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No final da noite, depois de colocar Gillian para dormir, Jean ficou voltou à sala e tateou o controle remoto em alguns canais, mas sem se interessar por nenhum acabou desligando a TV, ficou ali no escuro refletindo em tudo, estar novamente àquela cidade lhe trazia lembranças boas e agradáveis, assim como lhe trazia lembranças que lhe feria.

Sucumbido no próprio pensamento acabou adormecendo ali mesmo no sofá e despertou com sua mãe a lhe chamar:

_ Filho... Jean acorda, vai para o seu quarto assim vai amanhecer com o corpo todo dolorido.

_ Tá tudo bem mãe, foi só o cansaço da viagem.

Depois de beijar sua mãe, ele se conduziu ao quarto e ali adormeceu, amanheceu com uma visita já dentro de seu quarto, Stephanny conduzida por Gillian:

_ Papai, sua amiga está aqui.

_ Eu falei que poderia voltar outra hora, mas esse lindinho não me deixou ir. Como você está meu amigo, desculpa vir sem ser convidada, mas assim que soube que estava aqui, fiquei ansiosa para te rever.

_ Stephanny... Que bom que veio, obrigado filho, por ter trazido ela até aqui.

O garotinho sorriu e logo se afastou:

_ Nossa Jean como ele é fofo.

_ Ele é mesmo. Mas e você, eu soube que se casou com o Douglas, fiquei muito feliz quando soube, como vocês estão?

_ Estamos bem, que bom que você está por aqui justamente quando estamos grávidos.

_ Não acredito, você está grávida? _ Que alegria por vocês dois.

_ Até que demorou, estávamos primeiro nos estabelecendo sabe, não queríamos um filho antes do tempo. Que bom que você está aqui.

_ Muitas coisas acontecem em 10 anos, pessoas se mudam, outras chegam, filhos nascem, pessoas se casam, namoram... Morrem.

_ É verdade, perdemos o contato com a maioria dos nossos amigos da época da escola, alguns foram embora, outros trabalham direto, mas alguns permaneceram, tenho tanta coisa para te atualizar, lembra-se do Michael, ele virou o novo treinador do time de futebol da escola.

_ Achei que o professor Júlio nunca iria deixar o cargo, mesmo depois que se aposentasse.

_ Não Jean, infelizmente ele faleceu a dois anos,ele sofreu um infarto fulminante, quem mora agora naquele casarão é o irmão dele mais novo.

_ Poxa Stephanny, eu não sabia disso, que triste.

_ Que o Douglas não me escute, mas o irmão dele é um gato, moreno, alto, bonito e sensual.

_ Você é mesmo incorrigível Stephanny, olha que posso contar desse seu assanhamento para o seu marido.

_ Ele sabe que só tenho olhos para ele, mas não tem como negar que aquele homem é um pedaço de mau caminho.

_ E como é o nome do monumento em pessoa?

_ O nome dele é Humberto, mas todo mundo  chama ele de Beto.

_ Beto... Eu conheci um Beto ontem no cemitério.

_ Você foi ao cemitério ver o Gillian?

_ Sim.

_ Eu entendo, também sinto muita a falta dele.

_ Ele foi a primeira pessoa que fui ver quando cheguei, e também precisava mostrar o Gillian para nosso filho.

_ Jean, eu sei que o Gillian foi e sempre será muito importante na sua vida, mas você não acha que está na hora de acabar com esse luto infindável e recomeçar a sua vida?

_ Mas eu continuei a vida Stephanny, me formei, hoje sou médico, tenho o meu filho, o que mais define como recomeçar a vida?

_ Você sabe, não é nenhum garotinho ingênuo, encontrar um novo amor lhe fará bem amigo.

_ A impressão que eu tenho é que não voltei para a cidade onde morava, e sim para um site de relacionamento, onde todos querem que eu encontre alguém, Stephanny, entenda que ninguém irá substituir o Gillian na minha vida.

_ Ninguém falou em substituição Jean, o que você viveu com o Gillian foi uma história linda que jamais você esquecerá, mas acha mesmo que ele iria querer que você vivesse assim solitário?

_ De qualquer jeito não existe ninguém ta, então vamos parar com esse assunto.

_ Está certo Jean, mas se aparecer alguém, não fecha a porta, deixe-a pelo menos encostada para que o outro entre.

_ Vou pensar nisso caso alguém apareça, ta bom.

_ Hoje vou fazer um jantar em sua homenagem lá em casa, vou convidar alguns amigos para conversarmos um pouco o que acha?

_ Ah Stephanny não sei, eu nem sei mais os assuntos que o pessoal estão falando, acho que vou me sentir um peixe fora d'água no meio dos nossos amigos.

_ Ah não senhor, eu não vou permitir que fique em uma prisão domiciliar, sendo que poderá se divertir com o pessoal, vamos se arrume, arrume o pequeno Gill, e vamos lá para casa, ainda me lembro que você faz aquele suflê delicioso, não vai contrariar uma grávida não é?

_ Só você mesma pra me arrancar de casa, senhora mandona.

Ela o abraçou:

_ Você não imagina o quanto senti sua falta.

Sem respondê-la, Jean chamou o garotinho afirmando a ele:

_ A tia Stephanny quer que nos levar lá na casa dela, uns amigos do papai vai aparecer por lá, você quer ir?

_ Na casa da tia bonita, eu quero papai.

_ Oh meu Deus, que bonitinho.

_ Danadinho, sim na casa da tia bonita. Já que você quer ir, vai logo para o banheiro, vou te dar um banho.

_ Banho não papai, eu estou limpinho.

Jean fez uma careta ao cheirar o menino e brincou:

_ Sabe o que vai acontecer quando chegar perto das pessoas, elas irão se afastar por que o neném está com cheirinho de cachorro molhado.

_ Não estou não, não tenho cheiro de cachorro molhado papai.

Jean levantou o braço do garoto inalando o ar em sua áxila:

_ Vá já para o banho garotinho.

O menino saiu resmungando:

_ Eu não sou cachorro molhado.

Stephanny ria da cena:

_ Você é um excelente pai Jean, esse garotinho tem muita sorte em ter você na vida dele.

_ Eles crescem tão rápidos, nem percebemos o tempo passar, ele chegou na minha vida em um momento muito difícil Stephanny, eu estava sozinho lá nos EUA, não tinha ninguém, tudo o que queria era a morte, eu pensava demais no Gillian, de repente me veio a ideia de adotar uma criança, fui visitar um orfanato, e lá estava ele, consegui a guarda provisória, e hoje tenho a guarda definitiva, ele é oficialmente meu filho, e consequentemente filho do Gillian.

_ Por que escolheu ir para tão longe Jean, aqui estavam todas as pessoas que te ama e poderia ajudar você passar por essa barra?

_ Eu precisava encontrar uma maneira de fazer o Gill ter orgulho de mim, eu trabalhei duro para me formar, houve noite que pensei que não iria conseguir, estava longe dos meus pais, dos pais do Gillian, dos meus amigos, mas por ele eu tinha que ser forte, e aqui estou eu, médico neurologista.

_ Você já tratou alguém com o mesmo diagnóstico que o Gillian?

_ Alguns, e é sempre a mesma sensação de fragilidade e fracasso a medida que a doença avança.

A conversa foi interrompida com a chegada eufórica do garotinho, já tomado banho, arrumado e com os cabelos aprumados com gel para mantê-los no seu devido lugar:

_ Pronto papai, já estou arrumado, Amélia me arrumou.

Tanto Stephanny como Jean sorriam animados:

_ Amélia é a babá dele. Agora é o papai que vai tomar banho enquanto você como um devido cavalheiro fica fazendo sala a dama aqui presente.

_ Fazendo sala, como faz isso pai?

_ Fica aqui brincando com a tia Stephanny, mas cuidado ta, dentro da barriga dela tem um bebezinho igual a você.

Jean sorriu ao ouvir a pergunta de Gillian para Stephanny:

_ Tem um bebê dentro de você, e como ele vai sair?

Meu ex - O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora