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Gillian saiu do quarto esfregando os olhinhos, bocejou batendo a mãozinha várias vezes na boca, caminhando até Jean o abraçando:

_ Papai eu quero mais um pão daquele que o tio Beto fez.

De súbito estupefato Jean lançou um olhar a seus pais que se entreolharam:

_ Beto? _ Quem é Beto?

_ É um rapaz que conhecemos lá na casa da Stephanny, ele serviu um sanduíche ao Gillian. Acho que ele pensa que foi ele quem fez.

_ Ah deve ser o Beto irmão do ex treinador.

_ Isso, ele é o irmão do professor Julio.

_ Um bom rapaz ele.

_ Me pareceu mesmo mãe, o Gillian gostou muito dele.

Ele pegou o garotinho no colo colocando-o sentado na cadeirinha dizendo:

_ O papai vai preparar um sanduíche para você.

Jean conseguiu despistar daquela conversa e seus pais nem desconfiara do que Gillian havia acabado de falar, deveria ter mais cuidado, mas como dizer a uma criança de 5 anos o que deveria ou não dizer, ele agira na inocência, mas como explicaria aos seus pais que havia dormido com Beto que havia acabado de conhecer?

Tentou reproduzir o sanduíche que Beto havia feito, com pão de forma, maionese, queijo e presunto, mas não tinha cheiro verde na geladeira então não preparou o molho, ainda assim Gillian não reclamou.

Um pouco mais tarde daquele mesmo dia, Jean deixou Gillian aos cuidados de Amélia e de seus pais, ele precisava ir à cidade comprar algumas coisas, pois depois da entrevista com o diretor do hospital não teria tempo para ir às compras. Aproveitou também o tempo livre para passar no cemitério levar flores ao túmulo do Gillian:

_ Oi Gillian... Eu pensei se deveria vir aqui hoje ou não, depois do que aconteceu, eu só queria te esclarecer que eu ainda te amo, mas não posso mentir para você, eu dormi com o Beto, e tem horas que penso que não fiz mal a ninguém, que era isso o que você iria querer que eu fizesse, mas... Uma confusão de repente me toma e acho que estou te traindo, traindo o que significou para mim tudo o que vivemos.

Jean puxou o ar demoradamente:

_ Eu só queria um sinal Gillian, de que você está bem com isso.

Não podia ser mais desanimador o silêncio que se seguiu, Jean permaneceu ali por mais algumas horas e depois seguiu o caminho de volta á sua casa, encontrou Gillian brincando com um carrinho remoto:

_ Oi meu amorzinho, papai chegou, quem foi que te deu esse carrinho?

_ Foi o tio Beto.

_ Onde você encontrou o Beto?

_ Lá na rua das lojas papai, quando eu fui lá com o vovô

_ Tá bem filho, fica brincando ai que eu irei falar com o seu avô.

Jean encontrou o pai sozinho no escritório, o rapaz bateu na porta despertando a atenção dele que sorriu amistosamente:

_ Posso entrar?

_ Entra aí filho.

_ O Gillian tá todo animado com um brinquedo novo, foi o senhor que deu a ele?

Jean sabia que não, mas para sondá-lo usou dessa artimanha:

_ Um carrinho remeto? _ Ah não, quem deu foi o Beto, eu levei o Gillian comigo na cidade para comprar umas coisas para sua mãe, e acabei me encontrando com ele por lá, foi o Gillian quem primeiro o avistou:

_ Ah é, e ele é seu amigo pai?

_ É sim, é uma boa pessoa, inclusive o convidei para o jantar, vocês tem praticamente a mesma idade, vai ser bom fazer amizade com ele.

_ O Gillian reconheceu ele foi?

_ Ele estava do outro lado da rua, eu nem mesmo tinha visto ele, e ele também não tinha nos visto, o Gillian o viu e gritou, "_Olha o tio Beto ali"

_ E o Beto não estranhou?

_ Ao contrário, o tratou como um filho, se eu não conhecesse os dois pensava se tratar de pai e filho, o Beto foi muito carinhoso com ele, brincaram, foram á sorveteria e mesmo eu reclamando fez questão de levar á loja de brinquedo e pediu que o Gillian escolhesse o que queria levar.

Ele apontou na direção a sala, indicando em um gesto mudo o que o menino havia escolhido:

_ Eu irei agradecê-lo á próxima vez que nos encontrarmos.

_ A oportunidade será amanhã, eu o convidei para o jantar.

_ Sim, a oportunidade perfeita.

O que supostamente tinha com Beto estava tomando uma proporção perigosa, mesmo na inocência Gillian hoje logo ao amanhecer, quase o desmascarou diante de seus pais e agora aquele encontro na cidade, Jean não se sentia pronto a dizer aos seus pais sobre o que acontecera na noite anterior, mas se eles descobrissem de alguma forma sem ser por ele, ficaria uma situação desconfortável.
Não era por desconfiança, confiava muito nos dois e até sabia que eles o incentivaria a levar esse "romance" em frente, mas algo dentro de Jean o impedia, o retraia.
Existia um combate de pensamento, que ocupava a sua mente de forma visceral entre entrar de cabeça naquela história, ou continuar nutrindo um luto interminável por Gillian. Haveria o momento em que ele deveria decidir.

Já em seu quarto, Jean contemplava o próprio reflexo no espelho, ele mordeu o canto do lábio inferior, impressionado como de uma hora para outra sua vida havia se encrencado tanto, nunca imaginou que ao retornar para sua cidade o levaria aquele conflito todo.
De um lado a sua história com Gillian, que era uma história cheia de intensidade, o noivado, a separação, a dor, a doença, e a morte que marcou tão profundamente a vida de Jean, por outro lado uma nova história vem nascendo, trazendo novidades, sentimentos que pareciam estar adormecidos em Jean e que se desperta com violência, a vontade de estar com Beto, a vontade de abraçar, de ficar agarradinho a alguém, isso tudo Gillian não mais poderá oferecer a ele, mas Beto poderia.

Ao mesmo tempo em que nascia um sentimento pujante por Beto, a culpa vinha à tona de forma veemente. Ceder a um desejo acumulado à anos seria o mesmo que cruzar uma linha divisória que Jean não sabia se poderia cruzar.

Os olhos dele se estreitaram... Era tarde demais?
Ele e Beto havia dormido juntos, feito amor e não tinha como retroceder, analisando toda aquela situação, Jean concluiu que só ele conseguiria responder aquela pergunta que o atormentava, era tarde demais?

Meu ex - O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora