios lares, alguns chegam até o suicídio por represarias que sofrem por pessoas próximas.

_ É inadmissível saber que em pleno 2022 as pessoas ainda tenha o pensamento tão arcaico que fecha os olhos diante de tanta brutalidade, antigamente as pessoas se reprimiam e se escondiam em casamentos fracassados, mas hoje isso não é mais aceitável que jovens vivam isso.

_ Você tem razão Gillian, muitos jovens ainda tem tanto medo de confessar aos seus pais sobre sua orientação que escondem com medo da reação, com medo de serem colocados para fora de casa, entre outros motivos. Por isso que essa mobilização que vocês estão fazendo vai abrir um leque, e vai fazer com que muitos tenham um pouco de conhecimento e esclarecimento para ajudar seus filhos e os filhos ajudarem a seus pais. Novamente eu os parabenizo aos três.

Gillian assentiu a sorrir a Michael, levando as costas da mão de Jean aos lábios

Meu ex - O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora